Assim vai a política em Portugal
Voz às Escolas
2020-09-24 às 06h00
Estamos de regresso à Escola. Após uma ausência de seis meses, os alunos regressaram à Escola, uma Escola diferente, mas que não deixa de ser o lugar onde tudo acontece e que, por força de tão longa ausência, passou a ser devidamente valorizado.
Chegaram expectantes, com sorrisos abertos e uma vontade imensa de saciar a sede de partilhar as aventuras e desventuras do tempo que passaram fisicamente afastados, como se estivessem a regressar de uma longa viagem mas, simultaneamente, vislumbrava-se, também, um certo acanhamento, como se tivessem perdido a espontaneidade que é caraterística da esmagadora maioria.
Os primeiros dias foram passados no reconhecimento dos espaços, os mesmos espaços, mas agora “animados” com uma sinalética que os inibe de se movimentarem livremente, e os alerta para uma realidade que nunca tinham tido necessidade de encarar – afinal a Escola pode não ser um lugar seguro.
A Escola preparou-se para os receber em segurança, mas essa segurança está condicionada pela ação de cada um deles, pela forma como assumirem que a sinalética e as regras que lhes foram transmitidas só os protegerão se as cumprirem, o que apenas parece uma tarefa simples, sobretudo quando lá fora a vida continua numa normalidade chocante, provocando o inevitável questionamento sobre a razão da Escola se ter transformado num labirinto, percorrido por milhares de rostos escondidos atrás de máscaras, quando, transpostos os portões, o mundo gira normalmente.
Assim, acredito que, passado o efeito surpresa, a Escola enfrentará uma nova onda de problemas, problemas que decorrem do facto dos alunos, confrontados com realidades tão díspares, começarem a interrogar-se sobre a pertinência das medidas impostas pela Escola, sendo tentados a desrespeitá-las, com base na gritante disparidade de procedimentos.
Efetivamente, se analisarmos com rigor a pressão colocada sobre a Escola na preparação da abertura do ano letivo, em que proliferaram as orientações e as exigências, e as medidas de segurança definidas para a sociedade, em geral, será inevitável concluirmos que estamos perante dois cenários distintos, com a agravante de uns estarem sujeitos a uma supervisão cerrada e outros, apenas, aos “lamentos” que nos chegam através dos órgãos de comunicação social.
No entanto, não demorará muito até que as manchetes culpabilizem a Escola pelo acentuado agravamento da situação epidemiológica, esquecendo que, por muito que a Escola faça, mesmo sem recursos e sem apoios, os alunos regressam à rua e a casa, ou seja, retomam as práticas enraizadas, numa sociedade que ainda não se consciencializou de que não estamos a enfrentar um problema passível de ser resolvido por decreto.
Se regressarmos ao confinamento, cairemos num poço sem fundo, com as repercussões económicas e sociais que conhecemos, mas se temos consciência de que enfrentaremos uma guerra sem precedentes e das consequências que daí advirão, sinceramente, não consigo entender a falta de responsabilidade, de consciência cívica que vai alastrando um pouco por toda a parte.
A Escola reinventou-se, enfrentou e continua a enfrentar uma panóplia de desafios, assumindo a sua quota parte de responsabilidade na luta contra um inimigo ainda desconhecido, mas todo o investimento será em vão se a sociedade, a começar pelas famílias, não assumir a parte que lhe cabe na criação de condições que mitiguem o aumento exponencial da evolução do problema que enfrentamos.
E se à Escola podem ser assacadas responsabilidades pelo incumprimento das medidas definidas pelo governo, por que razão esse mesmo governo não reforça as medidas de fiscalização do incumprimento por qualquer cidadão?
Não temos “tempo” para dois pesos e duas medidas.
04 Dezembro 2024
02 Dezembro 2024
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário