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Campanha assimétrica

Entre a vergonha e o medo

Campanha assimétrica

Ideias

2025-04-01 às 06h00

João Marques João Marques

Assistimos, no país e no mundo, à proliferação de guerras assimétricas. Os famosos conflitos em que uma das partes não joga o jogo com as regras tradicionais e, apoiando-se numa condição de menoridade de partida, aplica estratégias pouco ortodoxas e geralmente assentes numa desproporção de efeitos que alcançam em terror o que não atingem em danos estruturais nos adversários.
Vimos isso no Afeganistão, temos visto isso em ataques a civis na Europa e continuaremos a vê-lo no cenário dantesco que se vive no médio-oriente, aqui com especial atualidade em Gaza e no conflito israelo-palestiniano.
Estas estratégias estão a transformar o cenário das guerras no mundo, mas começam igualmente a alastrar para o “mundo civil”.
Aparentemente, está a fazer caminho uma tática de terra queimada em que o que importa não é a verdade, o que interessa não é o esclarecimento, mas em que o fim último da suspeita é a sua perpetuação. Isto é, já não se levantam testemunhos (falsos ou verdadeiros), levantam-se factos políticos para depois, em modo Bimbi ou Air-fryer, cozinharmos os ingredientes à vontade do freguês, para que o resultado seja tão alheio à realidade quanto próximo do sensacionalismo mais bacoco.

O último mês e meio foi um manancial de tropelias comunicacionais que perduram e fazem caminho à laia de informação, com uma voragem e virulência tal que já não se encontra um português fora das caixas ou das cachas que não se apresente enfastiado com tamanho jorro de acusações, malvadezes ou pecados capitais.
Luís Montenegro e quem lhe está próximo foram, são e continuam a ser sujeitos a uma tentativa de assassinato de caráter como não me lembro de ver em qualquer época da nossa história democrática. E, se em outros tempos, felizmente passados e ultrapassados, se urdiam vozes contra a imprensa de pacotilha, o jornalismo sensacionalista e as Manuelas Moura Guedes desta vida, com a elite bem pensante toda alinhada, desconsiderando as soezes vozes que atacavam o mais brilhante Primeiro-Ministro da história do país, entretanto torando vilão por indecente e má-figura; hoje o comentariado saliva pelo menor odor nauseabundo, tantas vezes confundindo queijo podre com gorgonzola.

Já não há pudor, nem parece ter de haver, que obste a que se pegue num conjunto desalinhado de informações e se as torne num caso de polícia. Não chegam as respostas porque nenhuma resposta que não seja “Fui eu, sou o criminoso que procuram” é suficiente para acalmar a turba. Nenhuma resposta chega, porque as respostas que terminam com as suspeitas não vendem jornais e não permitem que as narrativas continuem a fazer o seu caminho.
Claro que podemos e devemos exigir todos os esclarecimentos. A este e a qualquer Primeiro-Ministro. Mas claro é também que o que começou com um regular e necessário exercício de jornalismo ganhou tração como conto ficcional que, como qualquer história de encantar em que há heróis e vilões, só pode terminar com a morte do vilão.
Menos do que isso é o fim da história e menos do que isso é o fim dos que a criaram e insuflaram ao ponto da insustentabilidade.

Num tempo em que se criticam as redes sociais por oferecerem conteúdos tão “imediados” quanto imediatos, os supostos moderadores do regime esquecem-se da premissa que os torna indispensáveis e lançam-se num vórtice que qualquer português normal entende como anormal e atentatório da dignidade mínima que se deve reconhecer a qualquer concidadão.
Esta guerra assimétrica, em que quem tem razão não pode jogar o jogo dos que insidiosamente descartam esclarecimentos e se centram no pútrido cheiro do cadáver, mesmo que distante e não relacionável com a presa que se visa mordiscar, tem, contudo, um grande mérito.
Separa o trigo do joio e torna muito clara a decisão que haverá que tomar no dia 18 de maio.
Como parece cada vez mais óbvio, os portugueses não querem nem elegem eunucos, como também não admitem vigaristas e vigarices. As sondagens, tendenciais, parcelares e sempre de duvidosa fiabilidade, mostram, todavia que não devemos tomar por parvos os eleitores.

Os méritos e deméritos do governo e do Primeiro-Ministro serão julgados, como sempre, nas urnas, através do voto. Por muito que haja quem prefira o pelourinho, ainda que sem coragem para empunhar o chicote, é da natureza das coisas que a verdade, como o azeite, venha ao de cima.
Seria bom que os partidos da oposição percebessem, mais cedo do que mais tarde, que o povo português, tendo os seus defeitos, não aprecia injustiças e deteta muito bem as campanhas viscerais que se arquitetam e que atentam contra os seus próprios interesses.
O ambiente democrático, para ser saudável, precisa que a política sai do estábulo e entre no palácio. Não há dignidade possível no chafurdar na lama e não há convivência entre pares que sobreviva a um processo contínuo de intenções, desconfianças e traições.
Que se investigue tudo, que se responda a tudo, mas que não se finja, por um momento, que é a verdade que está no banco dos réus.

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