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Ideias

2022-10-15 às 06h00

Pedro Madeira Froufe Pedro Madeira Froufe

Wolfgang Schauble foi o icónico ministro das finanças alemão, dos governos de Merkel. Na realidade, integrou o primeiro gabinete de Merkel, logo em 2005, mantendo-se sempre como Ministro das Finanças, até outubro de 2017. A sua imagem pública e política mais recente, associa-o indele- velmente à reação à crise das dívidas soberanas e à política de austeridade que, em grande medida, Merkel (e Shauble) patrocinaram, relativamente aos Estados-membros sobreendividados e, então, em rutura orçamental-financeira (sejamos claros e rigorosos: em bancarrota ou em pré-bancarrota). Desde logo, em relação à Grécia e, logo a seguir, relativamente a Portugal. De certo modo, agora, já com alguma névoa decorrente do tempo que passou, associamos Wolfgang Schauble à intervenção externa da UE e do FMI (“troika”), à classificação de “lixo” do “rating” da dívida pública portuguesa e a um processo (inevitável?) de retração (ajustamento?) dos rendimentos e do consumo, como forma de recuperação da normalidade financeira pública. Seja como for, a sua política financeira – orçamental dura e restritiva, foi a que acabou por ser seguida (que foi imposta) tendo em vista o resgate de Portugal (embora, em termos internacionais, o caso mais marcante e acaloradamente discutido tenha sido o grego).

Claro está que a nossa memória histórica dos acontecimentos e do período da crise das dívidas soberanas, perdeu, aparentemente, alguma intensidade com as nossas novas e atuais crises: pandemia, guerra, processo de inflação e escassez de recursos energéticos. No fundo, tudo se pode relativizar! E, na verdade, tudo é mesmo relativo e depende sempre de perceções, da forma de se co- municar a realidade, da capacidade para se dizer o que se quer, ou não, ouvir! A dita austeridade que, mal ou bem, se associa também a Schaubler talvez não tenha provocado, nem de perto, nem de longe, disfunções como algumas que agora vivemos…pelo menos em certos setores. Por exemplo, tive acesso, há poucos dias, a um documento judicial, integrante de um processo que é público (processo comum, correndo termos num Tribunal Judicial do Norte do país – em rigor, no Minho), no qual consta o seguinte (que transcrevo, com os devidos cuidados de anonimização):
“(…) de momento não é possível efetuar a citação da Ré, uma vez que os serviços atravessam grandes problemas derivados da escassez de papel de cópia, por dificuldades dos respetivos fornecedores em garantirem a sua entrega e o (pouco) papel ainda disponível tem, por isso, que ser canalizado para acorrer a situações de absoluta urgência…”
Este estado de coisas poderá ter origem em múltiplos fatores, tais como dificuldades de abastecimentos de mercadorias e de matérias primas, por causa da guerra; escassez aguda de recursos financeiros (situação notoriamente recorrente e, cada vez mais banal); as famigeradas “cativações” prosseguidas como instrumento de execução orçamental, etc. O fato é que, sobretudo quando já perdemos, material e economicamente, um salário ao longo deste presente ano civil, por causa da inflação, as restrições e a austeridade de 2012 (as tais correlacionadas com a figura de Wolfgang Schaubler) parecem ser já uma simples e vaga memória histórica, agora não comparável, sequer, com a dimensão das restrições do nosso quotidiano atual!
Mas o agora octogenário Schaubler voltou esta semana a ser notícia internacional. Novamente, a sua intervenção pública não terá sido propriamente simpática, atrativa, ilusoriamente doce, envolta em “paninhos quentes”. Voltou a ser dura, mas rigorosa. Sibilina. O que disse? Simplesmente que os alemães (assim como os Europeus de um modo geral) têm que encarar de frente restrições e as crises energéticas (integradas, no fundo, no “pacote guerra” … deduzimos nós, a partir do tom e do contexto da respetiva entrevista, emitida pela Bild-TV alemã). “As pessoas deviam choramingar menos e reconhecer que há muitas coisas que não podem ser tomadas como garantidas”, disse Schaubler….
É verdade. Mas será que, mesmo sabendo que é verdade, queremos mesmo ouvir dizer-se isso?!

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