Uma ação deita por terra o trabalho de anos!...
Escreve quem sabe
2023-10-24 às 06h00
Poucos são aqueles, para além dos próprios profissionais de saúde, que compreendem na medida certa a necessidade que existe em melhorar as condições dos serviços de saúde atuais. Obviamente que todos compreendem a real indispensabilidade das pessoas que atuam neste âmbito, todavia, nem todos conseguem verificar a escassez relativa aos recursos humanos e as falhas que existem ao nível dos recursos materiais na saúde. De facto, muitas vezes é somente após uma experiência concreta que é possível que alguém se aperceba disto, pois foi visado de forma negativa por estas faltas. Ainda assim, é urgente que se fale das condições da saúde no país, de maneira a que esta fique mais saudável.
Por todo o país assiste-se à formação de filas de espera nos centros de saúde e nos serviços de urgência, assim como ao incremento do risco associado a um parto, a uma cirurgia ou até um simples exame físico – e, verdade seja dita, o país não se circunscreve a Lisboa, não podendo os portugueses que se encontram mais afastados da capital ser discriminados em relação aos serviços de saúde. Há falta de enfermeiros e há falta de médicos, porém, o cenário é ainda pior, visto que também existe uma certa (elevada) míngua em relação, por exemplo, a psicólogos, administrativos, fisioterapeutas e até assistentes operacionais. Mais, os hospitais estão repletos de gente doente e/ou em recuperação que não tem como sair de lá, os cuidados continuados são escassos e a saúde comunitária encontra-se alojada muitas vezes em locais sem condições físicas para bem promover a saúde da população.
Se se abordar as questões do material clínico, verifica-se que este é pouco e quiçá com pouca qualidade, comprometendo os cuidados de saúde que são prestados. Na verdade, tenho alguma dificuldade em compreender como se pode sequer pensar em providenciar subsídios de deslocação para alguns funcionários públicos (deputados incluídos, que já o recebem) quando a situação a nível da saúde se encontra bastante frágil, necessitando de um reforço urgente. Aliás, penso que a maior força naquilo que é a defesa da saúde não é estabelecida por meio dos seus profissionais, mas sim pelas pessoas que dependem dos seus serviços, ou seja, todos nós que usufruímos do nosso Sistema Nacional de Saúde (SNS). E, talvez, se fizéssemos um pouco mais de pressão em conjunto, em defesa do nosso SNS, as condições dos nossos profissionais e das unidades de cuidados iriam com certeza melhorar.
Ainda assim, aqui tenho, claramente, de fazer valer a profissão onde me insiro, a da enfermagem, pois existe uma contínua necessidade de valorização da mesma, que passa não somente pela ação dos próprios enfermeiros, porém igualmente por aquilo que deve ser a posição da sociedade em relação à mesma. Os dados mostram-nos que temos falta de enfermeiros em Portugal – vejam-se as estatísticas que são resultado do Sistema de Classificação de Doentes em Enfermagem ou, então, as comparações realizadas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos –, o que prejudica seriamente a saúde do país, em especial quando se tem em conta a quantidade e a qualidade de recursos disponibilizados. Um maior número de enfermeiros significa uma maior aposta na saúde, na sua promoção e na prevenção de problemas. Veja-se: a nível comunitário são os enfermeiros os profissionais de saúde que melhor conhecem a população de quem cuidam, sendo agentes de proximidade e de atuação rápida.
No entanto, é interessante verificar como existem interesses que, infelizmente, ainda afetam a contínua evolução da enfermagem portuguesa, como por exemplo os discretos entraves ao total acesso a um ensino universitário, a valorização do saber científico a nível salarial ou, até, a diminuta possibilidade de formação e de reflexão científica que é concedida nos espaços das unidades de saúde. É necessário, e urgente, que a enfermagem em Portugal seja valorizada, quem sabe até mais protegida pelos próprios indivíduos que dela fazem usufruto – e também por aqueles que decidem. Além do mais, é igualmente primordial que os próprios enfermeiros façam uso da sua voz e do seu valor, em particular de forma coletiva, de forma a estabelecer limites e objetivos concretos, sem perder de vista aquilo que é o seu fundamento enquanto disciplina e a sua respeitabilidade profissional.
Acredito na mudança que é trazida pelo futuro, e pelo conhecimento que as pessoas vão adquirindo através das suas experiências com as pessoas que compõem o SNS. É pelo contato direto, pela relação, que todos vamos sabendo das condições em que o mesmo se encontra, mas, cabe a cada um de nós valorizar o SNS exatamente por aquilo que é, algo que deve ser para todos e em todo lado, de forma a que não exista discriminação ou privilégio. Ainda assim, acredito igualmente na valorização dos profissionais de saúde, em especial dos que dão corpo à enfermagem, que pode passar pela alavanca do desenvolvimento do conhecimento científico, pela dignificação através do reconhecimento e, identicamente, pela luta organizada em conjunto. Aliás, se cabe aos enfermeiros cuidar do desenvolvimento da própria enfermagem, então cabe a todos os restantes a sua defesa e valorização – afinal, quem não necessita de cuidados?
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