Miguel Macedo
Ideias
2025-02-09 às 06h00
Desde que o imperador Augusto fundou a Bracara Augusta que a cidade sempre foi o centro de uma região no Noroeste da Península Ibérica.
A cidade de Braga tinha, à época, cinco ligações por estrada Romana: uma ao Porto e quatro a Astorga, passando por Chaves e Ponte de Lima. Se formos ao Largo de Santiago temos lá um marco que eterniza o local de onde partiam essas cinco vias romanas. Todas elas se encontravam num ponto estratégico em pleno centro da cidade romana.
Ao longo dos 2040 anos de história que a cidade tem, nunca perdeu a centralidade regional. Afinal é também aqui, neste vale entre a serra e o mar, que reside o Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas. Não é por acaso que este é o título e que aqui está o centro do poder eclesiástico.
Quando encontramos algum português no estrangeiro, seja ele de Vila Verde, de Amares, de Terras de Bouro ou de outra parte do Distrito de Braga, é muito comum responderem que são de Braga, sem pudor pela sua terra, mas porque Braga é o centro de uma região.
Atualmente a cidade de Braga não tem ligações adequadas em transporte público às restantes cidades e vilas da região. Braga tem apenas uma estação terminal que tem comboios diretos em direção ao Porto e a Lisboa, mas demora-se 1 hora a chegar ao Porto e 3h30 a chegar a Lisboa.
O centro de uma região precisa de ter várias ligações estratégicas aos concelhos vizinhos e a outras cidades da região. Precisa de ter mais e melhor infraestrutura ferroviária. Se as deixa de ter, corre o risco de se tornar desinteressante e de perder a centralidade.
A estratégia devia passar por reservar, no PDM, espaços canal por onde estas ligações ferroviárias viessem a passar no futuro.
Há já dezenas de anos que no PDM de Braga se mantém a previsão do percurso de uma variante a ligar a Póvoa de Lanhoso a Ferreiros, passando pelos parques industriais de Adaúfe e Pitancinhos. Porque não se prevê e salvaguarda, no PDM, espaço canal para ligar através de ferrovia a cidade de Braga a Guimarães, a Vila Verde, a Barcelos, a Esposende, a Ponte de Lima ou à Póvoa de Lanhoso?
A desculpa não pode ser que não há dinheiro para a ferrovia, que é muito caro, que demora muito tempo ou que não há projetos. Isto porque no PDM está prevista, há mais de 30 anos, uma variante que não saiu do papel, e esses argumentos poderiam ter sido todos usados para não prever a variante no PDM.
Porquê que as ligações ferroviárias centradas em Braga são importantes para manter a centralidade de Braga na região?
Braga é o único aglomerado no Minho com mais de 130 mil residentes. Não há no Minho, outro concelho que concentre, numa área pequena, tanta gente. Braga é o centro de uma região que tem o mar em Esposende e a montanha no Gerês, mas não permite às pessoas deslocarem-se nesta região recorrendo aos transportes públicos.
Em Braga estão muitos serviços, estão negócios, está muito comércio exclusivo na região, está a Universidade, a Inovação, a Juventude, o Hospital Regional e vai estar a estação de Alta Velocidade, que deverá ficar o mais próximo possível do centro da cidade. Não é por acaso que a maior parte dos concelhos vizinhos vem a Braga para ir às compras, que o IKEA escolheu Braga para colocar a sua loja, ou que os estudos de viabilidade económica fizeram com que o traçado do TGV passasse por Braga.
Olhar para Braga como o centro de uma região não significa que a maior parte das deslocações são feitas de e para Braga e que nada acontece dentro do Concelho. Os dados de deslocações que hoje existem são importantes para perceber que respostas temos de procurar, e que medidas são mais ou menos prioritárias.
São 19% o total das deslocações que entram ou saem do concelho diariamente. Haveria um grande impacto colateral nestas deslocações, se se apostasse na utilização de modos ativos e transportes públicos na zona urbana do concelho, visto que mais espaço estava livre e menos congestionamento aconteceria.
Muitos dos que habitam nos concelhos de Amares e Vila Verde, passaram a ter o desafio de entrar ou sair de Braga diariamente, esbarrando em Infias (cerca de 8% do total de deslocações). Mesmo com uma variante a ligar o Nova Arcada às Auto-Estradas, estas deslocações vão continuar a querer entrar/sair da cidade, e não vão usar essas variantes.
Estas ligações deveriam estar presentes num documento com a estratégia a médio-longo prazo. Deveria ser isso um Plano Diretor Municipal, um documento com estratégia, com a visão para o concelho.
A prioridade deveria ser criar uma oferta de transporte público que possa vir a ser atrativo ao ponto de ser utilizado pelo cidadão no dia-a-dia, para várias das suas deslocações. Pode demorar anos até se concretizar, mas demorará muitos mais anos se não dermos o pontapé inicial e não o planearmos, nem reservamos o espaço canal para o mesmo.
Em suma de todas as análises à proposta de PDM, podemos concluir que retirar do Plano Diretor Municipal as ciclovias nas Avenidas e na zona interurbana, não garantir as condições para as deslocações a pé, não prever ligações exclusivas em transportes públicos de massas aos concelhos vizinhos, não organizar a logística de pessoas e bens e continuar a privilegiar o carro em detrimento de todos os restantes modos de transporte, é um erro crasso na visão de mobilidade deste século, é hipotecar o futuro da cidade, do concelho e da região.
Ao contrário do que tem vindo a ser comunicado pelo Município de Braga, esta proposta revisão do PDM ainda não promove soluções de mobilidade sustentáveis, nem contribui para a mobilidade regional. Após o período de discussão pública ainda podem considerar as muitas sugestões submetidas para que isso se torne uma realidade, que não existe na versão atual.
A mobilidade induz-se, mas com esta proposta de PDM apenas se induz mais o uso do carro.
19 Março 2025
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