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Ideias

2018-11-16 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Pronto, o Braga já não vai em primeiro. É uma bênção para a legião de bracarenses de meio-pau, para os que acham que candidato de nome e apelido teria que ter limpo o sebo a outro candidato, especialmente no reduto do rival, para os que acham que pretendente de músculo e peito feito deveria ter dado a volta por cima no embate com o grémio de Vila do Conde... Ui! A espelho dos pontos perdidos, tamanhos são os pecados de uma equipinha em bicos de pés.

Verdade seja dita, também há adeptos de pau inteiro que morrem de alegrias por um deslize do treinador, por uma substituição indiscutivelmente mal feita. Claro que o «indiscutível» de uns é o discutível e argumentável de outros, que o erro clamoroso de estratégia, denunciado pelos quezilentos, é o percalço aceite e acomodável pelos indefectíveis das cores da casa.
Talvez o Braga nunca venha a ser campeão, talvez sejam efémeras as passagens do Braga pelo lugar cimeiro da tabela; talvez o bracarense apaixonado aqueça desnecessariamente os reactores de avião destinado a não levantar voo. – O Braga à frente? – Ó pá, deixa-te disso, que é apenas um ronco! Seja um ronco, mas parece certinho, afinadito.

Talvez o voo rasteiro do Braga encontre mais chacota que aplauso. Talvez os que riem a bandeiras despregadas, logo que o Braga é reconduzido à sua posição natural, sejam aqueles que pior lidam com os próprios desaires, os que não arriscam ir para além de si. Mas queriam o quê? Que, chegado a este patamar de regularidade, abdicasse o Braga de dar voz a um sonho?
Recua, o Braga, e logo os Velhos do Restelo desatam a apontar o dedo, a desmontar as ilusões alheias, a servir gelo sem whisky em doses garrafais. E depois é o presidente que é isto, o treinador que é aquilo, o plantel que é aqueloutro… Bom, eu sei que tudo faz parte, e que, bracarense que se preze, deve fazer mostra de muita paciência.
No presente contexto, de que depende, realmente, o sucesso maior do Braga? De elã, de unidade alargada em torno de um objectivo? De detecção e formação abrangente de talentos, vulgo de uma academia, que crie valor e que, à distância, municie a equipa principal? De rasgo nas contratações, de um acréscimo de cultura, de mística, que amplie a devoção de quem chega, e o desejo infunda de que por cá permaneça? De um estádio a abarrotar, em cada desafio?

Onde encontrar a chave de tão almejada façanha? Na qualidade da liderança, nos factores psicossociais, grosso modo? Por que outra forma contornar a desproporção de orçamentos oficiais? De um para quatro, ou para cinco, é o desfasamento dos orçamentos. Concedo, o dinheiro não joga, mas que é uma alavanca e tanto, disso não há a menor dúvida. Um jogador que ganhe dez não é necessariamente duas vezes melhor, mais regular, mais estável, do que um que ganhe cinco. Admitamos que, na tômbola dos planteis, aceda o Braga a escolhas de segundo plano, a jogadores remetidos para a sombra mediática. Mas que conjunto não se faz com unidades discretas, de maturação lenta! E não se recorda, cada um de nós, de ídolos inchados, que estão bem meia-dúzia de vezes por época, contas feitas, quase que por engano?

Malhe quem quiser, mas o Braga está soltinho, recomenda-se, e nunca serão poucos os elogios que se enderecem ao seu treinador. Estou com ele: um destes dias ainda será campeão com o Braga. A menos que tresvarie e decida ser campeão por emblema com uma daquelas varinhas de condão que inclinam o relvado e embaciam monitores de arbitragem à distância. Mas estou em crer que o Abel queira ser campeão por força do que saiba de bola, não por aquilo que «não soube» que aconteceu nos bastidores.

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