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Construir Pontes em Tempos de Divisão

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Construir Pontes em Tempos de Divisão

Ideias Políticas

2024-11-12 às 06h00

Ana Macieira Ana Macieira

A recente reeleição de Donald Trump à presidência dos EUA marca um momento significativo no panorama internacional e acende debates complexos sobre o futuro das relações transatlânticas. Para uma social-democrata portuguesa, a continuidade de Trump no poder representa um desafio e uma oportunidade para a União Europeia repensar a sua autonomia, especialmente em áreas como defesa, economia e diplomacia, mas também a justiça social e equidade que precisam ser reafirmadas em tempos de polarização global.
Trump sempre defendeu uma postura mais isolacionista e nacionalista, enfatizando o lema "America First" e, desta forma, deixando claro que as alianças tradicionais, como a NATO e a relação histórica com a UE, não estariam imunes a alterações. Para a UE e para países como Portugal, que tradicionalmente veem os EUA como um aliado estratégico, a eleição de Trump pode forçar uma adaptação rápida e uma visão mais independente. A UE, por sua vez, terá de fortalecer a sua posição no cenário global, investindo numa maior autonomia em áreas cruciais como a defesa e a segurança.
Acredito que a força da UE reside precisamente na sua capacidade de união e no respeito por valores democráticos e de justiça social. Nesse sentido, o retorno de Trump pode ser encarado como uma oportunidade para que a UE tome as rédeas do seu próprio destino, fortalecendo a cooperação interna e desenvolvendo políticas mais coesas. Para a Europa, é imperativo que esta união seja orientada não apenas pela segurança, mas também pela defesa de valores sociais fundamentais.
Com Trump novamente na Casa Branca, é previsível que a pressão sobre os países europeus para aumentarem os seus gastos com a defesa se intensifique, especialmente para aqueles que não cumprem as diretrizes de 2% do PIB, como é o caso de Portugal. Esta é uma questão delicada: por um lado, é inegável a importância de fortalecer a capacidade de defesa europeia, para reduzir a dependência de um parceiro imprevisível como os EUA; por outro lado, é essencial que os países mantenham um equilíbrio entre os gastos em defesa e os investimentos em áreas sociais fundamentais, como saúde, educação e habitação.
Assim, a UE deve focar-se em construir uma autonomia estratégica que não se limite a incrementar o poderio militar, mas que inclua políticas de segurança multidimensional, abarcando também a segurança social e económica dos cidadãos.
A vitória de Trump é também um sinal da persistência de forças nacionalistas e populistas, que têm ganho espaço em várias democracias ocidentais. Esses movimentos frequentemente exploram o descontentamento da população com a globalização e a migração, oferecendo respostas simplistas. Este é um sinal de alerta, pois a ascensão do populismo revela as fragilidades e as desigualdades dentro das próprias democracias.
Trump, que sempre usou uma retórica agressiva e divisiva, representa uma corrente que valoriza o individualismo e a supremacia do mercado sobre os direitos sociais. Na Europa a resposta a estas ameaças deve passar por um fortalecimento das instituições democráticas e pela implementação de políticas inclusivas, que abordem diretamente as causas do descontentamento popular. É urgente que a Europa desenvolva estratégias que combatam a desigualdade e promovam uma distribuição mais justa da riqueza, para que o populismo não continue a atrair aqueles que se sentem deixados para trás. Em tempos de divisões e incertezas, a Europa deve ver o regresso de Trump como um apelo a que se reforcem os seus valores fundamentais, promovendo políticas de inclusão e solidariedade. É um momento para que a União Europeia olhe para si mesma e se reconstrua como um bloco coeso e autosuficiente, não apenas na defesa e na economia, mas também no compromisso com a justiça social e a sustentabilidade.
O desafio está lançado: cabe à UE liderar com coragem e visão, construir pontes e reafirmar o compromisso com os valores que sustentam a paz, a prosperidade e a dignidade humana.

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