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Braga, sexta-feira

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Da Avenida da Liberdade para a cidade

Analogias outonais

Da Avenida da Liberdade para a cidade

Ideias

2024-09-08 às 06h00

Mário Meireles Mário Meireles

Há 12 anos que tenho vindo a defender, a par das pessoas que têm composto os órgãos sociais da Braga Ciclável, a necessidade de redistribuição do espaço público da Avenida da Liberdade, bem como na Avenida 31 de Janeiro, na Avenida Padre Júlio Fragata, na Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, na Avenida João Paulo II, na Avenida João XXI e na Avenida Imaculada Conceição, entre outras ruas.
O eixo da Avenida da Liberdade, outrora a principal Avenida da cidade, era calcorreando por centenas de adeptos que se deslocavam ao Estádio 1.º de Maio ou ao Pavilhão Flávio Sá Leite. Mantém a sua importância na festa da cidade, o São João, mas também é importante para os transportes públicos e para a ligação do centro histórico ao Rio Este, ao Parque da Ponte e ao Monte do Picoto.
Ainda a ligação entre a Arcada e a Ponte São João era feita através de três ruas exíguas e ziguezagueantes e já uma linha de elétrico atravessava todo este eixo, estendendo-se até ao Cemitério de Monte de Arcos. Nessa altura o transporte público em canal dedicado prestava um serviço de 10 em 10 minutos e começava naquela que era, à data, a periferia da cidade.
Depois de casas e até uma igreja terem sido demolidas, nasceu a Avenida da Liberdade. O túnel surge apenas em 1994, a par de uns atravessamentos pedonais subterrâneos soviéticos. Para além do prolongamento do túnel, que empurrou o transporte público para longe do centro histórico, poucas mais mudanças tinham existido ao longo desta Avenida.
Em 2023 o Município de Braga arrancou com uma obra de regeneração e redistribuição do espaço público na Avenida da Liberdade.
Estranhei ver que não se optou por criar uma galeria técnica sob o passeio, arrumando todas as instalações enterradas nessa galeria e deixando ali espaço para novas redes e para as manutenções necessárias nas existentes. Limitou-se a substituir as redes existentes, mantendo-se enterradas de qualquer maneira por toda a largura da via pública. Já depois da obra concluída, foram efetuados buracos para pequenas reparações e ligações, deixando já o piso remendado.
Estranhei que não se tenha optado por trazer para a superfície o WC público que existe num dos acessos enterrados soviéticos junto ao Hotel Mercure. Optou o Município por manter um WC público inacessível, ao invés de colocar um WC público moderno e acessível à superfície.
A opção por se manterem lugares de estacionamento na via pública nesta Avenida carece da introdução de medidas que promovam a sua rotatividade. O que ainda se vai observando são carros estacionados em 2.ª fila, obstaculizando o trânsito.
Há ainda uma carência nos lugares de cargas e descargas ao longo desta avenida: a sua fiscalização e efetiva utilização por parte dos comerciantes que deles necessitam. Isso leva a que muitas vezes vejamos carrinhas a descarregar na via de trânsito, porque os lugares destinados a cargas e descargas estão ocupados com carros estacionados. Um problema, aliás, existente em toda a cidade e que o Município não tem conseguido resolver.
O que mais estranhei nesta redistribuição foi a falta de via BUS, promovendo assim uma vantagem para o transporte público. Continuamos com autocarros no meio das filas de trânsito nas horas de ponta, atrasando e tornando ineficiente a utilização do transporte público.
De louvar são os atravessamentos pedonais ao longo de toda a Avenida, tendo passado o número de atravessamentos de nível de três para oito, todos sobrelevados e com semáforos. Quem anda a pé, de carrinho de bebé ou se desloca em cadeira de rodas ficou a ganhar.
A introdução de árvores ao longo de toda a Avenida, especialmente a sul da Avenida Imaculada Conceição e Avenida João XXI, é também um ponto positivo, pois vai permitir um ambiente mais fresco.
A redistribuição do espaço da faixa de rodagem para que esta passe a contemplar ciclovia, protegida ao longo de toda a sua extensão, com as boas práticas introduzidas na presença de paragens de transporte público, é também de louvar. Em 90% da Avenida a ciclovia surge pela redistribuição do espaço que estava anteriormente dedicado ao automóvel. No entanto, falta a ligação a outras ciclovias para que surja o efeito de rede. Há pormenores a melhorar ao longo da ciclovia.
Quando a pista ciclável e o passeio estão ao mesmo nível, o piso das bicicletas ser mais confortável do que a calçada portuguesa para os peões cria conflitos que podiam ser evitados.
Com a promessa do Presidente da Câmara e da Vereadora de que nas Avenidas onde passará o BRT haverá ciclovias, ficaríamos a ter a Avenida da Liberdade ligada em rede à futura ciclovia da Avenida João XXI e Avenida Imaculada Conceição, formando assim uma rede estruturante. Mas será que vamos mesmo ver essa promessa a ser cumprida? Os documentos disponibilizados para a elaboração do Estudo Prévio do BRT parecem demonstrar que não, mas ainda vão a tempo de corrigir.
Os semáforos claramente não estão ainda a funcionar corretamente, nem de forma inteligente. É preciso que os mesmos passem a ser efetivamente inteligentes e respondam ao volume de tráfego automóvel, de pessoas a pé e de bicicleta, e se ajuste a abertura dos mesmos a cada momento.
Haverá sempre aspectos de detalhe a melhorar, mas no geral o resultado é positivo para a mobilidade ativa, ficando a faltar o espaço dedicado para os transportes públicos circularem. Hoje, há Liberdade de escolha do modo de transporte na Avenida da Liberdade, sem se ter medo de não chegar ao destino.
Partindo da Avenida da Liberdade, redistribuindo o espaço da faixa de rodagem para o transporte público e efetuando ligeiras melhorias, o desenho está encontrado para as restantes avenidas, que são todas mais largas do que a da Liberdade. 
É preciso dar escala e criar efeito de rede, para que as pessoas passem a ter verdadeiramente opções de mobilidade, terminando assim com a imposição do uso do automóvel e permitindo a cada um escolher o modo de transporte mais adequado à sua deslocação, sem ser impedido de fazer a escolha por ter medo da infraestrutura onde se vai deslocar. A mobilidade induz-se.

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