O preço da transparência
Escreve quem sabe
2022-05-01 às 06h00
Título entre aspas, porque de uma citação se trata. Crónica que por intermédio do “F.” há de chegar ao conhecimento do autor da confidência, inconfidência eu faça, mas é por boa causa. Segue a história:
Finais de Março sou chamado de uma esplanada. As saudações usuais, o sacramental «não te tenho visto». Explico que venho dois fins-de-semana por mês, quando bem calha, mas que, no geral, tinha regressado a França. «Mas continuas a escrever!» Refere-se o meu amigo a estes textos, que aposto que não leia, embora o jornal prime na Recepção da empresa, e por mais do que um exemplar. Confirmo, naturalmente, e digo que ainda no dia anterior teria podido dar de olhos com um relato sobre as eleições francesas. Nem de encomenda, o acompanhante desconhecido é um luso-francês, melhor, um brácaro-parisino, pequeno empresário da Construção Civil.
Diálogo de minutos, que horas se faziam de almoços caseiros. Ligeiros apontamentos de vidas particulares e profissionais, preocupações com o futuro de filhos e com o declínio de pais – nosso também, posto que já não vamos para novos. E ei-la, a quase bíblica declaração: «Braga é o meu mel!» Explica que se refaz das caneladas da vida e das saturações do quotidiano com um vir cá em cima da hora, onde queridos tem, e onde uma tranquilidade de sacrário encontra. É veemente, diz que isso é uma coisa que o amigo que partilhamos não compreende. Confirmo que há uma inquietude que em Braga não se respira, que mínimo até é o stress sonoro e residual a percepção volante de perigo e ameaça.
Despedimo-nos enquanto cultores da bragoterapia. Talvez nos reencontremos para o aprofundamento dos parâmetros da técnica, para a posologia, não venha aí uma tal alta de preços que torne o tratamento incomportável.
Quanto Braga seja um mel, por mal vem que Portugal seja um fel, ou um felzinho, para não carregar nas tintas. Calha a propósito uma sondagem da Aximage: 41% dos portugueses estaria em qualquer grau descontente com a democracia doméstica. Por contaminação, saltou-me à vista que a distribuição é similar à repartição de votos entre Macron e Le Pen, sendo que, no nosso caso, ninguém cairá no exagero de destratar os descontentes de extremistas, de antidemocratas.
Quanto Braga seja um mel, quanto Portugal não chegue a ser um fel, emparedados nos encontramos nesta Europa transformada num vinagre repulsivo, bélico e pré-nuclear, com Berlim, Paris e Londres a dois-três minutos de misseis de novíssima geração, num vinagre insuportável de carestias e altas de preços, de que todos os poderes públicos lavam as mãos, como se do gesto proverbial de Pilatos mais não houvesse a fixar.
Em que planeta viverão os decisores públicos? Neste, esférico, ou nessoutro plano, sem anais merecedores de estudo e reflexão? Que razoabilidade assiste a quem dia após dia insiste numa fuga constante para a frente, multiplicando palermices por outrem cometidas? Empenhamo-nos – dizem –, porque seja importante defender a democracia tal como a entendemos, como a temos estabelecida. Certo, embora quase um em cada dois – transitoriamente que seja – não encontre de que se contentar com o que lhe toca no regime em que sobrevive.
Desassombroso, isento de vieses, muito eu gostaria de ler estudo que analisasse a qualidade de vida e o poder de compra nos últimos trinta anos. Gostava eu de ter a certeza de que vimos sendo governados ao nível do melhor que há, e que meritório de todos os sacrifícios é o nosso ordenamento político-social. Demonstrem-mo, e ter-me-ão do lado dos jihadistas da democracia. De outro modo, a defesa da democracia é uma falácia aparentada à da desnazificação.
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