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Comida fria? (Crise energética)

Ideias

2021-10-30 às 06h00

Pedro Madeira Froufe Pedro Madeira Froufe

Em abril do corrente ano, o preço médio do megawatt de gás natural, nos mercados internacionais (nomeadamente, naqueles que abastecem a Europa) era de 20,22 Euros. Segundo as informações que vão sendo veiculadas pela imprensa especializada, atualmente (mês de outubro de 2021), nos mesmos mercados, esse preço subiu, pelo menos, 6 vezes, tendo já chegado a atingir os 136 Euros/megawatt. Importa referir, em defesa própria, porventura justificativa de alguma imprecisão terminológica em que possa incorrer, que não domino tecnicamente esses mercados em geral, nem a respetiva tecnologia em especial. Limito-me a pensar a partir de dados que vão sendo públicos e que foram servindo, durante o fim do primeiro semestre, para alertar quem se interessasse por esta problemática energética – mesmo não sendo um especialista! Por outro lado – ou, em rigor, talvez pelo mesmo lado, embora observando outra dimensão do nosso consumo energético – cerca de 1/5 da eletricidade que consumimos na Europa depende do gás natural.

Na realidade, o gás natural é o segundo combustível mais utilizado na União, logo a seguir ao petróleo e seus derivados. Continuando a perceber algumas das incomodidades e riscos que atualmente vivemos, através de dados quantitativos, parece-nos relevante salientar que, em 2019, 90% das importações europeias de gás natural tinham origem em países terceiros. A Europa depende, portanto, de terceiros (desde logo, da Rússia que fornece 43,4% do gás “europeu”), para se abastecer.
As razões para esta escalada de preços são relativamente conhecidas: existe, com o progressivo retorno à nova normalidade de vida pós e/ou paralela à pandemia, uma pressão muito grande do consumo, sobre a oferta. Por outro lado, a capacidade produtiva ainda não recuperou das mazelas infligidas pelo covid-19. Isso (razões imputadas, direta e indiretamente, à pandemia global) e também alguma instabilidade política e estratégias geopolíticas de algumas potências (Rússia, desde logo), provocam esta situação de hiperpressão da procura sobre a oferta de gás natural e, consequentemente, catapultam a inflação na União – em especial, na “zona euro” – para níveis inabituais: no decurso do presente ano, a inflação subiu 3,4%, sendo que no setor energético em particular, essa subida foi de 17,5%.

Esta situação, este estado de coisas tem muitas implicações que fazem com que se avizinhem tempos “muito (pouco) interessantes”. Pelo menos, corremos esse risco, na União. E em Portugal, em particular que acaba por ter uma economia cronicamente fraca, pouco produtiva e pouco competitiva. Muita dessa tibieza económica crónica nacional resultava, também, do preço excessivo que as nossa empresas sempre pagaram pela energia. Agora, a situação agravou-se. Ademais, com crises políticas, com negociações orçamentais que mais pareceram “leilões” orçamentais, com pequenos atropelos ao “espírito” do Estado de Direito que notamos (se tivermos um olhar atento) no nosso quotidiano (abordaremos, noutra oportunidade, esta questão), o risco de vivermos, brevemente e em Portugal, uma espécie de “tempestade perfeita”, é grande…

Soluções? A prazo, com efeitos creditados em benefício do nosso futuro, essas soluções poderão passar pelo que enunciou a Comissária da Energia, Kadri Simson: reforma do mercado do gás, aquisição conjunta, “federalizada”, do gás natural pela União, em benefício dos Estados membros, investimento tecnológico tendente a aprimorar as capacidades de armazenamento e a segurança do aprovisionamento de energia, alívio (nacional) dos impostos e mais concorrência no setor energético. Isso implica também criar-se uma verdadeira política de defesa e segurança comum. Política essa voltada, sobretudo, para a segurança e autonomia tecnológica (a ideia de “soberania tecnológica” europeia) e não tanto para a formação de forças armadas convencionais….
Mas, claro está, a curtíssimo prazo, poderemos confrontar-nos, na União, com a necessidade de escolher entre ter os bolsos um pouco menos vazios ou, no inverno que se avizinha, aquecermo-nos (gastar energia)!

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