Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2014-04-23 às 06h00
Tem-se vindo a falar, cada vez mais, do papel de cada um de nós em sociedade, para com o Outro e para com Aquele que necessita um pouco mais de ajuda. A necessidade que o ser humano apresenta de estar e ser em relação permite uma articulação de saberes e trocas de experiências, em que, ele próprio enriquece e torna mais rico.
Todavia, antes de nos conseguirmos estabelecer e comprometer de forma total com o Outro que poderá necessitar da nossa ajuda, é urgente um olhar interior e uma ação interna de manutenção e melhoramento.
Todos nós necessitamos destas duas intervenções, tanto para a conservação do equilíbrio que nos faz sentir bem, com bem-estar e qualidade de vida, como para adquirirmos as competências e capacidades necessárias ao estar em relação. Quando digo “Todos Nós” refiro-me tanto ao “Nós” como comunidade geral assim como ao “Nós” como Enfermagem, que é para estes segundos que esta crónica de hoje existe - afinal, nós, Enfermagem, também somos merecedores de bem-estar e qualidade de vida, visto existirmos em e para relação.
Por vezes questiono-me se, como enfermeiros, somos bem cuidados e estimados o suficiente para conseguirmos cuidar do Outro, que apresenta hoje em dia tantas necessidades e exigências às quais devemos, e queremos, estar atentos. Questiono-me igualmente se temos a capacidade (e vontade) adequada para o nosso autocuidado, para a manutenção do nosso equilíbrio e a adaptação à comunidade.
Questiono-me ainda se, eventualmente, conseguimos, nos dias iguais a todos os outros de 24 horas, ajustar e garantir a nossa qualidade (sem falar na quantidade correta…) nas diferentes facetas que compõem o dia-a-dia de cada um a nível familiar, pessoal, profissional, emocional… Não tenho resposta a estas questões. Aliás, neste momento não possuo a resposta, porém desconfio que nunca a irei adquirir.
A nível social e comunitário é-nos exigido imenso. Somos enfermeiros não só e apenas no local físico profissional, porém igualmente em família, entre amigos, entre conhecidos, entre os espaços de lazer que frequentamos. É-nos exigida a atuação rápida e eficaz, o pensamento crítico e a tomada de decisão baseada em conhecimento, tanto na esfera em que devemos ser Enfermagem, como na esfera em que queremos ser Enfermagem - ambas de escolha individual e de razões singulares. E, perante este facto, somos realmente bem cuidados e estimados? Somos, no fundo, valorizados?
Não pretendo aqui levantar questões de disfunção ou injustiça social, mas realmente tenho visto, dia após dia, uma classe profissional (à qual pertenço) a ser esmorecida, talvez esbatida, por razões pouco claras, mas avassaladoras. Tenho visto ainda colegas pouco motivados, desiludidos, mas que se dedicam à profissão pelo querer ser Enfermagem - que os faz avançar um pouco mais pelo Outro.
E agradeço. Agradeço por, no fundo, manterem viva a profissão e o que a mesma representa. Agradeço por manterem a educação dos jovens estudantes e os orientarem dentro do dever e do querer. Agradeço, acima de tudo, por pertencer ainda a este corpo profissional, que me faz ver o que de melhor existe em e para relação.
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