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Desafios para 2023

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Desafios para 2023

Ideias

2023-01-20 às 06h00

Margarida Proença Margarida Proença

É sempre assim todos os anos: começamos com muitos propósitos, muitos objetivos, no fundo muita esperança. Desta vez vai ser. E consultamos os milhentos horóscopos, logo descartados se não confirmarem as expetativas individuais.
Os últimos anos têm sido desafiantes por demais – parece que tudo se tem conjugado para provar que a vida nunca é fácil, que o que é também não é. Foi a crise financeira global de 2008-09, começada nos Estados Unidos com a descida nos preços no mercado imobiliário, que afetou depois as Bolsas de Valores por todo o mundo e insolvência de bancos, atingindo empresas e trazendo desemprego e recessão a nível mundial. Foi a primeira desde a 2ª Guerra Mundial, quando se julgava já que se tinha aprendido de vez a dominar os mercados… A crise mostrou o falhanço da regulação financeira e mostrou ainda, de forma clara, os que a subavaliação dos riscos é sempre um perigo. Portugal, um pequeno país muito aberto, quase caiu na bancarrota dada a dimensão da crise. Por 2010, os bancos tinham cada vez mais dificuldade em obter créditos qualquer que fosse a taxa de juro. As primeiras respostas à crise passaram por aumentar a despesa pública, o que se veio a repercutir em desequilíbrios macroeconómicos e numa dívida pública alargada. O país foi salvo porque pertencíamos à zona Euro e lembramos bem o preço que pagamos através da imposição das condições da troika e do programa de ajuda financeira. Redução dos serviços públicos, congelamento de salários, redução de subsídios, por aí fora. Ficou clara a importância de um quadro rigoroso de gestão financeira pública e enquadramento orçamental.
A crise financeira de 2007-2009 foi global, mas em Portugal tinha raízes estruturais – o sobre endividamento de famílias e empresas, respondendo a taxas de juro anormalmente baixas e a uma baixa capacidade de análise do risco, perda de competitividade associada a problemas estruturais da nossa economia, a uma aposta cada vez maior nos setores não transacionáveis e encargos crescentes com a despesa pública.
Mas nem deu quase para respirar. Por finais da década seguinte, o Covid 19 surgiu do nada! Apesar da velocidade a que surgiram vacinas, o certo é que o Covid lançou ondas de choque por todo o mundo. Em 2020, o PIB mundial caiu 3,4%. Em termos teóricos, o Covid-19 podia afetar a economia global através da cadeia de valor, em termos logísticos e pelo encerramento de fabricas um pouco por todo o mundo, através portanto da rutura no lado da oferta na produção de produtos, peças e materiais, do impacto financeiro de tudo isto e por consequências em termos de inflação. Aconteceu tudo o que podia ter sucedido, e com a segunda vaga de Covid veio depois uma redução na procura global e desemprego. E as relações sociais modificaram-se, a depressão e o isolamento aumentou, as condições de aprendizagem tornaram-se mais difíceis e reforçaram os desequilíbrios sociais. E aprendemos a trabalhar em outros moldes, em casa e on-line, numa linha que certamente veio para ficar, reforçando as perspetivas do efeito da inteligência artificial.
E parecia que se via o sol ao fundo do túnel, a economia global começava a reagir, quando rebenta a guerra da Ucrânia.
Os preços dos produtos alimentares e da energia explodem, a inflação dispara, as crises humanitárias tornam-se cada vez mais urgentes. Em resposta à inflação, os bancos centrais sobem as taxas de juro.
Sei bem que com o mal dos outros podemos nós todos, mas estas histórias que se têm sucedido são globais, afetam todos por todo um mundo verdadeiramente interdependente. À discussão sobre os males da globalização, sucede a escalada da guerra, as milionárias ajudas em produtos militares. E sucede o reconhecimento dos prejuízos feitos em décadas ao ambiente, com acontecimentos extremos de seca e tempestades. No principio deste 2013, diz a U.E. que 50 milhões de pessoas em 45 países estão à beira da fome. 339 milhões de pessoas precisarão de assistência humanitária, o que duplicou em apenas quatro anos. Riscos. E incerteza.
Por aqui, em Portugal, a economia precisa que o grau de incerteza diminua, precisa de estabilidade. Precisa de confiança. Para que haja investimento privado e público. Para que haja emprego. Para que haja crescimento económico.
Mas divertimo-nos numa lógica de redes sociais ou de faturação dos media, numa lógica concorrencial inter-partidos, em aprofundar comportamentos justicialistas. Fui professora toda a vida, respeito obviamente, acima de quase todas a profissão que me pagou as contas, mas sei que o todo agora exigído não é possível, nem tão pouco se repercute numa escola pública de qualidade. O dinheiro não cai do céu…
Deixem-me terminar esta crónica com uma citação de Eugénio de Andrade, referida num texto de Cristina Figueiredo, na edição on–line do Expresso de quinta feira:
“É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras”.
Para 2023, para todos.

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