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Causas do sucesso do Chega

Liberdade para transformar Braga

Causas do sucesso do Chega

Escreve quem sabe

2025-05-31 às 06h00

João Ribeiro Mendes João Ribeiro Mendes

A contínua melhoria da performance do partido Chega nas últimas três eleições legislativas é explicável por uma combinação de fatores políticos, sociais e económicos.
Primeiro, a fadiga e o descontentamento dos eleitores com os partidos tradicionais, marcados por sucessivos escândalos de corrupção no PS e PSD, geraram uma desilusão que o Chega soube canalizar como força “antissistema”, atraindo votos de protesto.
Segundo, o canto da sereia populista: um discurso simples e emocional, focado em imigração, criminalidade, justiça penal e “fim dos privilégios”, que ressoou especialmente entre os mais vulneráveis à insegurança económica e social.
Terceiro, a estratégia digital agressiva, com domínio das redes sociais, comunicação direta e campanhas virais, contornando os meios tradicionais.
Quarto, a persistência dos problemas que afetam diretamente a população – inflação, crise da habitação e precariedade laboral – temas menosprezados por PS e PSD. Isso reforçou a perceção de que o Estado falha há décadas em proteger os mais vulneráveis. O Chega soube canalizar esse descontentamento, prometendo “ordem” e “justiça”.
Quinto, a liderança carismática de André Ventura, inequivocamente o mais brilhante orador e tribuno parlamentar nacional atual. Como figura polarizadora e mobilizadora que é, consegue comunicar com eleitores desiludidos, usando um estilo combativo nos debates e nas redes sociais.
Sexto, a progressiva normalização do partido, que, apesar do rótulo de extrema-direita, tem vindo a ser tratado como um ator político legítimo, inclusive com aproximações do PSD a nível discursivo, o que lhe deu maior credibilidade institucional.
Por fim, a soberba moral e a estreiteza política dos demais partidos do arco parlamentar, aliadas a uma comunicação social esquerdizada até ao osso, que tenta aprisionar o Chega em estereótipos, contribuíram para reforçar o seu apelo junto a eleitores desencantados.
É, no entanto, de esperar que o Chega melhore ainda mais e possa vir a tornar-se na primeira força política nacional? Diria que sim, desde que adote mudanças estratégicas.
Primeiro, precisa abrandar o discurso xenófobo e divisionista. O discurso anti-imigração e anti-establishment atrai uma base radicalizada, mas limita o crescimento eleitoral e afasta possíveis aliados. Deverá, por conseguinte, substituir a linguagem inflamada por críticas construtivas a políticas migratórias (ex.: defender controlo migratório baseado em regras claras, em vez de ataques generalizados a imigrantes), propor medidas para imigrantes legais (cursos de língua, inserção laboral) em vez de apenas discurso anti-imigração, e distanciar-se de figuras ou apoiantes abertamente racistas para ganhar credibilidade institucional.
Segundo, precisa desenvolver propostas concretas e exequíveis. O populismo rende votos com slogans (“contra a corrupção”, “defesa do povo”), mas sem soluções viáveis, o partido fica preso à oposição permanente. Reformas fiscais equilibradas, investimento eficiente nos serviços públicos e medidas anticorrupção sólidas são caminhos mais promissores.
Terceiro, é essencial quebrar o isolamento parlamentar. Para isso, o Chega deve apostar em alianças pontuais, privilegiando acordos temáticos em vez de exigir alinhamento total – como apoiar uma lei anticorrupção em troca da discussão sobre segurança. Também deve moderar exigências, ceder em posições mais radicais para viabi- lizar parcerias e estreitar laços com a sociedade civil, incluindo sindicatos, associações empresariais e ONGs, fortalecendo assim a sua legitimidade institucional.

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