Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel
Ideias
2025-02-21 às 06h00
Com o regresso de Donald Trump ao poder, a despromoção da aliança transatlântica a uma “mera” relação era um desfecho previsível, mas que muitos tardaram em reconhecer... até Munique. Nesta conferência sobre segurança, que decorre anualmente na capital do estado alemão da Baviera, ficaram dissipadas todas as dúvidas que ainda poderiam persistir sobre as intenções da Administração americana.
JD Vance, atual Vice-Presidente dos EUA, foi destacado para subir ao púlpito e traçar um horizonte de futuro para a segurança global. Só que não foi assim. Em vez disso, sem pudor e num tom quase rude, Vance pintou a Europa como um lugar onde a democracia já não é respeitada. Chegou até ao absurdo de afirmar que a Rússia é uma ameaça menor à Liberdade quando comparada com ameaças internas, supostamente criadas pela própria UE.
Embora o seu grande argumento continua a ser fantasioso, não surpreendeu ninguém: a regulação das plataformas digitais. Acusou a União Europeia - pioneira mundial nesta matéria e que obriga as redes sociais a bloquear publicações de conteúdos ilegais, desde fraudes a violência sexual - de estar a “censurar” os seus cidadãos. Já era uma arma de arremesso frequente nas guerras culturais dos EUA, estreou-se agora de forma inusitada no palco internacional.
Quando, poucos dias depois, foram anunciadas formalmente as negociações entre Estados Unidos e Rússia, sem envolvimento direto dos países europeus ou da própria Ucrânia, já não havia como ficar surpreendido. A prioridade americana deixou de ser a Europa, o Atlântico e a sua segurança; passou a ser a contenção da China e da sua liderança no contexto dos BRICS, dê por onde der.
Trump priorizou uma “megaparceria” com a Índia, ao mesmo tempo que procura sanar relações com a Rússia, mesmo que o preço a pagar seja a despromoção dos laços com a União Europeia. É, contudo, um reposicionamento geopolítico tão vertiginoso que atropela completamente as bases da ordem internacional liberal, construída de forma diligente pelos próprios EUA no período pós-Segunda Guerra Mundial.
A Europa demorou (quase) uma década a perceber Donald Trump. Conseguiu moderar o seu ímpeto divisivo durante o primeiro mandato, mas conformou-se com a esperança de que seria uma breve exceção na história das relações internacionais.
Não nos preparámos para este novo Mundo que agora nasce; continuámos dependentes da força militar americana para a nossa segurança e das exportações para o outro lado do Atlântico como motor da nossa economia.
É cedo para afirmá-lo, mas tudo parece indicar que, desta vez, a Europa acordou mesmo. Percebeu que está mais sozinha, que precisa de reforçar a sua capacidade industrial - situação que representa oportunidades para Portugal, seja em setores incumbentes, como o têxtil, ou nas tecnologias de ponta, alicerçados na sinergia entre universidade e setor privado - e que o investimento em defesa não pode acontecer sem um horizonte estratégico focado na nossa autonomia estratégica, mesmo que, formalmente, esteja também integrado na NATO.
Esta unidade dos europeus, que começou a ganhar contornos desde que a Rússia se afirmou como uma ameaça externa concreta ao nosso território, é também o nosso principal argumento para reivindicar um lugar nas negociações de paz (ainda que, para já, não estejamos à mesa). Um acordo que não acautele as preocupações da União Europeia e da Ucrânia, estará condenado ao fracasso. Em vez de paz sustentável, teremos uma breve suspensão do conflito.
Qualquer negociação que falhe em estabelecer garantias futuras de segurança para a Ucrânia será inviável. A lista de vítimas (entenda-se, soldados e cidadãos corajosos que estão a lutar pela liberdade e independência do seu país) continua a subir e é um preço demasiado elevado para que Zelensky possa admitir um desfecho que não assegure a proteção do seu território durante as próximas décadas.
E, para nós, conceder uma vitória total à Rússia, como aconteceu em 2014, será uma confissão de fragilidade. Em última instância, seria também a capitulação crítica do Direito Internacional e o regresso sombrio aos tempos imperialistas. Pode não ser perfeito, nem ter funcionado sempre, mas sem Direito só a força importará e a soberania territorial será (novamente) uma variável dependente das vontades alheias.
Perante este momento crítico, Portugal oferece uma perspetiva estável de compromisso com a União Europeia, com os seus valores fundamentais e com o aprofundamento do processo de integração - nomeadamente no capítulo da defesa. Mas era bom que os partidos nacionais fossem formalmente chamados a clarificar a sua posição, e escrutinados pelas suas posições recentes.
Nessa medida, questiono-me pela falta de perguntas a André Ventura. O líder do Chega utilizou a comunicação social como uma passerelle, para se gabar de ter participado na tomada de posse de Donald Trump (apesar de não ter sequer entrado na sala da cerimónia oficial). Tal como os principais líderes do seu grupo europeu, é adepto do Presidente americano e tenta replicar as suas manobras: desde as danças no TikTok, ao programa político.
Era importante clarificar porque é que a extrema-direita nacionalista parece mais leal ao seu guru ideológico, do que à Europa e até ao seu próprio país. Já ninguém duvidava que a sua principal característica é o oportunismo político. Agora fica esclarecido que até Portugal fica atrás disso.
15 Junho 2025
15 Junho 2025
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