Correio do Minho

Braga, segunda-feira

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Braga precisa de uma visão

Liberdade para transformar Braga

Braga precisa de uma visão

Ideias

2025-06-09 às 06h00

Pedro Morgado Pedro Morgado

Mais do que alimentar contendas entre candidatos, as mudanças de ciclo autárquico devem ser uma oportunidade para identificar os problemas, para pensar o município e para encontrar as soluções que nos permitirão viver melhor no futuro.
Braga cresceu muito nos últimos cinquenta anos, tendo-se transformado na terceira cidade do país. Este crescimento teve várias fases. A primeira, impulsionada pela democratização do país e o fim da ocupação dos territórios ultramarinos; a segunda, impulsionada pelo crescimento da Universidade do Minho, atração de indústria e pelas políticas de expansão urbana dos anos oitenta e noventa do século passado; e a terceira, já no século XXI, impulsionada pela expansão do setor dos serviços e pelas migrações (de outras regiões do país e de outros países).
Na última década, tudo mudou. Braga cresceu em pessoas e em diversidade com impactos muito positivos na vivência e na economia da cidade. Mas este crescimento não foi antecipado, planeado, preparado e acompanhado da forma mais correta. Os sintomas são evidentes.

Braga é hoje uma cidade em muito mau estado. Quem circula no espaço público, a pé, de transportes públicos, de bicicleta ou de automóvel sabe que as placas que anunciam “pavimento em mau estado” não são mais do que um eufemismo sobre a realidade a que cidade chegou. O espaço público está profundamente poluído, sem cuidado nem manutenção: são anúncios publicitários em todos os horizontes; são carros nos passeios e passadeiras que impedem a circulação confortável e segura de peões em toda a parte; são contentores de lixo colocados com desmazelo e sem qualquer critério utilitário ou visual; são passeios interrompidos e cheios de armadilhas para quem circula a pé; e são estradas cheias de buracos que dificultam, quando não impedem, a ciruclação automóvel.

Braga é hoje uma cidade com sérios problemas de mobilidade. Como já aqui refletimos, a cidade cresceu em torno de vias rápidas para automóveis. Durante muito tempo, os executivos municipais foram resolvendo os problemas alargando e construindo novas estradas - opções que se sabe são de utilidade temporária e limitada, contrárias à ideia de cidade do século XXI. Na última década, apesar do reforço dos TUB, a cidade não conseguiu desenvolver uma rede de transportes públicos eficientes e fiáveis, que garanta a mobilidade entre os seus principais núcleos urbanos e ajude a aliviar os eixos rodoviários sobrelotados. Pior: a extraordinária oportunidade do PRR para a construção de duas linhas de metrobus parece estar em risco por incapacidade de se construir uma proposta transformadora.
Braga é hoje uma cidade com sérios problemas no acesso à habitação. Os problemas são em Braga mais sérios do que noutras cidades da região. A falta de planeamento limitou a construção de novas habitações, de forma urbanisticamente adequada, integrando habitação, comércio e espaços verdes. Na última década, privilegiou-se a ocupação do espaço com pavilhões de chapa para grandes supermercados, ladeados por parques de estacionamento em asfalto e sem qualquer preocupação com o equilíbrio entre habitação e serviços. O resultado é uma cidade espartilhada entre vários pólos apenas acessíveis de carro, mais vulnerável aos impactos das alterações climáticas e com menos habitação disponível para as pessoas.

Braga é hoje uma cidade que convive mal com as árvores no espaço público. Na última década assistimos à degradação do estado das árvores que ladeavam muitas das nossas ruas e avenidas até um ponto em que a sua manutenção se tornou inviável. Depois de abatidas, muitas das árvores não foram substituídas e outras foram colocadas em zonas que impedem ou dificultam a circulação pedonal. Esta política de organização do espaço urbano é contrária às boas práticas que se seguem em toda a Europa e tornam a nossa cidade muito mais árida durante os meses de Verão.

Braga é hoje uma cidade sem um parque verde. Quem conhece Famalicão ou Guimarães não entende como aquelas cidades conseguiram construir os seus Parques da Cidade enquanto Braga continua a adiar sucessivamente a execução do seu projeto. A construção do Parque das Sete Fontes foi identificada como uma das principais bandeiras do executivo municipal. É absolutamente incompreensível que ainda não tenha sido concretizado, privando as pessoas do uso de um espaço público com enorme potencial.
Braga é hoje uma cidade com menos influência nas decisões políticas. A terceira cidade do país não pode prescindir de ter um Hospital Público Central e Universitário com todas as especialidades médicas; não pode prescindir de ter uma estação de alta velocidade que sirva o centro da cidade e que se interligue eficazmente com a linha atual; não pode prescindir de uma rede de transportes públicos que a ligue aos outros municipios do Minho, reforçando a sua centralidade.

Se queremos que seja bom viver em Braga - e acredito que todos desejamos isso - então é tempo de transformar a governação, aproximando-a das pessoas e atuando nas áreas prioritárias para uma vida melhor.
Precisamos de um plano emergente para a requalificação do espaço público, com transformação das ruas e dos passeios em vias cuidadas, acessíveis, confortáveis e seguras. É urgente varrer da cidade o lixo urbano que parasita o espaço público, tantas vezes sem nexo nem licença. É preciso um plano emergente para a mobilidade, garantindo uma rede eficiente de transportes públicos, com paragens seguras e acessíveis, ligações intermodais e bilhetes integrados. Melhorando a experiência de quem anda a pé, de bicicleta e de transportes públicos, libertamos espaço e tempo para quem precisa mesmo de andar de carro.

Precisamos de um plano emergente para a habitação que garanta a construção de habitação social e um desenvolvimento urbanístico que, em cada bairro ou freguesia, crie verdadeiras comunidades onde podemos encontrar tudo o que precisamos. Há tantos espaços ocupados por asfalto desnecessário que poderiam ser transformados na praça onde os vizinhos se encontram e as crianças brincam.
Braga precisa de uma visão que lhe garanta um futuro. Precisamos que cada cidadão que gosta de Braga contribua para a mudança necessária para construirmos uma cidade melhor.

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