Correio do Minho

Braga,

- +

Como nasce um livro?

Portugueses bacteriologicamente impuros

Como nasce um livro?

Escreve quem sabe

2025-02-24 às 06h00

Álvaro Moreira da Silva Álvaro Moreira da Silva

Sempre admirei o cantor Nick Cave. A sua música, de tons graves e normalmente alimentada por uma carga emocional acentuada, envolve-nos de forma bastante profunda e prazerosa, remetendo-nos para momentos de silêncio e introspeção. No passado fim de semana tive esse privilégio de me sentir assim, mais leve por momentos, assistindo à apresentação do novo livro de Soni Esteves «As voltas que o rio dá – e outros contos», publicado pela Edições Morfema. O evento decorreu na Biblioteca Lúcio Craveiro pelo meio da tarde. Naquele espaço, que já nos habituou a sessões e pessoas muito agradáveis, a escritora procurou estabelecer uma atmosfera emocional intensa, colocando a música «Into My Arms» como mote de entrada. Gostei bastante. Acredito que o propósito terá sido a conexão e o relaxamento, objetivos plenamente conseguidos. Que o diga o simpático senhor, sentado no centro da sala, cujo roncar parecia querer sugerir um novo arranjo musical para a melodia do cantor australiano.

Depois de ter escutado com atenção as palavras proferidas pelos intervenientes do painel, fiz um resumo mental sobre as principais etapas necessárias para fazer nascer um livro. Afinal, quais serão os ingredientes indispensáveis? O nascimento de um livro tem diversas etapas e variados intervenientes. Desde o papel do autor que projeta as suas ideias num manuscrito, a do editor que posteriormente o lê, revê e concretiza com a sua equipa, até à apresentação final aos leitores e consequente distribuição, são tudo estágios de um longo e, não raras vezes, sinuoso processo.

Infelizmente, os desafios que os protagonistas enfrentam parecem fáceis aos olhos de muitos mas, só aqueles que “metem as mãos na massa” conseguem perceber o quão árdua poderá ser esta tarefa. Digo-o na primeira pessoa, como autor do recente livro «Retalhos do Retalho», consolidado a partir de várias crónicas escritas para este jornal, e recordo o quão difícil foi passar as minhas experiências e ideias para o papel. De facto, transportar rascunhos mentais para algo concreto, palpável e original, requer não só conhecimento e experiência, como também alguma habilidade, resiliência e muitíssima paciência. Em paralelo, acredito, honestamente, que qualquer escritor que pretenda abraçar uma jornada semelhante necessitará, não só de criar a sua rotina, como também de manter-se motivado e apaixonado pelo que escreve ao longo da jornada, sem sucumbir às dificuldades que lhe forem surgindo.

A segunda etapa tem início quando o manuscrito é findado. Geralmente, o escritor encontra-se perante um dilema relacionado com a seleção de uma editora credível capaz de o orientar e auxiliar no lançamento do seu livro. Para que este passo se concretize com rigor, a editora deverá ter um papel bastante transparente e colaborativo. Por exemplo, proceder a uma avaliação inicial e honesta do manuscrito, procurando através da sua revisão, identificar e sugerir não só correções estruturais e gramaticais, como também, porventura, pontos de possíveis melhorias.

Se a revisão e aferição linguísticas são etapas essenciais, a terceira etapa foca-se na componente visual do produto. A edição gráfica, a posterior publicação e distribuição são os desafios que se sucedem. Por exemplo, projetar o contexto e objetivos do livro numa agradável capa e contracapa, definindo os seus tamanhos, cores e fontes apropriadas, alinhadas com as sugestões do escritor, são tarefas de não menos complexidade e exigência.
Num mercado onde as margens de lucro são substancialmente reduzidas para as pequenas editoras, encontrar uma que acredite em si e nas suas ideias, que o auxilie nos processos de edição, publicação e até distribuição, não é tarefa fácil. Enquanto as grandes editoras, se focam maioritariamente em maximizar os seus lucros, por exemplo, apostando em autores renomados ou narrativas mais comerciais, as editoras mais pequenas procuram adotar uma abordagem diferente, mais próxima do autor, oferecendo-lhe mais liberdade criativa e uma atenção mais personalizada.

Se está em vias de iniciar uma jornada deste calibre, tenha em mente que o caminho não será de todo fácil, mas será muito gratificante. Não desista e acredite em si! No final, o seu manuscrito irá voar nas asas de um excelente livro. Será o reflexo da sua dedicação e paixão pela escrita, tal como aconteceu neste bonito livro com que a Soni nos presenteou.
* com JMS

Deixa o teu comentário

Últimas Escreve quem sabe

15 Junho 2025

Os nomes que me chamaram

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho