Segurança na União Europeia: desafio e prioridades
Escreve quem sabe
2025-01-25 às 06h00
Está a On Holding AG, uma empresa suíça de calçado e vestuário desportivo, envolvida num grande embuste comercial?
Eis a história em versão abreviada. No outono de 2022, a On apresentou os ténis de corrida Cloudneo, uma inovação integrada no seu programa Cyclon. Este conceito revolucionário baseia-se em dois princípios fundamentais: (a) aquisição do produto através de uma assinatura anual de 360 euros; (b) reciclagem total e infinita do mesmo – no final de cada mês, os utilizadores devolvem o par desgastado e recebem um novo.
O propósito é, sem dúvida, louvável: os Cloudneo, projetados para serem 100% recicláveis, não só ajudam a evitar o desperdício como também minimizam significativamente o impacto ambiental associado à fabricação e ao descarte do calçado. A sua criação instancia na prática os princípios da economia circular e da sustentabilidade.
No entanto, tal parece demasiado bom para ser verdadeiro. E, quando algo parece demasiado bom para ser verdadeiro, é quase certo que o não é.
Desde logo, por causa do custo da subscrição. O caro leitor provavelmente começou a fazer contas: se pode comprar um par de ténis por cerca de 100 euros, que lhe durará uns dois anos, por que razão haveria de desembolsar 720 euros, ou seja, sete vezes mais? A resposta, à primeira vista, parece ser a consciência ambiental e o desejo de contribuir para a sustentabilidade. Contudo, não podemos deixar de questionar se não será um preço demasiado elevado a pagar por esse ideal.
Jornalistas do programa de informação de referência da Rádio Televisão Suíça (RTS), Temps Présent, investigaram o Cloudneo e o que descobriram não é nada bonito. Seguiram a sua cadeia de produção completa e as conclusões a que chegaram são preocupantes.
A primeira paragem foi em Marselha, França, na gigante petroquímica Arkema, onde as sementes de rícino, base dos ténis, são transformadas em plástico, num processo que envolve químicos tóxicos e riscos ambientais significativos. Bairros vizinhos têm planos de emergência devido a possíveis libertações de substâncias perigosas.
Em Cremona, Itália, a reciclagem do calçado ainda não começou, apesar de a On Running ter anunciado o modelo Cloudneo como “100% reciclável” em 2023, alterando para “reciclável em mais de 90%” em 2024, o que revela práticas enganosas sobre circularidade.
Em Ho Chi Minh, Vietname, os Cloudneo são fabricados sob condições laborais precárias: jornadas de 10 horas, seis dias por semana, com salários baixos (450 euros mensais), contrastando com a alegada responsabilidade social da marca. Os lucros da On, cotada em Nova Iorque, vêm, pois, da exploração laboral.
Finalmente, a investigação levou os jornalistas da RTS à Índia, onde são colhidas as sementes de rícino utilizadas na produção do plástico. Os trabalhadores indianos, no entanto, acreditam que as sementes serão usadas para fabricar produtos cosméticos naturais e não plásticos. Isso levanta sérias questões sobre a transparência e a ética da cadeia de fornecimento.
O percurso do Cloudneo totaliza cerca de 28.000 km: da Índia a Marselha (6.300 km), depois ao Vietname (10.000 km), seguido da entrega em 34 países (9.400 km) e, finalmente, reciclagem na Itália (2.200 km). Um valor impressionante para um único par de sapatos. E este é apenas o início, já que o ciclo se prevê contínuo.
Eis, pois, que a alegada sustentabilidade e compromisso com a economia circular anunciados pela On Running e pela Arkema se afiguram, na prática, uma fachada, ocultando graves problemas ambientais, sociais e económicos, expondo um produto cheio de enganos e contradições. E tal dista de ser caso único.
11 Fevereiro 2025
09 Fevereiro 2025
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