Entre a vergonha e o medo
Ideias
2014-11-18 às 06h00
A globalização tem destas coisas. Coisas destas. Destas coisas que nos permitem falar com a família e os amigos a centenas ou milhares de quilómetros e em que nos é possível a troca de opiniões, ideias e influências nas nossas tomadas de decisão, tanto ao nível das determinações do dia-a-dia como das determinações mais importantes e que mudam as vidas. Ainda bem que a globalização tem destas coisas, em que nos é mais fácil a distância e que atenua as lembranças de quem se encontra longe.
Os nossos enfermeiros, aqueles que se encontram perto, fizeram greve há alguns dias atrás. Os enfermeiros que são nossos, aqueles que se encontram longe, estiveram solidários e entenderam os motivos desta greve. Fizeram igualmente parte dela, pelas razões que os levam para outros países, para novas experiências e para um contínuo uso - quase obrigatório - das ferramentas da globalização. Os enfermeiros que são nossos entendem, vão vivendo, trabalhando e esperam. Os nossos enfermeiros igualmente entendem, vão vivendo, trabalhando, porém encontram-se um pouco cansados de esperar. Necessitam de ações, de dinamismo, de entropia. Necessitam, acima de tudo, de respostas efetivas, e de eficácia nas decisões.
A globalização continua a ter coisas. Algumas destas que abordamos, outras daquelas que nos permitem ver o nosso país com os olhos dos que estão fora e vivem de maneira diferente. No passado fim-de-semana diziam-me “Ontem lembrei-me de ti” - alguém que está longe e não é enfermeiro. E explicavam-me, “Lembrei-me de ti por causa da vossa greve, vi nas notícias”, e repetiam que se tinham recordado, que não estávamos esquecidos, que ainda somos presentes naqueles que são nossos, mas que fazem parte desse mundo extenso.
Foi bom ouvir que somos parte daqueles que, não fazendo parte do mundo profissional da saúde, procuram outros rumos fora, que somos procurados nas notícias por eles, que fazemos a diferença em algum outro país, perdido por esse mundo fora. Que vamos sendo a diferença neste, que ocupamos e cuidamos.
Igualmente os enfermeiros que são nossos vivem estes momentos. Recordam-nos a nós, os que estamos cá, no sentido de uma maior justiça social e profissional. Para o sentido de (re)construção de um melhor sistema de saúde, de melhores cuidados, de maior apoio às comunidades e populações. E os nossos enfermeiros recordam-nos a eles, aqueles que se encontram longe e que são necessários, de forma urgente e essencial, cá. Entre nós. Connosco. Todos juntos para conseguirmos uma melhor e maior saúde, bem essencial a qualquer estado de vida humana.
Esta globalização moderna, dos dias de hoje e em tendência, sugere-nos que o afastamento é permitido. Aliás, sugere-nos que deve ser fomentado e é quase obrigatório. Todavia, os que não se afastam, os que ficam por opção ou por outras formas imperiosas, são impelidos a lutar por realidades mais coerentes, justas e no caminho de fazer o último bem ao Outro. São impelidos a lutar pelo bem-estar, pelo equilíbrio e pela humanização e, acima de tudo, pelas condições e realidades em que acreditam, e que poderão fazer deles uma melhor e maior Enfermagem. Pela saúde dos que necessitam de nós.
E a globalização tem outras coisas. Outras coisas destas que nos permitem espalhar os sentidos de uma greve e espelhar as emoções de uma classe profissional. Coisas destas que nos permitem viver um dia mais, esperar que vai ser melhor, lutar pelo que se espera a seguir. Nos próximos dias existirá uma nova greve. Que venham mais, por favor.
13 Junho 2025
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