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Diário de Bordo

Voz às Escolas

2020-11-19 às 06h00

Luisa Rodrigues Luisa Rodrigues

Entre as 08h30 e as 09h00 começa a labuta. O toque fantástico do telemóvel, leia-se assustador, porque nunca o sonar do dito equipamento me causou tamanho desassossego, marca o início de mais um dia de incertezas e receios, consciente de que, a cada chamada, posso deparar-me com um turbilhão de problemas que é bem provável não poder solucionar.
Número desconhecido é sinónimo de grito de desespero de um encarregado de educação – diga-me o que fazer, por favor, porque um familiar/colega de trabalho, com quem estive em contacto, testou positivo para o COVID-19 e não sei se mande, ou não, o meu filho para a escola.
Diga-me o que fazer, por favor, porque soube que um colega da turma do meu filho testou positivo e o meu filho até esteve com ele durante o fim de semana.
Diga-me por que razão os alunos da turma do meu filho, em que um aluno testou positivo, continuam a ir para a escola, e na escola... a turma foi toda mandada para casa.
Já sabe os resultados dos testes da turma do meu filho?

Estamos 9 pessoas presas em casa, sem trabalhar, à espera do resultado.
Acedo ao email da diretora do agrupamento, fazendo figas para que não haja reporte de casos positivos e que as mensagens se limitem a reportar situações de alunos que ficaram em casa, em isolamento profilático, mas nem sempre as minhas preces são ouvidas e ... aluno que testou positivo.
Começa a azáfama.
Contacto telefónico com a Unidade de Saúde Pública, seguido da formalização do caso; contacto com o encarregado de educação do aluno para aferir o estado de saúde do mesmo; contacto com os encarregados de educação de todos os alunos da turma, dando conta da “ocorrência” e renovando o apelo para que cumpram as normas em vigor, e contacto com os professores para que nenhum aluno se sinta “perdido”. Segue-se o contacto com os encarregados de educação das turmas que integram a mesma bolha, a solicitação da Associação de Pais.

Entretanto, e em resultado dos contactos efetuados, o telemóvel retoma a sua especial função de eliminar, prontamente, distâncias, e os emails começam a entrar – recebi o seu email a informar ... catadupa de questões/desabafos e gritos de desespero a que tento responder da melhor forma que sei e posso.
Há que contactar/responder, novamente, à Unidade de Saúde Pública.
Agora são os colegas que, receosos e expectantes, esperam decisões que não posso tomar.
São 23h00 e ainda falta enviar uma mensagem para serenar, ou não, quem se vê a braços com problemas que, tal como eu, não pode, nem sabe, resolver.

E, assim, sucessivamente, 7 dias por semana, 24h00 por dia...
Quando começou? Já não me lembro.
Lembro-me, apenas, que chego ao final de cada dia com a sensação de ter feito o meu melhor para tentar atenuar a angústia de tanta gente, embora consciente de não ter sido capaz de chegar a todos.
Do mesmo modo lembro a quantidade de decisões que continuam penduradas, a aguardar tempo e disponibilidade mental, para que a carruagem não morra na estação e não se percam as conquistas fruto de tanto esforço; que não esmoreçam os ânimos de todos quantos agarraram os desafios que têm catapultado o agrupamento para patamares de sucesso, na defesa de uma escola que queremos transformar.
Tenho consciência de que não há culpados nas batalhas que travamos, diariamente, contra o tal inimigo invisível, do mesmo modo que tenho consciência de que se trata de um dever inerente ao cargo que desempenho, mas não consigo deixar de gritar que esta viagem, que não comprei, está a ser demasiado tenebrosa.

Daí a intolerância com a falta de consciência de tanta gente que “brinca” com a vida de todos nós.
Daí o sentimento de solidão que não consigo calar pelo silêncio de um comandante que quase não conheço, mas que, no momento, deveria estar presente.
Há múltiplas formas de marcar presença, sobretudo quando, em mar alto, são os marujos que mantêm seguro o navio, apesar das tempestades.
Venceremos, mas não esqueceremos.

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