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Carta à Leonor: Mais ciência e tecnologia no futuro do futebol

Os bobos

Ensino

2018-02-28 às 06h00

Filipe Clemente Filipe Clemente

Querida Leonor
Nesta nova carta que te escrevo procurarei sintetizar algumas das principais inovações que surgirão ou firmar-se-ão no futebol a médio-longo prazo. Importa considerares que como qualquer projeção, existirão itens que serão confirmados e outros que não serão aplicados ou serão superados por novas tecnologias e descobertas que brotam diariamente pelos mais diversos centros de ciência, inovação e desenvolvimento.
Um futebolista mais atlético, um futebolista mais capaz: como deves perceber a combinação do talento com o trabalho acentua a performance. A evolução do futebolista enquanto atleta continuará a ser um foco indispensável por parte dos treinadores, mas sobretudo, dos cientistas do desporto que dedicam horas de estudo e acompanhamento aos futebolistas nos gabinetes de apoio à otimização da performance. O futebol tornar-se-á cada vez mais intenso e exigente no que às demandas físicas, fisiológicas e/ou psicológicas diz respeito. Assim, complementarmente ao treino em campo, o treino individualizado face às especificidades do atleta tornar-se-á um hábito cada vez mais recorrente em praticantes que procuram acompanhar a evolução tática/estratégica com as exigências humanas. Mais que um futebolista, a criação de atletas otimizados para o desempenho e para a redução à exposição ao risco de lesão será uma preocupação de quem muito investe neles.

Um futebolista monitorizado para um acompanhamento mais individualizado: um treino mais cuidadoso e planeado dever-se-á preocupar em especificar e individualizar a prática no sentido de amplificar as potencialidades do futebolista. Assim, instrumentos de medida mais objetivos (e.g., cardiofrequencímetros, GPSs, acelerómetros, marcadores bioquímicos) ou subjetivos (escalas de perceção da carga de treino ou do bem-estar) estender-se-ão pelos diversos clubes e, sobretudo, a informação será mais aproveitada pelos técnicos responsáveis pela prescrição. Na verdade o fundamento principal da monitorização não é quanta informação obténs, mas sim como a aproveitas para o planeamento. Como na vida, nem sempre mais é melhor.

Realidades aumentadas, literalmente: assiste-se hoje à utilização do vídeo-árbitro para mitigar as possibilidades de insucesso no ajuizamento de lances críticos no futebol. No entanto, o tempo de resposta e de interrupção é, ainda, considerável. Provavelmente um futuro com óculos de realidade aumentada (cruzamento entre realidade virtual e a realidade visualizada por nós) reduzirá o tempo de interrupção para verificação dos lances. Não só os árbitros poderão utilizar estes recursos. Imagina o que seria os próprios árbitros ou outros responsáveis utilizarem tais instrumentos para amplificarem as informações disponíveis em jogo, ou mesmo, para filmarem a sua perspetiva e transmitirem aos adeptos que poderão ter mais ângulos e realidades para observar o jogo. Não seria ainda mais excecional assistir a um jogo?

Equipamentos desportivos mais inteligentes: A utilização de caneleiras com sensores térmicos ou de medição da saturação do oxigénio; t-shirts com sensores para a medição das frequências cardíaca ou respiratória; calções térmicos com eletromiógrafos; ou chuteiras com sensores inerciais ou de localização não parecem tão longe de serem usados como parece. Tudo dependerá da evolução dos materiais, validade, fiabilidade e utilidade.
Predição do talento e do desempenho: a geração e monitorização de grandes bases de dados permitirá no futuro que os especialistas em data analytics possam estimar a possibilidade de um jovem alcançar um nível de elite tendo por base a sua curva de evolução ao longo da formação ou que futebolistas de elite sejam selecionados para o jogo tendo por base as hipóteses de sucesso face às variáveis inerentes ao evento.

Adicionalmente, algoritmos que determinam o risco de exposição à lesão ou potencial de treinabilidade serão um complemento ao olho do experiente observador. Naturalmente que são processos probabilísticos, mas uma maior proximidade de um evento se concretizar ou a sua concretização permitirão à máquina aprender e estimar melhor em futuras ocasiões.
Querida Leonor, como podes verificar o futuro a médio-longo prazo é fascinante, no mínimo. Evidentemente que a introdução de novas tecnologias ou equipamentos não eliminará a imprevisibilidade que tanto apaixona os fãs deste desporto. No entanto, a otimização de processos possibilitará um futebol mais competitivo e espetacular. Por enquanto, vamos trabalhado no desenvolvimento de algumas destas possibilidades na Escola Superior de Desporto e Lazer de Melgaço.

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