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Cavaquices

A Economia não cresce com muros

Ideias

2013-10-18 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Hoje vamos falar de cavacas. Há quem goste de cavacas, uns biscoitos revestidos de calda de açúcar que em algumas localidades são considerados como algo de especial e de típico, com a sua usual configuração de meia lua e todo um aspecto seco, esbranquiçado e escanifrado. Doces, aliás, com muitos riscos para os diabéticos.

Na verdade é a calda de açúcar que os cobre e caracteriza sendo que o resto se perde na usual massa comum da doçaria. Mas se esses biscoitos, também conhecidos por cavacos, podem adoçar a boca dos portugueses, a realidade é que a palavra “cavaco” tem ainda o significado de lasca de madeira e é usada em expressões idiomáticas como “dar o cavaco”, com o significado de «gostar», “não dar cavaco” com o de «não responder» e “estar um cavaco” a traduzir «um estar magro e envelhecido». Isto a acreditar nos dicionários anteriores à reforma ortográfica, a “estupidez” mais incontornável de uma perda de identidade nacional, até porque no Brasil ou noutras regiões “cavaca” ou “cavaco” até poderá ter um significado pejorativo.

Claro que Cavaco também é nome de gente, como o do nosso Presidente e de outros indivíduos de idêntico apelido, como os perigosos “irmãos Cavacos” de uns anos atrás, sendo certo que, para além de toda e qualquer configuração física, atitude, pensar ou intervenção sócio-política, todas as “cavaquices” podem ser perigosas e não do agrado de todos, como os actos desses irmãos e outros que tais.

De quem, naturalmente, não estamos a falar, sendo certo que também não nos queremos meter em “temas” duvidosos de “doçaria” e “açúcar” pelos seu eventuais malefícios em termos de saúde pública, debruçando-mos tão só no ocorrido neste Verão.
Após uma Primavera muito chuvosa, fria e irregular com o tempo a mostrar-se desagradável, frio e inseguro, confrontámo-nos com um Verão com “entradas de leão”, escaldantes “calores” e muito sol, sendo que toda uma habitual amenidade do clima se escapuliu por entre as habituais brumas, usuais nevoeiros, chuviscos, chuva e até “trovoadas” na vida política e partidária do país.

Aliás nada que não fosse já esperado, até porque previsto pelos “experts” da meteorologia política e certos comentadores, sendo que a grande realidade é que a “temperatura” ultrapassou valores impensáveis de, a par de um abaixamento sensível e generalizado da vida social dos portugueses, confrontados com fortes neblinas a desaguar em incontroláveis chuviscos e em tardes nebulosas de frio e vento agreste, com as habituais “nortadas” do litoral. Para mais de “portas” escancaradas e de vaivém a chiar nos gonzos de várias dobradiças.

Na verdade de há muito que era expectável um verão quente e com mudanças numa época tida de férias e descanso devido aos especiais “calores” e “ventos de este” da política. Aliás quase um “verão quente” como o de 1975 em termos de governo e oposição, mas a realidade acabou por se esvair numa aparente “estabilidade apesar dos vários “raios de calor” lançados por certos “palhaços” de inseminação gratuita ou geração espontânea, “assistidos” por umas “cavaquices” inesperadas e inoportunas.

“Palhaços” que se vêm multiplicando desde há anos a perorar sobre os males do país e a chorar sobre “leites” derramados, esquecendo suas responsabilidades pelas asneiras e loucuras utópicas de certas “ventanias” de Abril, aliás funestas para um povo.
Alijando responsabilidades, tais palhaços, hoje bem da vida, ricos e com nome, passam o tempo a dar palpites e a criticar, omitindo que foram as loucuras da utopia e insensatez que conduziram o país ao caos económico-político, a uma criminalidade assustadora e a uma profunda miséria material e moral. “Palhaços”, ridículos nos seus de narizes vermelhos, sapatorras e pantalonas de suspensórios .

Aliás as autárquicas deram indícios de que tudo seria melhor sem partidos, coligações de ADN partidário ou esconsa “genética”, a bolçar barbaridades com o apoio de ressabiados e trânsfugas porque o que apenas “interessa” e “rende”é a política.

Mas quanto às mudanças que há muito se impõem, não são viáveis por se impor manter “tachos” e “comedorias”, já que há interesse em não reduzir o número dos cargos públicos e políticos, deputados, altas autoridades, provedores, entidades reguladoras, administradores, autarcas, etc., o que seria nefasto para a sobrevivência dos próprios partidos. E daí não se querer “mudanças” na Constituição, uma “intricada” teia de direitos assente em utopias e “arrotos” democráticos, e sem a sensatez, inteligência e atenção às realidades e ao sentir dum povo adulto e de ancestrais genética e valores.

Vivendo-se em austeridade, não é compreensível manter um número tão grande de deputados com o Estado a custear os seus espectáculos “circenses”.
Mas mais perturbador é a ausência de sinais de mudança, com P.Coelho a fazer lembrar “uma embalagem bem desenhadinha que passou pela linha de montagem da fábrica da política mas falhou o enchimento”, ficando “vazia, só embalagem, nada lá dentro” e que mesmo “assim seguiu o seu curso, foi distribuída e vendida”, como há tempos dizia Pedro Bidarra (JN, 8.6.13) para quem, aliás, “a oposição também é produto da linha de montagem da fábrica da política”, escrevendo que “o Seguro lembra-me um produto de marca branca, que imitam os genuínos” porque “se tem alguma coisa lá dentro de qualidade, ou se falhou o enchimento, é coisa que não se sabe, desconfia-se” pois “se alguma coisa lá houvesse já teria dado sinais”.

Considerandos inseridos numa peça com o título «a maçã espanhola deprime-me”, e que não passa de um grito de revolta face ao nosso quotidiano de produtos normalizados, viajados e com a etiqueta “origem espanhola” a revelar sinais da “nossa incapacidade, da nossa dependência, da nossa menoridade” e de “falta de soberania alimentar”(id.). Mas se a CEE exige produtos normalizados e com certo calibre, a ASAE podia e devia fiscalizar também a normalidade e calibre dos nossos “produtos políticos”, e não se ficar apenas pelas suas embalagens e rótulos.

A grande verdade é que estamos a ser intoxicados e afectados por “produtos” normalizados da fabricação política, sempre iguais e sem mudanças, não havendo técnico abalizado que defenda o consumidor e fiscalize eventuais falhas em calibre, qualidade e funcionamento. Efectivamente “parece que não há (ou não funcionam) mecanismos de defesa do consumidor da de- mocracia” (id), pelo que se anseia por mudanças. E por outros “produtos”, mesmo pequenos e com “bicho”, mas autênticos, portugueses, saborosos e únicos, e não apenas “normalizados” e “calibrados” por efeito das força e política da CEE e do que lhe subjaz. Aliás anseiam-se por ventos de mudanças verdadeiras, responsáveis e profundas, para bem de todo um povo.

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