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Ideias

2019-02-22 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

OPartido Socialista é uma espécie de PME familiar, uma sorte de sociedade de responsabilidade limitada e vantagens sem limite entre casalinhos, entre papás e filhinhas, entre conjurados de longa data, que famiglia não sendo, por tal bitola afinam, com bênçãos e beneplácitos em favor dos destinos fulgurantes dos manos de convénio. E valesse a irmandade de berço pela irmanação avulsa de pacto e de jura.
A cumplicidade incontestável, quando não os laços de sangue ou as promessas de eterna fidelidade, são a liga notável de tungsténio que solda o Partido e que protela um eventual Governo para lá do ponto crítico de fusão, vale dizer de desagregação. Sócrates, no seu paroxismo, foi a excepção cataclísmica, mas, ao mesmo tempo, o exemplo acabado da cegueira volante em que assenta a perenidade socialista por oco nome. O socialismo dos socialistas é um adjectivo de contrafacção, é uma etiqueta que exalta sucatas e quinquilharias, é uma máscara primorosa de carnaval veneziano.
Honrassem os bem-dados socialistas o nome que portam, atraísse o grémio eleitoral e promovesse os espíritos progressistas comprometidos do tutano à saliva com o bem comum, e um que por outro viria a terreiro com a clarividência infantil de quem profere um contra-encantamento, de quem ingénuo clama «o rei vai nu!». Deslumbramentos que se dissipam! Pelota que salta a olho na sua sumptuosa murchidão!
Na solidez de princípios e na robustez de axiomas se funda o bem comum. Pela igualdade salarial de homens e mulheres se eriça Portugal, e institui executivo de socialismo puído um salário mínimo bicéfalo, de crista de trintena e meia de euros superior para os serventes das administrações! Por força de quê? Da maior facilidade de mobilização para o exercício da greve? Porque uma função pública contentada assim-assim pesa no desfecho de eleições? Por argumento comezinho nenhum, apenas por o senhor primeiro-ministro ser intrinsecamente defensor de uma sociedade de castas? E eu que brâmane não sou!
Não fosse o Partido Socialista um condomínio fechado, onde se entra por convite nominal, e cada um dos que por utópico delírio franqueasse relvado de inspirar delícias poderia dizer ao que vinha, e desmascarar em mano-a-mano os freis Tomás que muito apregoam e pouco fazem. Abstenho-me de espraiar uma teoria dos grupos e da liderança, mas se um líder se vê compelido a lustrar figuras em tômbola restrita, das duas uma: ou não há mais ninguém, ou a maioria dos existentes não pensará como ele, e apresente-se quem abdique dos confortos do unanimismo.
Para que contam os ideais? Será Abel igual a Caim, não se fará o mundo de gradações? Em que prática socialista o compincha ou o familiar precede o portador de ideias enformadas e rasgo negocial para as equilibrar com as pretensões igualmente legítimas dos adversários?
Concedo que o chá possa ser servido em mesas vizinhas, a grupos de convivas similarmente propensos ao amiguismo e a tachos de fundo corrigido para familiares de graus primeiros, mas não há como não verberar os socialistas de pacotilha: pois não se arrogam eles de superioridade moral a toda a prova? Não são eles os pais da Democracia, do SNS, da Educação, do diabo a quatro, em suma?
De rara competência sejam a mulher e o marido, a filha e o pai, o camarada fidelíssimo, estranho é que os valores inflacionados de um País se encontrem na entourage privilegiada do chefe da banda. Ou, escassos sendo, realmente, que faça o senhor ministro uma OPA hostil sobre o nome em saldo da «raríssimas». Ajusta-se, e ficávamos conversados.

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