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A Cruz (qual calvário) das Convertidas

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Ideias

2012-04-01 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

O Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna divulgou, na passada sexta-feira, o Relatório Anual de Segurança Interna. A ideia era dizer que, em 2011, se registou uma diminuição global de dois por cento da criminalidade participada e uma redução de 1.2 por cento dos crimes violentos. Portanto, Portugal não está mais perigoso. Quem lesse ontem os jornais ficava com a percepção contrária, que, aliás tem vindo a acentuar-se nos últimos tempos devido a uma noticiabilidade centrada em crimes que se multiplicam por várias zonas do país.

No Diário de Notícia a manchete era a seguinte: “Onze mil telefones sob escuta em 2011”. No interior do jornal lia-se que a PJ, a PSP e a GNR intensificaram as intercepções telefónicas no âmbito de inquéritos e investigação criminal. Ao ler esta peça, pensa-se de imediato que há razões para dizer que o nosso país não é um lugar seguro, na medida em que os crimes cuja investigação admite o recurso a este meio de prova passam por tráfico de droga, detecção e tráfico de armas, terrorismo, criminalidade violenta…

No Público titulava-se que as “forças policiais detiveram uma média de 192 pessoas por dia no ano passado”. É muita gente, há que reconhecer. Mas é menos do que aqueles que foram detidos em 2011. Isso não está em título, mas corresponde à verdade. Os leitores olham para este enquadramento e pensam exactamente no contrário.

No JN, sob um cabeçalho vermelho, surge o título: “dispara crime na escola”. A este nível, houve um aumento de casos registados, sendo que a maior parte deles ocorreram dentro das escolas. Os furtos e as ofensas à integridade física foram os mais participados. Fora da escola, assinalam-se situações de injúrias e ofensas sexuais. Lisboa e Porto foram as cidades onde isso mais aconteceu.

O Correio da Manhã titula assim esta matéria: “febre do ouro faz disparar esticões”. A explicação vem logo a seguir: “O aumento do preço do ouro e a facilidade com que o metal precioso é vendido após um assalto fez disparar os roubos por esticão e os assaltos à mão armada na via pública no ano passado”.

Aí está como o mesmo documento origina versões algo diferente. Será que os jornais mentiram? Nada disso. Cada um deles escolheu um ângulo e, com isso, construiu uma notícia que, quando enquadrada numa página de jornal, parece integrar toda a realidade, quando, na verdade, apenas nos dá a ver uma parte daquilo que acontece. Mas não é assim que os cidadãos se relacionam com os media. Por isso, não admira que, quando disparam notícias sobre crimes, todos achem que o país está mais perigoso. Não está, como documentam os dados deste relatório. No entanto as declarações das fontes oficiais não são suficientes para neutralizar todo o alarmismo provocado por um discurso jornalístico que insiste em destacar sempre o negativo daquilo que se dá a conhecer.

Olhar para a informação como uma realidade construída que importa enquadrar, contrastar e ponderar é uma atitude que requer competências que ultrapassam a leitura rápida de um jornal ou um olhar furtivo a um alinhamento do telejornal. Exige conhecimentos específicos que a maior parte de nós não tem. Por isso, continuamos a consumir informação pouco sabendo acerca dos lugares por onde passamos.

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