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'Caminho até ao fim'

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Conta o Leitor

2013-07-05 às 06h00

Escritor Escritor

Flávio Oliveira


Mariana era uma jovem engraçada que adorava a vida como todas as jovens da sua idade, para além de tudo, adorava sonhar. Era aliás uma grande sonhadora. Não gostava que a proibissem de alcançar os seus objectivos.

Havia um lugar único que ele adorava - a praia. Fora lá que ele conhecera um milhão de amigos e para além de tudo fora lá que passara bons tempos com a sua família. A praia, cujas águas eram de um azul ciano, e de areia amarela, com pequenas dunas, onde o vento levantava vagarosamente pequenos tumultos, deliciava todos os que por lá passavam com uma brisa encantadora.

Ela e a sua irmã tinham todo o tempo do mundo para brincar e para estudar, mas os pais pouco lhes ligavam, aliás foram educadas por professoras contratadas que as ensinaram até ao sexto ano, tendo sido posteriormente integradas num colégio privado que agora frequentavam. Contudo não passavam grande tempo com os seus pais. O pai era neurocirurgião, que ocupava grande parte do seu tempo em estudos e cirurgias. A mãe era chefe de cozinha, e tinha uma carreira a nível internacional, o que dificultava o contacto com a sua família.

De todos os seus amigos, Mariana preferia Clementina, formando um suporte onde duas amigas se apoiavam mutuamente.
Faltava uma semana para acabar o nono ano quando as duas amigas se juntaram e planearam os seus projectos de férias, as suas ambições, e sobretudo onde iriam estar e partilhar bons momentos.
No domingo à noite, nas casas das duas amigas fora uma grande azáfama, era mochilas, protetores, roupa, toalhas, comidas embaladas pelas empregadas, refrescos, fruta e alguns chocolates, para além dos concelhos da mãe de Clementina.

As duas combinaram um local e embarcaram num autocarro que as conduziu até à praia. A casa era enorme de uma cor branca como o sal, possuía móveis antigos, um candeeiro de teto que se destacava das demais coisas. Tinha umas carpetes, mas o pó estava instalado e era necessário fazer pequenas limpezas e limpar os vidros das janelas, regar um pequeno jardim à volta da casa e dar um jeito às roupas que estavam nos armários. A casa constitui-a uma importante tarefa que as iria ocupar durante o dia. Começaram por arrumar as camas, abrir as janelas para deixar entrar ar fresco e também varrer o chão e limpar os móveis.

Lá fora o sol estava forte, parecia aclamar as boas-vindas de novas pessoas à praia.
As duas amigas continuavam empenhadas na tarefa de manter a casa arrumada e na ânsia de se despacharem para ir até à praia. Por algures, naquela sala as amigas encontraram um armário de cor verde-esmeralda, que pertencia aos avôs de Mariana. A mãe de Mariana contara-lhe um dia que a sua mãe passava horas a olhar o mar e a escrever poemas, pequenos pensamentos. Parecia que trocavam mensagens e pensamentos incompreensíveis. Entre o cheiro a livros antigos e uma chávena de café estavam papéis, alguns amarrotados e um que dizia “O FUTURO TRAZ-NOS COISAS BELAS”. As amigas olharam uma para a outra, riram e pensaram quem poderia ter escrito aquilo.

Foi nesta procura da felicidade da juventude que as jovens Clementina e Mariana saíram apenas com um saco com toalhas e já com fatos de banho prontos e mergulharam na aventura da diversão.

Contudo a vida decidiu lhe virar as costas e fez-lhes uma grande partida que lhe mudaria o destino. Uma corrente marítima inesperada fez com que ela fosse atirada de uma forma súbita e brutal contra um rochedo escarpado. Clementina não sabia o que fazer. Telefonou de imediato para o número de emergência médica. Chegada ao hospital Mariana foi socorrida e teve o apoio e a força da sua amiga.

Cada dia que passava, era submetida a exames, diagnósticos e além de tudo teve uma perfuração grave num rim o que tornava dependente de transfusões de sangue, e possivelmente até de um dador de rim. As procuras de dador continuaram, mas Mariana tinha um ADN raro. Até que Clementina se ofereceu apesar da sua tenra idade para fazer o teste de compatibilidade e por muito impossível que pareça eram compatíveis. De imediato foi recolhido sangue, mas a reacção da Clementina não fora boa, começou com vómitos e alteração da tensão. Isto complicar-se-ia se assim continuasse, uma vez que com efeitos secundários a doação estaria comprometida. Aliás se houvesse a possibilidade de Clementina doar o seu rim, ela tornar-se-ia debilitada e dependente e com menor esperança média de vida.

Mariana afirmou que não queria prejudicar a amiga, queria que ela sentisse o que ela não sentiu, sentir a vida, o vento, o calor de um dia de verão, sentir a relva verde, sentir um sorriso no rosto. Mariana sentiu que o seu destino estava marcado por pouco tempo, e decidiu viver os últimos dias da sua vida com força e felicidade.

Os médicos afirmavam que se ela não quisesse as doações vivia apenas durante um mês com a medicação.
Clementina pediu desculpa pelo seu corpo responder mal, mas a opção de Mariana teria que ser respeitada. Para lhe dar força Clementina aconselhou-a a viver cada dia como se fosse um ano da vida dela.

Apesar de ter 19 anos, a jovem vivia cada dia como se não houvesse outro, tendo feito várias coisas que a faziam feliz, começou por ter um jantar com amigos organizado no hospital, quis visitar Lisboa e Paris, teve a possibilidade de sonhar e de ver os dias como nunca tinha visto. Teve a oportunidade de ter reflexões sobre a vida e sobre Jesus, de ter momentos de amor com a família, e de olhar pormenorizadamente as coisas à sua volta como se nunca mais as visse.

Clementina entregou-nos um bilhete:
Já passaram dois anos, e minha amiga ainda vive, vive entre a vida e a esperança de um mundo que há-de vir. Só quando somos confrontados com situações da vida e batemos bem lá no fundo é que nos apercebemos o quanto importante é saboreá-la, saborear cada segundo, cada minuto. O presente ninguém pode substituir e só pode ser vivido por uma única pessoa - TU. O futuro é a incerteza, todos vivemos nele, mas tudo depende do agora e de ti.
Vivemos dias fúteis, sem pensar na sua importância, mas cada dia é um dia que não pode nunca ser substituído.

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