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Ideias
2019-05-28 às 06h00
É impossível escrever estes dias sem notar a expressividade dos resultados das eleições europeias. A real magnitude do impacto do voto popular só poderá ser totalmente aferida no decurso dos próximos meses, ainda que, para o que interessava – a eleição de eurodeputados – as contas estejam fechadas.
À hora que escrevo, os resultados não estão totalmente apurados, mas, ainda assim, o indisputável (e triste) vencedor mantém-se e chama-se abstenção. Neste campo, diga-se, seguimos em linha com o crónico desfasamento face “à média europeia”. Portugal e os portugueses, apesar do seu suposto euro-entusiasmo, foram os sextos piores neste ranking, só tendo sido ultrapassados, no absentismo eleitoral, pelos improváveis “países do alargamento”, com os eslovacos à cabeça. De todo o modo, e para sermos justos, tem de ser assinalado o crescimento do número absoluto de votantes, facto que só não fez diminuir o valor da abstenção porque houve mais eleitores inscritos nos cadernos.
Os outros triunfadores nacionais, os partidos que têm que dar expressão à conversão dos (poucos) votos em mandatos, tiveram sinas muito diferentes.
O PS terá crescido cerca de 2% em termos de percentagem de votos obtida (33,39%), por comparação a 2014 (31,47%), engrossando as suas fileiras de votantes em cerca de 70 mil eleitores. Será isto a vitória que António Costa exigia em 2014 e com que sonhava em 2015? Julgo que é precipitado fazer um julgamento definitivo sobre se se trata ou não de uma vitória “poucochinha”, mas os sinais contraditórios que ontem foram dados pelos eleitores portugueses, deixando o principal partido da oposição a larga distância, mas não permitindo ao PS evoluir significativamente face aos resultados de 2014 e de 2015 (onde o PS obteve 32,3% dos votos), sugerem cautela na análise de qualquer pretenso triunfo futuro nas legislativas. Isto, sobretudo, se atentarmos na questão da conjugação de forças que poderá advir dos resultados de outubro próximo. Também o Bloco de Esquerda tem uma vitória relativa, já que evolui significativamente de 2014 (4,56%) para 2019 (9,82%), duplicando o número de mandatos (1 para 2), sem que, contudo, consiga replicar os 10,19% das legislativas de 2015.
O último dos vencedores é o primeiro dos eurodeputados do PAN, que nunca havia logrado eleger um representante para Bruxelas. Aliás, o PAN é o único partido (pelo menos dos que elegem alguém) que pode cantar vitória sem nenhum “mas”. Não só elegeu um eurodeputado como quase triplicou a percentagem de votos obtida nas europeias de 2014 (de 1,72% para 5,08%), tendo igualmente triplicado o número de votos (de 56 mil para 168 mil). A isto acrescentou o facto de ter mais do que duplicado o número de votos obtido nas legislativas de 2015 (onde captou 75 mil votos). Em suma, o PAN deixou de ser um epifenómeno e conquistou um lugar, por direito próprio, na esfera dos partidos mais relevantes do panorama nacional. De resto, a evolução estratosférica do número de votantes e da percentagem de votos obtida indicia algo para que já chamei a atenção por aqui, então a propósito da necessidade de atualização da agenda política do PSD. As velhas máximas da atividade partidária estão a sofrer um abalo profundo e quem não as souber acompanhar, sem prescindir de um traço genético e identitário bem vincado, não sairá bem dessa instabilidade tectónica.
E o PSD é, inquestionavelmente, dos partidos que mais “sofrem” eleitoralmente, registando o pior resultado da sua história. Mais do que discutir a turbulência interna ou os rostos das candidaturas, deve ser feito um esforço sério na clarificação das ideias e do programa com que se apresenta aos portugueses. Sem prejuízo da necessária pacatez e serenidade na análise dos resultados, o choque de ideias e a dinamização do debate dentro do partido e com total abertura à sociedade civil tem de assumir o protagonismo cimeiro. Se há tempo que chegue para o fazer até às legislativas é outra questão. Veremos…
Finalmente o CDS e a CDU que, cada um à sua maneira, saem negativamente marcados da noite eleitoral.
Do lado dos centristas o falhanço é evidente: em percentagem (8,37%, em 2009, na última vez que concorreram sozinhos às eleições europeias, contra 6,19% no passado domingo), em número de votos (quase 300 mil votos em 2009, contra os 205 mil de 2019) e em mandatos (2 em 2009 e 1 em 2019).
O resultado do CDS só pode ser amenizado pela violência da descida da votação da CDU. Esta coligação é a que mais desce em todos os índices: perde quase 45% no que à percentagem de votos diz respeito (12,7% em 2014 e 6,9% agora), passando mesmo para menos de metade dos votos expressos (416 mil votos em 2014 para 205 mil votos em 2019). Traduzido em mandatos, a CDU passa de 3 para 2 eurodeputados. Um descalabro total.
É certo que outubro está já ao virar da esquina, mas não menos certa é a certeza de que não há duas eleições iguais.
15 Junho 2025
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