O regresso glorioso das freguesias!!!
Escreve quem sabe
2024-12-03 às 06h00
Carta aberta de um pequeno jovem aos seus professores, que deixo aqui na íntegra:
“Todos os dias, acordo com vontade de aprender. A ideia de saber mais, de descobrir coisas novas e desafiar-me, motiva-me a levantar-me cedo, mesmo quando o sono teima em ficar. Mas, assim que entro na sala de aula, a frustração instala-se. Sou obrigado a ouvir a mesma explicação repetida várias vezes, porque é necessário garantir que todos na turma entendem. Entendo a importância disto, claro, mas não consigo deixar de me sentir preso, como se o meu potencial estivesse sufocado. Sou um jovem com características de sobredotação. Comecei este ano o 8.º ano de escolaridade, mas muitas vezes sinto que estou a viver num sistema que não me encaixa. Sei as matérias, compreendo os conceitos, e é-me natural resolver problemas que, para outros, parecem complexos. Não digo isto com arrogância, mas como uma realidade que carrego comigo. O problema é que a escola, como está estruturada, não parece estar preparada para lidar com alunos como eu. Imaginem passar horas a ouvir uma explicação que já sabem de cor, a tentar manter a atenção enquanto a vossa mente implora por algo mais desafiante! Imaginem não sentir entusiasmo por um teste porque já sei que o vou passar sem grande esforço! Agora imaginem um professor a ignorar as vossas sugestões, a ridicularizar uma resposta que dão porque é “diferente do que estava no livro”. Sim, isto aconteceu comigo. Um dia, numa aula de História, aventurei-me a trazer um ponto de vista alternativo sobre um evento que tinha lido num livro em inglês. O professor interrompeu-me, sorriu sarcasticamente e disse à turma: “Vejam só, temos aqui um pequeno génio”. Todos riram. Mas para mim não foi engraçado. Foi humilhante! Noutra ocasião, numa aula de Matemática, terminei os exercícios propostos pelo professor em poucos minutos. Pedi permissão para resolver um problema mais complexo que tinha encontrado num livro em casa, mas o professor recusou. Disse-me que eu estava "a querer mostrar-me" e que deveria repetir os exercícios como os outros colegas para "praticar mais". Fiquei ali, sentado, com uma folha cheia de respostas corretas, a fingir que estava ocupado enquanto sentia um vazio enorme. Tudo o que eu queria era ser desafiado, mas, em vez disso, fui desencorajado! Um dia, ouvi uma conversa entre alguns professores sobre mim. Diziam que, como sou bom aluno, cumpro com tudo e tiro boas notas, não tenho razão para estar desmotivado. Comentaram que esta atitude era prepotência, talvez fomentada pelos meus pais, e que não tinham que planear nada diferente para mim, pois já sabia tudo. "Temos mais com que nos preocupar", disse um deles. Estas palavras ficaram gravadas na minha mente, pois demonstraram uma total falta de compreensão sobre o quanto preciso de ser desafiado para me sentir motivado e incluído. Porque é isto que a educação deveria ser: um lugar onde todos, incluindo os que aprendem mais depressa e muitas vezes de maneira diferente, encontram espaço para crescer. Há também momentos em que me pergunto se os professores realmente percebem o impacto que têm na vida de um aluno. Não falo apenas das matérias que ensinam, mas das palavras que escolhem, das atitudes que demonstram e das oportunidades que proporcionam – ou negam. Por exemplo, lembro-me de uma aula de Ciências, em que sugeri uma experiência prática para demonstrar um conceito que estávamos a estudar. O professor olhou para mim, sorriu e disse que “isso é coisa para cientistas de verdade, não para alunos”. Senti-me pequeno, como se o meu entusiasmo pelo tema fosse algo errado. Não me desmotivou apenas naquela aula; foi como se uma parte do meu desejo de explorar e aprender tivesse sido apagada. Por isso, peço aos professores que entendam: precisamos de um ensino personalizado. Precisamos de tarefas que nos desafiem, que nos incentivem a pensar para lá do óbvio, que nos obriguem a crescer.
Não queremos respostas fáceis; queremos perguntas que ninguém sabe responder. Queremos sentir que aprendemos algo novo todos os dias. Mas isso não significa que não precisemos de empatia e carinho. Sei que nem sempre é fácil. As salas de aula têm muitos alunos, cada um com as suas necessidades. Mas talvez seja possível encontrar soluções. Que tal projetos independentes, onde podemos explorar áreas que nos interessem? Que tal exercícios mais complexos para quando terminamos mais cedo as tarefas regulares? Que tal darem-nos a oportunidade de ajudar os colegas, para que possamos aprender também com o ato de ensinar? Que tal debates ou discussões em grupo, onde possamos contribuir com o nosso ponto de vista? Que tal ouvirem as nossas ideias, mesmo que pareçam um pouco fora do contexto? Que tal oferecerem-nos a possibilidade de propor projetos ou formas diferentes de abordar os temas lecionados? Que tal estratégias que nos ajudem a desenvolver não só as competências cognitivas, mas também as nossas competências emocionais e sociais? O que mais desejo é uma escola que seja amiga, compreensiva e, acima de tudo, desafiante. Uma escola onde eu possa ser eu, sem medo de errar, sem medo de ser diferente, mas com a certeza de que estou a crescer. Quero sentir que a minha curiosidade é um presente, não um incómodo, e que há um lugar para mim num sistema educativo que valorize o potencial de todos, sem exceções.” Completo, agora que nos aproximamos do Natal, pensando em como esta época é um símbolo de generosidade, compreensão e partilha. Que tal tornar a escola um espaço mais inclusivo e caloroso, onde todos, independentemente das suas capacidades, se sintam valorizados? Assim como o espírito natalício nos incentiva a olhar para os outros com mais atenção e cuidado, que tal fazer o mesmo com quem apenas pede uma chance de brilhar no seu próprio ritmo? Afinal, o Natal lembra-nos que cada um de nós tem algo único a oferecer e que o verdadeiro presente está em reconhecer e nutrir isso nos outros.
26 Janeiro 2025
25 Janeiro 2025
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