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Braga, quarta-feira

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É muito Espinho

A sina do Recolhimento

É muito Espinho

Ideias

2025-03-16 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Montenegro não tem nada que se lhe aponte, e o segredo é a alma do negócio.
Que lhe recriminam, afinal? A exiguidade da carteira de clientes? Mas isso é a desgraça do homem! Que um cliente lhe pague mais pelo serviço, do que pagaria a terceiros? Mas isso é a esperteza de um, a burrice de outro, ou deus pelo meio, a escrever direito por linhas tortas, que da bolsa farta de um colmata as mínguas ordinárias nos apuros do estadista.
Que lhe recriminam, a seguir: que o pobre negócio que montou se preste a equívocos e a línguas de trapo? Azar sobre azar, Montenegro não é industrial com fábrica levantada, não é armazenista de materiais de construção ou distri- buidor de champanhes, vinhos e bebidas espirituosas, ramos de actividade que em contrapé de vida política lhe granjeiem rendimento compatível com ambições próprias e espectativas familiares.
Porque disso fosse o caso, fabricasse ele sapatos, ou malhas, e ninguém se poria a suspeitar que lhe encomendassem mercadoria só para o livrar de apertos, e que por cima lhe pagassem fioco por seda natural, artigo de marca por batota, Luís Botão por Louis Vuitton, com cédula corrente de autêntico na Feira de Espinho, e adeus ó ASAE.

Montenegro, como se entende, tem a consciência tranquila. Aliás, é notável a quantidade de artistas da política – isto porque a política é indubitavelmente uma arte – que se passeia de consciência tranquila, tenebroso seja o quelho em que se descubra, ou em que o descubram, para ser exacto, porque às figuras em causa nunca lhes ocorre que estejam, por assim dizer, um bocado ao torto, ou porventura em companhia no seu quanto questionável.
Enfim, Montenegro tem um escritório, banca que resolve uns sarilhos que não têm propriamente preço de tabela, que remetem um pouco para o «quanto quiser dar», o que no geral bem vai, porque sendo o Luís uma pessoa sociável, uma pessoa muito bem-dada, o cliente acanha-se e avalia por cima, o que se fosse comigo cotava por baixo e eu ficaria contente, porque cliente entrado é dia em que por miséria se ganha para a sandes.
Não chegava o negócio para rolar Montenegro na lama, e vá de lhe pegarem pela casa, agora a de Lisboa, porque vêm do passado uns fumos por obras no rincão natal, assunto que na altura pararia no patamar da esperteza, porque se tivesse feito de conta que uma coisa não era bem essa coisa, mas outra, estratégia muito em voga em Portugal em matéria tratada entre amigos, mesmo entre conhecidos. E oh se não nos conhecemos todos uns aos outros!

Corja de maledicentes! Quase o difamam por dinheiros que não se sabe de onde vieram. Para mim, na pior das hipóteses, vieram mais ou menos do mesmo sítio da dinheirama que o outro senhor tinha entre livros, nas barbas do Costa. Oitenta mil sem explicação! E depois? Sabe quanto tem, aquele cujo dinheiro lhe entra sempre pelo mesmo sítio, mas tomara eu que me caísse a rodos, que nem pudesse apanhá-lo.
Tomara-me, por exemplo, entrado numa salinha, porta aberta dos dois lados, e bagulho às milenas numa bandeja! Juro que perguntava de quem era, e até abriria a goela quanto pudesse, para ter a certeza de que não estaria ninguém por perto para partilha conscienciosa, pataca a mim, pataca a ti, caso em que faria pataca a mim, a mim pataca, porque estivesse na cara que era o desejo que o génio da lâmpada me realizara com tardanças.
Resumindo: Montenegro, é pior do que eu em quê? Em nada, e de ponta fico com o Nuno Santos, porque não lhe vejo a dignidade de assumir que somos todos iguais: pobres e a fazer pela vida. E a política sempre ajuda.
Cá se fazem, cá se pagam. Põe-te a pau, ó Nuno!

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