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Do egoísmo à esperança, passando pela angústia

Portugueses bacteriologicamente impuros

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Do egoísmo à esperança, passando pela angústia

Escreve quem sabe

2021-02-16 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

Vivemos tempos difíceis. É nestas alturas que determinados comportamentos do Homem sobressaem. Ser egoísta é normalmente um atributo negativo dado a determinados tipos de comportamento humano mas, temos de compreender que a reação de autoproteção é uma atitude básica da vida, qualidade que só é prejudicial no Homem quando esta rompe com os comportamentos sociais estabelecidos e maioritariamente aceites ou seja, colide com os direitos dos outros.
Os limites para o comportamento individual estão consagrados nas leis e nos valores comunitários de cada cultura.
Vivemos tempos em que os valores tendem a perder-se porque se dá mais importância à Lei. O princípio que - tudo o que a lei não proíbe, é permitido - abrigados no amplo conceito de liberdade não pode, nem deve, ultrapassar valores como o da ética. Nem tudo tem que ser legislado. A importância dada aos valores, costumes, tradições e grau de educação com que cada comunidade se identifica, deve condicionar a Lei e não o inverso. A perda do sentido dos valores e dos princípios e o resguardo desavergonhado na Lei dá origem à corrupção e, a outros atos de injustiça no qual incluímos os designados “chicos – espertos”. Claro que também sabemos que, a Lei para todos, não serve a todos mas, isso é outro problema.
O egoísmo é inerente ao homem e a sua liberdade um direito universalmente consagrado mas, há claramente um limite óbvio para os dois perante situações graves e críticas que afetam as comunidades, os seus princípios e valores. Para a lei e sua interpretação conflituante, exige-se a existência do poder e da arbitragem. Para a apreciação de incumprimento dos princípios e valores ficamo-nos pela avaliação pública. Assim bastaria se a vergonha e a condenação pública fosse efetiva mas, um povo como nosso, ainda receoso da denúncia perante poderes ditatoriais, tolera e cala-se perante a falha de amigos, familiares, conhecidos e outros interesses ou medos. É com este tipo de comportamentos que vamos colocando em crise a liberdade e a Democracia.
Vem tudo isto a propósito dos momentos vividos em situação de risco grave de Pandemia, que tem causado tantas mortes, tanta tristeza humana, tanta incompreensão, tanto egoísmo que nos dá conta da debilidade que damos aos valores, ao mesmo tempo que nos revela a importância do uso do poder com liberdade, ou seja, na capacidade de saber mandar, de saber penalizar quem não respeita a lei e a moral civilizacional. Vivemos em tempos que se assemelham a uma guerra. Não é tempo para o habitual exercício político da gestão de oportunidades para efeitos eleitorais que atendem a públicos e a interesses. Quem manda tem que estar à altura - Trata-se da vida.
Todos sabiam que vírus não tem meios de locomoção autónoma. Precisa de um ser humano para viver, reproduzir-se e multiplicar-se territorialmente. A culpa é de todos, mas, o erro foi deixar-se confundir o direito à liberdade, sem dar valor ao risco de a perder pela morte. O erro foi deixar ao senso individual a garantia de sucesso, supostamente acautelada na nossa idoneidade civilizacional. Não. Não era preciso suspender a Democracia, mas o exercício do poder real que ela permite, com coragem para se ousar assumir comandos, com decisões claras, orientações precisas, e correspondentes indicações de penas para o seu incumprimento. Deu-se ao egoísmo a hipótese de triunfar sobre a liberdade e a vida de todos e, aí temos o resultado.
A morte torna-se a normalidade do quotidiano. Estatísticas. A morte passa a ser consequência do infortúnio que a debilidade dos mais frágeis evidencia e, do azar de cada um. Quebram-se sentimentos e valores sem disso darmos conta.
Claro que não podem ser ignoradas as perdas e danos, perante quem perde trabalho, fontes de rendimento, bens pessoais, no limite, os meios de subsistência mas, não podemos esmorecer e deixar que a luta pelas condições que sustentam a nossa qualidade de vida suplantem valores e sentimentos. Quando isso acontece, entramos em ambiente de sobrevivência onde a angústia supera o bom senso e a lei. Quando aqui chegamos deixamos de ser egoístas, passamos a desesperados, aceitando medidas limitadoras da liberdade mais drásticas. Os Governos sentem a pressão dos erros cometidos, lamentam a racionalidade política de querer agradar a todos e as consequências do excesso de consultores. Corrigem metodologias. Ainda bem.
Estamos todos muito cansados mas, não nos voltemos a iludir com o anúncio das vacinas e com ela a esperança de agora já estamos salvos. Atenção ao egoísmo, agora não por incumprimento do que se pedia a todos, mas pelo aproveitamento que permite chegar mais cedo à salvação prometida, ferindo novamente princípios, valores e lei. Não pudemos continuar apenas a apostar na condenação pública dos média. São precisas regras e a atribuição efetiva de poder a quem está na linha da frente.
Todos sabemos que só para o segundo semestre nos aproximaremos da vacinação que promete garantir a imunidade de grupo, mas isso não pode significar que até lá teremos que estar todos presos. Acredito que deve haver medidas graduais que podem libertar algumas atividades e o seu acesso público, desde que orientados com clareza, com responsabilidade que permita libertar quem não constitui perigo para a transmissão do vírus. Não podemos manter-nos agarrados à liberdade de que - o que é para uns, tem que ser para todos- sabemos que os riscos também não são todos semelhantes. Temos que aceitar a orientação de quem tem o direito legal democraticamente atribuído para decidir.
Em tempos de crise tão grave como a que hoje vivemos, a rua (agora vivida nas redes sociais) não pode tomar conta das decisões de quem orienta os caminhos que nos libertará para a normalidade de vida do que consideramos sermos devida, como cidadão e Homem.

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