Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Do Património

Entre a vergonha e o medo

Do Património

Ideias

2020-02-04 às 06h00

João Marques João Marques

Claro que não basta proteger a ínsula das Carvalheiras, qualificar o popular S. João, recuperar o orgulho Barroco (e nada bacoco) do concelho ou ajudar a consagrar como Património da Humanidade o nosso Bom Jesus para estarmos perante um município patrimonialmente responsável. Mas acusar o executivo do contrário, com base no episódio da Confiança, é francamente ofensivo e só se pode dever à hipocrisia de alguns e ao exagero de tacticismo político de outros.
É claro que o espanto maior só pode advir das declarações de quem, durante décadas nada fez para salvar a Confiança e agora surge, qual virgem ofendida, em prantos pouco credíveis, desdenhando o destino que será dado ao edifício.

Como pode o PS local querer remir os seus pecados com dois ou três soundbytes por um património que não só descurou para lá do desculpável, como fez questão de não proteger quando o pôde fazer, nomeadamente recusando processos de classificação do imóvel que seguramente permitiriam ter evitado chegarmos ao estado de degradação que é conhecido e que não começou quando a fábrica Confiança foi adquirida pela autarquia.
E como pode esse mesmo PS criticar o projeto aprovado pela autarquia pela excessiva volumetria quando, em primeiro lugar, o novo prédio, que deverá nascer nas traseiras da Confiança, não altera nem desconfigura o edifício da fábrica e, em segundo lugar, em nada descaracteriza a zona adjacente, já que prédios vizinhos, como o da torre verde (e que também devemos ao urbanismo socialista) suplantam-no infinitamente em proximidade aos céus.

Este PS, que recentemente elegeu o mesmo líder para continuar a trilhar o percurso de sucesso que se conhece, não aprende com o passado e não consegue interiorizar que uma coisa é assumir os erros do passado e trilhar um rumo divergente de credibilidade, outra, bem diferente, é girar 180º, defender todo o contrário do que foi o seu pensamento e ação enquanto exerceu o poder autárquico e julgar que as pessoas o vão levar a sé-rio.
O populismo irrefletido de quem não percebe os limites do bom senso nunca servirá para sustentar uma candidatura vencedora à Câmara Municipal.
Quanto ao PCP e ao Bloco de Esquerda, julgo que o excessivo tacticismo das suas posições não lhes granjeará nada de relevante nem na história nem em matéria eleitoral. Colarem-se desabridamente aos movimentos de cidadãos desqualifica estes últimos e não oferece especiais traços de autenticidade aos mantras que vão desfilando. Já se sabe, o anátema dos privados, o “dinheiro sujo” que lá será (espero eu) investido, quem sabe se não será Isabel dos Santos a explorar o tutano do património bracarense.

A qualquer destes partidos sempre interessou mais a firmeza da luta do que a justeza do resultado, esquecendo-se que, para qualquer cidadão médio, a máxima de que o “ótimo é inimigo do bom” é muito valorizada.
Julgo que é nítido para qualquer bracarense que a autarquia tudo fez para revitalizar a fábrica Confiança, nos moldes a que inicialmente todos se tinham proposto. O projeto que agora se encontra pronto a avançar, não só vai garantir o escrupuloso cumprimento da preservação da memória daquele edifício, como servirá para revitalizar toda uma zona da cidade que foi sendo votada ao abandono.

Quanto ao movimento dos cidadãos que queriam manter a Confiança na esfera pública, não importa estar aqui a ajuizar motivações e a criticar eventuais infantilidades ou inocências nas propostas que fizeram. A um agente político, como eu também sou, só cabe saudar o seu empenho, agradecer o esforço feito, seguramente com a melhor das intenções, mas reconhecer que as soluções que lançaram não eram exequíveis, fosse por excesso de voluntarismo ou por défice de financiamento.
E, como agente político, garantir-lhes que a minha vontade, bem como as dos meus colegas deputados e presidentes de juntas de freguesia que votaram favoravelmente a proposta da Câmara Municipal, não foi tolhida, muito menos comprada ou comprometida obscuramente, como insinuou a extrema esquerda na assembleia municipal.

Ao contrário de quem quis fazer da última sessão dessa assembleia um circo, obrigando a que os seus membros se levantassem, um a um, para votar a proposta, como se tal constituísse qualquer fator de inibição, não me movo por encenações, embora aprecie a arte.
O que sobra agora é esperar, com tranquilidade, pelo tempo em que este caso, como o das Quintas das Portas, venha ser mais uma prova do acerto das soluções do atual executivo.
E, como é óbvio, sobra ainda a oportunidade de convidar todos os bracarenses, incluindo os que se bateram pela não alienação da fábrica Confiança e, até, os do PS que nunca protegeram este icónico lugar, a marcarem presença, no próximo dia 8, na apresentação do projeto do Parque das Sete Fontes, um momento histórico na reafirmação do legado histórico do concelho e da proteção do património que ainda nos resta.

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