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Celebrando o Dia Mundial da Língua Portuguesa, três vivas à lusofonia

Arte, cultura e tecnologia, uma simbiose perfeita no AEPL

Celebrando o Dia Mundial da Língua Portuguesa,  três vivas à lusofonia

Ideias

2021-05-17 às 06h00

Moisés de Lemos Martins Moisés de Lemos Martins

A 18 de janeiro de 2013, António Pinto Ribeiro escreveu no Público o artigo de opinião, “Para acabar de vez com a lusofonia”. Porque, a seu ver, a lusofonia tem a marca de um império que já não existe e prolonga a sua sombra. Além disso, inspira-se no luso-tropicalismo, uma teoria do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, que exalta a identidade brasileira e o seu “jeitinho cordial”, através do elogio com que brinda o colonialismo português, um colonialismo que apenas na fantasia de Freyre foi moderado e respeitador das diferenças étnicas, através da miscigenação. A quimera da excecionalidade do colonialismo português teria na lusofonia um equivalente em tempos pós-coloniais. Ou seja, no espaço dos países de língua portuguesa, Portugal reclamaria para si a excecionalidade da sua colonização, e do mesmo passo a centralidade da sua posição. E se falamos de língua portuguesa, Portugal seria o dono dela.
Concordo com António Pinto Ribeiro, uma ideia de lusofonia, assim entendida, merece acabar de vez. Acrescento, todavia, de imediato, que é em nome de uma memória histórica, construída ao longo de uma história de séculos, sem dúvida conflitual e problemática, mas que constitui todos os povos que partilham o Português como sua língua, que eu dou não apenas um, mas três vivas à lusofonia. Dou vivas ao sonho de uma comunidade, transcultural e transnacional, de povos que falam uma mesma língua, na riqueza das suas variantes; que partilham uma memória histórica que a todos constitui; e se batem em defesa da diversidade do seu património, etnográfico, arquitetónico, cultural e artístico. Revejo-me, pois, nas palavras do linguista brasileiro, José Luís Fiorin, quando afirma que a língua portuguesa lhe sugere mais a mátria que a pátria. Porque a mátria abre a uma comunidade de irmãos, e a pátria remete para um pai, que é seu senhor e dono.

Agora, no rescaldo do Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado a 5 de maio, Sérgio Fernandes, jornalista e escritor brasileiro, escreveu na Folha de São Paulo, uma crónica a que deu o título “Lusofonia, adeus!” E entre nós, Rui Tavares, espicaçado por esta crónica, escreveu, logo de seguida, no Público, “Ainda dá para salvar a lusofonia?”
Sérgio Fernandes mostra-se dececionado com Portugal. Já não acredita “na miragem de uma comunidade internacional”, que valorize as diferenças. Olha com horror para o Acordo Ortográfico, essa “esquizofrenia linguística”, assente “num passado linguístico mítico-lusófilo”, que é hoje “gasolina na fogueira do antibrasileirismo em Portugal”. E esta circunstância leva-o a concluir que o Português não deseja converter-se numa língua sem centro. Por essa razão, grita, alto e bom som: “Viva a língua brasileira”!
Rui Tavares estranha esta afronta, mas não desanima. Porque ainda acredita que dá para salvar a lusofonia, agarra-o pelo braço: nada disso, Sérgio, não te vás embora; espera aí, que diabo! É verdade que o sonho de uma comunidade política, partilhada por todos os países de língua portuguesa, está seriamente comprometido com o vosso Bolsonaro. Mas é possível sonharmos ainda muita coisa em conjunto.

Fora José Sarney, Presidente do Brasil de 1985 a 1990, o primeiro a sonhar com uma comunidade política para todos os países de língua portuguesa. Em 1989, por ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa, em São Luís do Maranhão, foi criado o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), para a promoção e a difusão da língua comum.
Ainda assim, apesar de Bolsonaro, Rui Tavares imagina que possa ser constituída “uma Academia Internacional da Língua Portuguesa”; “um canal de média da lusofonia, uma ‘TV Cultura’ da CPLP”; “um Parlamento Internacional dos Escritores da Língua Portuguesa”; e mesmo “uma rede de defesa dos direitos humanos, uma espécie de Amnistia Internacional em língua portuguesa”.
Foi, também, por ter um sonho lusófono, que há dias apresentei o Museu da Virtual da Lusofonia no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, debatendo com Marília Bonas e Larissa Graça, do Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo, prestes a reabrir portas, depois do terrível incêndio, que sofreu em 2015. Fi-lo, porque acredito que a língua portuguesa, sendo uma grande língua de culturas e de pensamento, pode constituir, também, uma grande língua de conhecimento.

Na era da técnica e da mobilização tecnológica, a existência de identidades transnacionais e transculturais, como ser europeu, ibero-americano, latino-americano, PALOP, lusófono, assinala a condição transnacional e transcultural das culturas, com o desenvolvimento de imagi- nários comuns e a possibilidade da partilha de sonhos coletivos.
Há 25 anos que eu próprio me alimento de sonhos lusófonos, construindo e integrando equipas de investigação pelo vasto espaço lusófono. E assim continuo, agora remoçado pelas novas possibilidades, abertas pelas tecnologias de comunicação e da informação, que permitem aquilo a que podemos chamar de uma circum-navegação tecnológica, através dos novos territórios, novas paisagens e novos ambientes da cultura, em que consistem, por exemplo, os sites, os portais, os blogues, os repositórios digitais e os museus virtuais.

É este, aliás, o contexto em que nasceu o Museu Virtual da Lusofonia, como instrumento tecnológico para a cooperação académica, na ciência, ensino e artes, no espaço dos países de língua portuguesa e das suas diásporas, que se estende também à Galiza, a Macau e a Goa. Sendo uma plataforma virtual, o Museu reúne num esforço comum Universidades, empresas da área da cultura (editoras, por exemplo), assim como empresas de produção de conteúdos audiovisuais e multimédia, e ainda associações culturais e artísticas.
Além disso, o Museu Virtual da Lusofonia pretende constituir-se como um instrumento de mediação para a participação ativa dos cidadãos na (re)construção de uma memória coletiva, convidando-os a disponibilizar registos e a comentar materiais preservados no Museu, trabalhando deste modo no aprofundamento de um sentido de comunidade.
Viva a Língua Portuguesa!
Viva a Lusofonia!
Viva o Museu Virtual da Lusofonia!

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