A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2018-09-03 às 06h00
Somos um país centralizado, com elites concentradas em Lisboa e com os poderes de decisão que convergem para uma capital que se desenvolve a uma velocidade que nada tem a ver com o ritmo médio da nação. É assim desde sempre e, até hoje, ninguém conseguiu resolver este profundo desequilíbrio. Que paradoxalmente afeta a maior parte da população. Poder-se-ia responsabilizar os sucessivos governos por isso, mas o problema é mais profundo e pode equacionar-se numa lógica de causa e efeito.
Os bons exemplos acumulam-se em diversas geografias, mas não é preciso fazer uma longa viagem para perceber o nosso atraso em termos de desenvolvimento das nossas regiões. Basta dar um pulo ao país vizinho para compreender que crescemos mal enquanto país. É claro que não podemos ignorar as centenas de quilómetros de terreno árido que Espanha acumula e que felizmente nós não replicamos, nem tão pouco fechar os olhos às dezenas de vilas-fantasma que se multiplicam por um território onde há muito a população fugiu para os centros urbanos, mas do outro lado da fronteira encontramos um conjunto razoável de cidades com um expressivo desenvolvimento, o que esbate muito o poder de Madrid. Veja-se os casos de Barcelona, Valência ou Málaga. Portugal não tem essas cidades. Que se afirmam pela força económica, mas também vingam social e culturalmente.
Seria tentador contrapor à capital espanhola a região da Catalunha para falar da capacidade que o país vizinho teve em criar uma outra região forte, mas afastemo-nos de exemplos óbvios. Deambulemos um pouco pelo norte espanhol e percorramos os duzentos quilómetros que ligam San Sebastian a Santander, passando por Bilbau, para estabelecer a comparação com aquilo que encontramos a norte de Portugal. O desenvolvimento é profundamente desigual e uma das explicações passará sempre pela autonomia que as regiões espanholas conquistaram. E que as fizeram avançar a diferentes níveis.
Por cá, continuamos a fazer contas de merceeiro que não nos levam a lado nenhum. Nesta legislatura, o Governo propôs aos municípios a transferência de algumas competências e estes cedo reagiram, exigindo financiamento condizente com as novas responsabilidades. Será essa uma justa reivindicação, mas não é esse suave caminho que neutralizará as atuais assimetrias. Para tal, exigem-se outras opções políticas que dotem verdadeiramente as regiões de mais autonomia em áreas estruturantes de desenvolvimento. E disso ninguém fala.
É curioso não haver qualquer vaga de fundo que coloque este debate na ordem do dia. As forças políticas poderiam ser aqui poderosas âncoras para erguer a bandeira de uma maior autonomia para as regiões, mas a verdade é que as direções partidárias constituem fortes travões contra movimentos que possam emergir das periferias pondo em causa o centro. Por outro lado, a dita sociedade civil poderia conquistar aqui algum espaço de afirmação, mas o chamado resto do país revela-se paupérrimo em matéria de elites. Olhando para o país que somos, é muito difícil encontrar atores com expressão nacional fora da região da Grande Lisboa. Por isso, são muito poucos aqueles que têm força para impor os seus argumentos a favor de determinada tese.
E assim lá vamos continuando a ser um país que se decide em Lisboa. Aqui e ali, criam-se ilusões neste ou naquele ator de que há uma passagem do poder que a capital concentra. Não há. Nas questões importantes tudo é desenhado ao centro e este não tem qualquer interesse em quebrar essa lógica de funcionamento. E o chamado resto do país lá continua vergado às decisões tomadas em gabinetes situados a centenas de quilómetros, continuando a ser cúmplice de uma estrutura circular de atraso nacional em que todos nos temos afundado desde sempre. É preciso, pois, coragem para quebrar esta organização que tanto tem travado o nosso crescimento.
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