Um batizado especial
Ideias
2022-10-29 às 06h00
Afinal, aparentemente, a política no Reino Unido não se “italianizou”. O partido Conservador, detentor de uma significativa maioria (absoluta) na Câmara dos Comuns (no Parlamento), acabou por escolher, 45 dias depois, aquele que se dizia ser o ministro mais bem preparado de Boris Johanson: Rishi Sunak.
Não se “italianizou”, mas quase…pelo menos, pairou no ar essa hipótese. Por “italianização” pretendemos referir não só um certo estado caótico e pouco compreensível das decisões políticas internas, por vezes contraditórias entre si (um certo tom de “opereta bufa”, para quem observa de fora e, naturalmente, sem sentir as lógicas e os interesses motivacionais dos agentes políticos e dos eleitores), mas também a hipótese de o sistema (inglês) recriar uma espécie de Berlusconi, um político recorrente e sempre mais ou menos presente, direta ou indiretamente, no poder. Recorde-se que é esse o caso de Berlusconi, desde da década de 1990, em Itália. Com efeito, chegou-se a colocar a hipótese de, apenas 45 dias depois de ter saído do poder, Boris Johanson regressar. Tal acabou por não suceder. Sunak foi o único candidato declarado que reuniu o número suficiente de apoios de membros do Parlamento do partido Conservador, para ser nomeado líder e primeiro-ministro. Aparentemente, Sunak tem credibilidade e competência para enfrentar o mais premente problema que agora se coloca ao Reino Unido: a estabilização da política orçamental e a recuperação económica.
Na verdade, desde o Brexit, a economia britânica vai de mal a pior. Não quero estabelecer uma não fundamentada relação “causa – efeito” entre esse facto (a degradação da economia) e o Brexit. Mas, no mínimo, uma correlação, uma coincidência existe entre uma coisa e a outra, ao contrário do que, em estilo demagógico populista, Boris Johanson tinha prometido aos eleitores.
Mas o que poderá a integração europeia esperar do novo primeiro-ministro Rishi Sunak? As convicções pró-Brexit de Boris terão sido, sobretudo, moldadas por um juízo de oportunismo político. Apesar de ter concretizado decididamente o Brexit, em termos de Tratado Internacional, vai-se sabendo hoje (ou, pelo menos, vão existindo declarações de colaboradores próximos, nesse sentido) que, para o antigo primeiro-ministro inglês, seria relativamente indiferente apoiar o Brexit ou o “Remain”. Ao contrário de Boris, Rishi Sunak é um firme defensor do Brexit e da Inglaterra independente e soberana (seja lá o que isso signifique, na prática e operativamente). Creio que a grande motivação de Sunak será, sobretudo, o não sujeitar a City de Londres às regras exigentes, por vezes burocráticas e, sobretudo, pró-transparência, da União, em termos de transações financeiras e de controlo de fluxos de capitais. O seu “histórico” como financeiro e como banqueiro poderão justificar essa posição pró-desintegração e de isolamento britânico, face à União e respetivo quadro normativo, em matéria de controle de transações financeiras e de transparência (digo eu, especulando…). Ora, transparência é coisa que, atualmente e segundo os especialistas, não será propriamente um ponto nem forte, nem bem-querido da City! De todo o modo, o Reino Unido celebrou já cerca de 33 acordos de comércio com terceiros Estados.
No entanto, uma coisa é a celebração de acordos bilaterais ou mesmo multilaterais, acordos específicos e limitados em termos de atividade económica, outra coisa diferente é uma dinâmica de integração comercial e económica, um ganho potencial de capacidade de criação de riqueza, em virtude de uma livre circulação de todos os fatores de produção - ou seja, uma integração no Mercado Interno Europeu. A continuação da renegociação das relações entre o Reino Unido e a UE será um ponto decisivo e marcante para o sucesso de Sunak. Como o conduzirá, será, de momento, a grande incógnita, na perspetiva da União e da integração. Nesse ponto, a possível clarificação da situação da Irlanda do Norte, no contexto do “Acordo do Brexit para a Irlanda”, será igualmente muito sensível, numa negocia- ção a breve prazo, entre o governo de Sunak e a União.
O certo é que Sunak tem também a imagem de um político pragmático. Talvez, na verdade, esse pragmatismo o leve a atenuar progressivamente o afastamento e a crispação sentida entre a União e o “Reino Unido do Brexit”.
Uma coisa parece ser certa: a política externa, no que diz respeito à Ucrânia e respetivo apoio, deverão continuar a ser o que eram. Nesse ponto, o Reino Unido continuará muito provavelmente a ter um papel decisivo…quiçá, impondo mesmo o ritmo à própria União.
No resto, veremos se, realmente, a tradição ainda será tendencialmente o que sempre foi, no que diz respeito à estranha e complexa relação (também psicológica) entre o Reino Unido (agora de Sunak) e o resto da Europa.
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