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Braga, terça-feira

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E o tempo passou...

A responsabilidade de todos

Conta o Leitor

2019-08-02 às 06h00

Escritor Escritor

Ainda não tinha nascido e, já na barriga da minha mãe, muitos sonhos, projetos e esperanças eram colocados em mim! O normal, que todos os pais fazem, quando desejam o nascimento de um filho!
Enquanto criança, por entre brincadeiras, quis ser cabeleireira, cozinheira, professora, médica… Quem consegue parar nossa a imaginação?
E depois, os desejos dos meus pais vieram ao de cima e depositaram em mim as ambições que eles próprios tiveram no passado, mas que nunca conseguiram concretizar. Eram tempos muito mais difíceis, em que não existiam recursos para estudar, para ter casa própria ou mesmo viajar!

Aprendi a tocar piano, numa escola de música; aprendi trabalhos manuais, enquanto era miúda e frequentava o colégio; estudei no devido tempo, até entrar para a universidade… um dos desejos que muitos pais têm para os filhos, e os meus também tinham! Obviamente que toda a minha infância e adolescência fizeram de mim aquilo que sou hoje. E, afinal todos os sonhos que depositaram em mim, ainda na barriga da minha mãe, e que tenho a certeza que nem metade alcancei, fizera-me crescer com objetivos próprios e princípios. O facto de exigiram tanto de nós enquanto crianças, de nos colocarem tantas aspirações em cima dos ombros, obriga-nos a superar-nos e a ter receio de dececionar quem está a olhar por e para nós.
O tempo passou e hoje, em cada bebé que nasce, surgem novamente sonhos, desejos, esperanças, muitos deles repetidos por entre diversos lares e famílias. O gosto das conquistas será o mesmo, bem como o desânimo perante as derrotas.

Hoje passo pelos sítios onde cresci e recordo-me… daquele vestido vermelho que estreei na Páscoa, de saltar à corda no pátio do ciclo, de fazer cábulas para o teste de história, das festas de anos sempre que alguma amiga me convidava para ir à casa dela, de namorar às escondidas atrás do pavilhão da escola, de passar as férias de verão em casa da minha madrinha, dos meus avós e pedinchar-lhes um gelado ou mais uma ida ao rio com a minha irmã. Como é possível esquecer a excitação do dia de Natal ou aquelas aulas que detestava? Aquele formigueiro antes de saltar no trampolim nas aulas de educação física; aprender a tocar flauta (e esquecer tudo com o passar dos anos); o nervosismo sempre que era chamada ao quadro; a realização de trabalhos de grupo por entre panikes de chocolate e gomas; as idas ao cinema ao domingo à tarde e, mais tarde, quando os pais já permitiam, as matinés na discoteca ao domingo, onde parecia ganhar alguma independência e emancipação. Mesmo sem telemóveis e aplicações sociais, não havia um único encontro marcado que falhasse!

O “drama” do primeiro desgosto de amor… o tal namorado que era para a vida toda e que afinal não gostava assim tanto de mim. O maravilhoso da adolescência é que no dia seguinte, quase sempre, aquele problema enorme que existia, afinal… não era assim tão enorme e passava!
As cassetes com as gravações manhosas daquelas músicas que na altura estavam em voga e que serviam para colocar o volume da aparelhagem no máximo, sempre que a casa estava por minha conta. Dependendo do estado de espírito, ou era o Bon Jovi, ou os Guns N’ Roses ou as Spice Girls, entre muitos outros daquele tempo. Também dependia daquilo que se conseguia gravar através da rádio, até porque a mesma cassete era gravada e regravada dezenas de vezes!

Ir de férias com os meus pais, para o Algarve, para a Serra da Estrela, foi sempre uma aventura, mesmo eu não sabendo disso na altura, já que vomitar metade do caminho, no Toyota ainda com cheiro a novo, é hoje motivo de muitas gargalhadas. Apesar da minha irmã nunca ter achado grande piada, porque no banco de trás ao meu lado, acabava também ela enjoada só de olhar para mim!
Os anos foram passando e muitas das amizades de escola e universidade foram ficando para trás, à medida que surgiram outras decorrentes do emprego ou das idas ao ginásio. Contudo, naqueles encontros com as amigas de longa data, há sempre uma conversa sobre o passado, sobre de como eram as nossas vidas e expectativas em relação ao futuro, e é engraçado ver o quanto evoluímos e amadurecemos. Consegui arranjar o primeiro emprego, que mesmo sendo precário, deu-me a experiência necessária para evoluir e saber o que queria fazer e para onde queria ir!

Quando senti que estava na hora de ser independente, por entre algum nervosismo e incerteza, decidi comprar a minha própria casa. A realização da escritura de compra foi um dos dias em que percebi que os meus pais já não estavam lá, era apenas eu e o meu nome que ouvi!
O tempo passou e passou tão rápido! Foi ontem que entrei para a universidade e tirei a carta! Foi ontem que arranjei emprego e comecei a viver sozinha! Contudo, os sonhos e as aspirações enquanto era bebé permanecem… não apenas na cabeça dos meus pais, mas agora também na minha! E é este efeito que o tempo tem sobre nós…

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