A Enfermagem é uma das colunas fundamentais dos sistemas de saúde em todo o mundo. Para além da dimensão científica, técnica e de cuidado, os enfermeiros assumem um papel determinante, por exemplo, na promoção da saúde, prevenção da doença, fomento da saúde mental, reabilitação ou acompanhamento das pessoas em todas as fases da vida. Em Portugal, tal como noutros países, a profissão de Enfermagem evoluiu significativamente ao longo das últimas décadas, ganhando não só reconhecimento na esfera da saúde e na sociedade, porém afirmando-se como uma disciplina autónoma com um corpo de conhecimento próprio, baseado em pressupostos de ciência, de ética e de humanidade.
O papel dos enfermeiros é fundamental, vasto e complexo. Desde o momento em que alguém entra numa unidade de saúde, seja ela hospitalar ou comunitária, o enfermeiro é, na maioria dos casos, o primeiro profissional de saúde com quem tem contacto direto. Este profissional é responsável pela sua avaliação, pela sua monitorização contínua, pela administração segura de fármacos, pela execução de intervenções e técnicas e pela prestação de cuidados, gerais e especializados. A sua prática envolve raciocínio clínico, pensamento crítico, tomada de decisão, comunicação eficiente e eficaz e, igualmente essencial, empatia.
Uma das dimensões mais marcantes da Enfermagem é a proximidade humana. Numa era em que a tecnologia tem vindo a assumir, passo a passo, um papel central, os enfermeiros continuam a ser o elo mais humano entre a pessoa e as dinâmicas de apoio em saúde. Habitualmente, os enfermeiros são aqueles que escutam, que confortam, que (tentam) compreender os medos e angústias de quem se encontra fragilizado. Esta dimensão humana da profissão é muitas vezes invisível aos olhos da maioria, porém tem um impacto profundo no bem-estar e na recuperação de todos aqueles que precisam de ajuda na sua saúde. O toque, a palavra, a presença constante são, por vezes, mais terapêuticos do que qualquer outro tratamento.
A Enfermagem dos dias hodiernos também se evidencia pela sua capacidade de adaptação e inovação. Os enfermeiros estão na linha da frente em situações de urgência/emergência e em situações extremas, como é o caso das catástrofes naturais, pandemias ou até dos conflitos bélicos. A recente pandemia veio mostrar, de forma clara e distinta, o papel insubstituível dos enfermeiros na contenção e controlo da crise. Foram os enfermeiros que garantiram cuidados intensivos a doentes críticos, que realizaram atividades relacionadas com a saúde pública, que acompanharam famílias à distância e que, muitas vezes, se sacrificaram, pessoal e emocionalmente, de forma a garantir o bem-estar de todos e da comunidade.
A ação dos enfermeiros em ambiente hospitalar é sobejamente conhecida, contudo, os enfermeiros têm vindo a destacar-se em funções determinantes em contextos de cuidados de saúde comunitários e cuidados continuados. A Enfermagem Comunitária, Pública e de Saúde Familiar, por exemplo, são hoje alguns dos pilares na promoção de estilos de vida saudáveis, no apoio à saúde das famílias, na educação para a saúde e na vigilância epidemiológica. Mais, os enfermeiros especialistas dessa esfera, assim como os enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica ou em Saúde Infantil e Pediátrica, desempenham um papel essencial no acompanhamento de famílias, no planeamento familiar, no acompanhamento da gravidez e na saúde infantil e juvenil.
A formação em Enfermagem em Portugal tem sido igualmente alvo de grande inovação, apresentando a possibilidade de construção de conhecimento científico na extensão dos mestrados e dos doutoramentos. Esta valorização académica é reflexo do reconhecimento de que, a prática clínica, deve estar alicerçada na melhor evidência científica e na investigação. Enfermeiros investigadores e docentes contribuem, atualmente, para o desenvolvimento de dinâmicas de Enfermagem mais sólidas, científicas e centradas nas necessidades das pessoas.
Todavia, apesar da sua irrefutável importância, a profissão de Enfermagem continua a enfrentar desafios significativos. A sobrecarga de trabalho, a escassez de enfermeiros, a desvalorização salarial e a migração para outros países, em busca de melhores condições laborais, são ainda problemas existentes – e que, infelizmente, vão durar muitos anos. É fundamental que a sociedade, os decisores políticos e os gestores em saúde reconheçam o verdadeiro significado da Enfermagem e invistam na sua valorização. Sem enfermeiros motivados, bem preparados e respeitados, não é possível garantir um sistema de saúde sustentável e de qualidade.
Ainda assim, a Enfermagem é muito mais do que uma profissão de dedicação aos outros, podendo ser, na minha perspetiva, um compromisso para com a vida e para com a dignidade humana. Os enfermeiros são os representantes da qualidade dos cuidados em saúde, pilares muitas vezes silenciosos e que, contudo, se tornam indispensáveis para uma saúde estruturada e segura.
Mais, valorizar a Enfermagem poderá ser, em última análise, a valorização da saúde de todos nós.