Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2021-10-26 às 06h00
1.Começa o Outono e com ele iniciam-se as travessuras do Orçamento do Estado: uns querem, outros não, alguns querem mais, outros menos. Por vezes é complicado andar a par das mudanças e negociações que se vão estabelecendo, visto que de manhã é de uma forma e de tarde pode ser outra coisa totalmente diferente. É um ritual anual, embora desta feita muito marcado pelas questões COVID e que ainda nos prendem a pormenores de importância. Tenho alguma pena que a exclusividade no Serviço Nacional de Saúde seja algo incomodativa para a classe médica, mas, na verdade, também o Estado gastou bastante com a formação desses profissionais de saúde - basta ver-se o valor das propinas do curso de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, que correspondem ao custo não exagerado de uma formação tão específica. Essa pena surge porque o Serviço Nacional de Saúde não é composto apenas por médicos, mas também não é claro se essa exclusividade se destina a todos os restantes profissionais dessa esfera. Fico com dúvidas, eu e muitos: afinal, como será tudo isto concretizado? E, infelizmente: quem vale mais nesta dança?
2.Ainda acerca do Orçamento do Estado: surgem algumas questões relacionadas com as andanças da saúde mental – é de lamentar que sejam apenas algumas. Muita energia se tem despendido com a exclusividade da classe médica, porém pouca se tem direcionado para as questões da saúde mental e dos cuidados no âmbito da psiquiatria. Esta área mantém-se como o parente pobre da saúde, aí não há novidade. Fala-se sobre continuidade, mas gostaria de perguntar: continuidade de quê? O Plano Nacional de Saúde Mental continua sem ser concretizado e a Rede Nacional de Cuidados Continuados e Integrados de Saúde Mental tem sido uma miragem, apresentando parcas tentativas de funcionamento. Mais: existem poucos profissionais de saúde dedicados a esse assunto e grande parte deles está concentrada nos hospitais dirigidos pelas ordens religiosas. Falta formar pessoas nesta área e falta sensibilização das comunidades para a mesma, visto que as desigualdades sociais e o estigma são fontes de dificuldades e problemas. Qual o plano a médio prazo para esta situação?
3.E agora, não sobre o Orçamento do Estado, mas sim acerca do corpo docente do ensino superior – que, no fundo, também devia dizer respeito a esse Orçamento. Esta é a realidade: os docentes do ensino universitário e politécnico encon- tram-se envelhecidos, cansados e, infelizmente, não caminham para números de grande produtividade. Veja-se: temos, por um lado, jovens que entram no ensino superior, que são «novos» todos os anos, pois todos os anos têm dezoito anos de idade; por outro lado, temos todos os anos os mesmos docentes, por quem os anos passam. A experiência do tempo é fundamental e é muitas vezes do contraste de gerações e de ideias que surgem novas dinâmicas de investigação e práticas pedagógicas transformadoras. Ainda assim, é pedido cada vez mais a estes docentes para que aumentem os seus níveis de publicação, que mantenham o número de horas letivas, que interajam mais com a comunidade.
No fundo, é-lhes pedido que sejam (quase) atletas olímpicos da academia, em que os níveis de competição são assoberbantes e esmagadores. Os rankings, e tudo o que encontra à volta do seu processo, é complexo, exigente e contínuo. Todavia, penso que devia ser deitado o olho mais vezes à satisfação e qualidade de vida no trabalho dos docentes do ensino superior – aposto que as surpresas que daí surgissem talvez fizessem pensar quem se encontra nos órgãos de decisão e gestão. O que é certo é que a fadiga se encontra instalada, mas aquilo que é pedido vai sendo ampliado ano após ano. Até quando mais estes docentes conseguem aguentar as contradanças?
15 Junho 2025
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