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Braga Capital

Entre a vergonha e o medo

Braga Capital

Ideias

2018-11-13 às 06h00

João Marques João Marques

Bem sabemos que a força e dinâmica de uma cidade se mede tanto pela pujança da sua economia como pela sua capacidade de atrair e fixar população. É certo que estas duas características andam geralmente de mãos dadas, mas nem sempre é assim. Em muitos locais sabemos que a economia prospera, mas a qualidade de vida exaspera os que neles se vêm obrigados a viver. O equilíbrio cada vez mais difícil entre estas duas variáveis é o desafio maior dos autarcas do século XXI. Longe vai o tempo em que a população se dava por satisfeita por dispor de trabalho ou que, por outro lado, não se importava de prescindir do desenvolvimento em favor de uma maior qualidade de vida, é dizer, lazer, preocupações ambientais e tranquilidade. Hoje em dia queremos viver em polos de cultura, polos de saúde, polos económicos e polos sociais, se é que ainda faz sentido destrinçá-los.

Julgo ter sido a dificuldade em compreender essa mudança uma das razões centrais pelas quais, em 2013, pereceu o projeto caduco do Partido Socialista. Centrado no betão e nas obras públicas de “encher o olho”, o executivo liderado (quase) ininterruptamente por Mesquita Machado desligou-se dos anseios da população e viveu os seus últimos anos numa agonia desesperante, em que se tentava reinventar sem qualquer autenticidade. Viu-se essa tentativa na já longínqua “Capital Europeia da Juventude”, onde, repescando uma proposta da oposição (na altura liderada por Ricardo Rio), tentou embelezar a fadiga das décadas no poder. O resultado foi um ano de iniciativas com valor, mas desgarradas de um projeto de cidade que as fizesse incluir no quotidiano de Braga. Como se de um brinquedo se tratasse, a CEJ 2012 cumpriu os serviços mínimos e permitiu a alguns vereadores do PS ensaiarem uma tentativa de afastamento da matriz “betânica” dos camaradas mais velhos. A sagacidade política desse afastamento não encontrou correspondência na tal visão global e estruturada que se desejava para os anos que se seguissem a essa capital. Se houve quem se salvasse no meio da débacle do PS em 2013, o mesmo não se poderá dizer do programa, das ideias e das práticas que aí ficaram irremediavelmente para trás.

Quer se queira, quer não, os cidadãos estão mais exigentes e isso é um sinal positivo da vitalidade de uma cidade. Com a crescente atratividade que Braga demonstra junto da população mais jovem e mais preparada do país, sente-se um redobrado apetite por mais e melhores espaços de fruição e lazer. Os bracarenses, aqui nascidos ou radicados, preocupam-se com o tal projeto de vida, estruturado em torno do seu emprego, como é evidente, mas igualmente alicerçado num contexto de políticas públicas que incrementem a sua qualidade de vida e a das suas famílias. Já não chega o caduco (e nem sempre verdadeiro) “É bom viver em Braga”. É agora forçoso ser bom crescer em Braga.

Por essa mudança fundamental, parece-me de extrema importância que a Câmara Municipal esteja a tratar de dossiers simbólicos, mas marcantes, com outro cuidado, o tal que os executivos socialistas anteriores não puderam ou não souberam garantir. O caso das “Capitais” é um espelho dessa preocupação. Como é sabido, estamos prestes a terminar o ano em que Braga foi “Cidade Europeia do Desporto”. Não sendo um exclusivo da nossa urbe esta foi, não haja dúvidas, uma iniciativa de sucesso. O que importa destacar nem são as 500 ou mais iniciativas que decorreram, o que é verdadeiramente assinalável é o trabalho preparatório e a ideia de cidade que conduziu não só à atribuição desta “marca”, como ainda da distinção de melhor Cidade Europeia de Desporto em 2018.

Entre 19 cidades europeias, Braga foi a melhor. E isto só pode espantar quem não assistiu ao trabalho que foi sendo feito pelo pelouro do desporto nos últimos 5 anos. Só quem não tomou a devida nota da reativação de inúmeras infraestruturas desportivas do concelho, quem não notou as incontáveis iniciativas ocorridas, quem não reparou no regresso de provas míticas a Braga e quem não se cruzou, nas ruas, com os milhares de praticantes dos mais variados desportos é que pode ficar surpreendido.

Medidas tão simples, mas tão inspiradoras como o PULSAR (Programa de Atividade Física para Doentes Oncológicos), ou outras tão importantes quanto ecléticas, como a renovação e expansão do Parque da Rodovia são a face visível do esforço concertado de toda uma equipa e do apoio incessante de Ricardo Rio a uma visão de cidade moderna e exigente.
Agora que se anuncia a possibilidade de Braga poder vir a ser Capital Europeia da Cultura em 2027, valerá a pena continuar o caminho de construção da casa pela base e não pelo telhado, como infelizmente ocorreu em 2012. É crucial perceber que estas capitais são efémeras, consagrando circunstâncias transitórias, pelo que o que verdadeiramente importa é o que está antes e depois da sua breve passagem pelas nossas vidas, como o caso do desporto exemplarmente demonstrou.

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