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Com a porta do coração aberta

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Com a porta do coração aberta

Voz aos Escritores

2025-01-31 às 06h00

Fernanda Santos Fernanda Santos

Pingos de chuva rolam pela janela um a um,
num ritmo cadenciado,
salpicando a calçada.

Eu estou só, com a porta do coração aberta,
a escutar o cântico da madrugada
convidando o leitor a dançar
a valsa incerta […]

Nunca me canso de dizer o quanto gosto de escrever com a porta do coração aberta. Só assim deixo entrar a luz, uma ligeira corrente de ar e, em troca, liberto por lá o meu infinito olhar. Num dia chuvoso, esse brilho do sol pelo lado de dentro é o sonho de voar como os anjos. É certo que nem todos os anjos têm asas. Alguns têm apenas o dom de nos fazer sorrir. Ah! Como gosto de quem me faz sorrir! Por isso, deixo sempre aquela porta aberta, para o leitor entrar sem precisar de pedir licença.
Este contínuo convite é bálsamo para a solidão, para aqueles momentos em que o diálogo com o leitor se torna pedra fundamental no desenrolar de uma produção literária, tornando-o parceiro do próprio ato criativo. O leitor é convidado a entrar com tudo o que é seu: as suas angústias, as suas raivas, os dias de sol, os dias de chuva, a sua sabedoria e as suas dúvidas. Assim, os ecos da alma serão escutados pelos dois, numa simbiose de aprendizagem e de criação mútua. Eu aprenderei com o leitor, este crescerá comigo. Juntos vamos dançando a valsa que, como sabemos, são sempre precisos dois para a respetiva execução; juntos desenhamos uma nova aurora, cantando as madrugadas de olhares sem fim…

É que o encontro com o leitor, mesmo que este seja meramente uma criação minha, permite-me expandir a compreensão do mundo, desafiar as crenças e enriquecer as perspetivas. É por meio dessas interações que ambos aprendemos a construir significados de empatia e de compreensão mútua.
Imagine, caro leitor, um céu noturno imaculado, uma manta de estrelas que se estende até ao infinito, e uma sensação de admiração que transcende o tempo e o espaço.
Observar as estrelas permite-lhe testemunhar a vastidão do universo, lembrando-o de um mundo maior, fora das suas preocupações diárias.
Eu, apesar da idade, não me acostumo à vida rotineira. Pelo contrário, gosto de vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca, numa espécie de corda bamba. Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição.

Há em mim um desejo de intensidade e de autenticidade. Viver como se estivesse numa corda bamba é um desafio maior a cada embalo, pois permite-me ter experiências significativas em vez de deixar-me levar pela monotonia.
A vida poderia ser simples, mas não é. Poderia apenas sentir, sem precisar entender. Amar, sem temer a perda. Existir, sem carregar o peso das escolhas.
A vida tem labirintos, altos e baixos, e tantas perguntas sem resposta. Contudo, talvez seja exatamente isso que a torne tão especial. Por vezes, é no meio do caos que aprendemos a valorizar a paz. É no meio da incerteza que descobrimos a coragem. É no meio da complexidade que encontramos a beleza das pequenas coisas.

Então, caro leitor, não será a vida uma dança entre a segurança da rotina e a emoção da novidade? Em qual dos patamares se posiciona? Eu, sonhadora por natureza, penso que aproveitar cada suspiro e cada instante é uma forma de celebrar a existência. Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. Esquecer em cada poente o dia anterior e saborear o gosto dos frutos ainda por nascer.
É com a porta do coração aberta que o convido a beber as delícias das manhãs e, em cada renascer, crescer e viver.

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