A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2019-09-09 às 06h00
Aqui estás tu, na Universidade. Cheio de sonhos. Eu também estou cá. Determinada a ajudar-te a alargar horizontes de conhecimento. Começamos juntos. És um caloiro e isso faz de ti uma pessoa superior. Como podes perceber, não alinho pelo discurso de humilhação das praxes, mas disso falarei mais adiante.
Quando hoje entrei na Universidade, o frenesim era generalizado. Este é meu vigésimo quinto ano de trabalho na UMinho como professora. Neste tempo, vou notando algumas evoluções: o parque automóvel dos estudantes cresceu substancialmente, a moda dita outro modo de apresentação, a tecnologia e a insistência na desmaterialização das aprendizagens vão aliviando o peso das mochilas... No entanto, há um elemento inalterável: a curiosidade, a expectativa, a vontade de conhecer tudo... Gosto tanto deste ambiente de início de ano letivo!
Talvez aches confuso este nosso modo de funcionamento. As aulas dividem-se em teóricas, teóricas/práticas e laboratoriais. Nas primeiras, vais integrar-te em grupos de grande dimensão onde não haverá muitas oportunidades para diálogos mais vivos. Terás a possibilidade de fazer isso em aulas que funcionam por turnos. Aproveita tudo com garra, com determinação... Estes serão anos de enorme aprendizagem. A maior será aprenderes a aprender. Guardarás isso a vida toda. Não penses que será nas aulas que absorverás mais conteúdos... Aí apenas terás a oportunidade de perceber alguns pontos de navegação. Cabe-te descobrir as rotas que podem ser realizadas. E, acredita, isso é o melhor que a Universidade te proporcionará. Terás muitas âncoras: os professores responsáveis pelas tuas Unidades Curriculares, os colegas de turma, os colegas de outros anos que encontrarás em espaços de estudo e em tempos de lazer, os livros que te serão indicados, as ferramentas digitais ao teu dispor...
Não te centres apenas nas aulas. Constrói também um curriculum paralelo. Lembrava Abel Salazar que “o médico que só sabe medicina nem de medicina sabe”. Em qualquer universidade, há inúmeras atividades (desportivas, culturais, sociais...) que poderás incorporar numa rotina que todos os dias terá sempre inesperados elementos. Isso tornará os teus dias únicos, mas tu terás de fazer com que essa singularidade aconteça a cada momento. E, mais tarde, perceberás que essas oportunidades se constituem como uma valiosa fonte de aprendizagem.
Por estes dias, serás confrontado com praxes. Devo reconhecer que tenho feito um percurso em direção a alguma intransigência relativamente a certas práticas. Há uns anos, morreram estudantes durante aquilo a que chamam “guerra de praxes”. Devo confessar que fico petrificada, quando do outro lado do muro da universidade vejo praxes a decorrerem exatamente no lugar onde os jovens universitários perderam a vida. Pode lá isso ser?!! Queria desafiar-te para isto: não alinhes com práticas abusivas e não integres praxes que coloquem em causa a tua dignidade. Não tenhas medo. Denuncia comportamentos ilícitos. Vira costas àqueles que dizem que perdes o direito a integrar Festas do Enterro da Gata ou a vestir o traje, se não participares nas praxes. É tudo mentira!
Estou certa de que enfrentarás esta nova etapa da tua vida com determinação. Com criatividade. Com generosidade. A universidade deixou de ser aquele elevador social que transportou os teus pais e os pais dos teus colegas para outros estatutos. Também não te formará numa área à qual tu te agarrarás para sempre. Hoje é tudo mais indeterminado e mais flutuante. Mais líquido. E isso não é forçosamente mau. Há que encontrar vias alternativas para um destino que está muito longe de ser predeterminado. O que importa agora é aproveitar tudo. Tudo constitui uma enorme fonte de aprendizagem que será sempre transformadora da tua vida. Boa sorte! Sê feliz.
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