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Braga, sábado

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E o vencedor é...

A força da gratidão

E o vencedor é...

Ideias

2024-11-06 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Ao momento em que escrevo não é conhecido. Nem poderia ser, sendo que à saída da presente edição tampouco estarão os votos apurados por inteiro. A incógnita pesará por dias, e arrastar-se-á, a tanto bastando que Trump não termine vencedor. Recontagens que talvez se sucedam, sempre que um punhado de votos separe o Inteligente da Imbecil, magistrada que a toda a força denegriria uma sociedade se o barrete lhe coubesse, se em base de QI minguado tivesse ultrapassado formação assaz morosa e aturada.
Do que trago, em estudo e aplicação de testes intelectuais, diria que não me surpreenderia se mais burro fosse quem o chama, e que de testa estreita seja quem o siga, lhe aplauda dito rasteiro, quem o considere genuíno e, para cúmulo, o cote por sincero, mesmo quando mente ou se espraia em absurdidades.
Assentemos: nem Kamala é a personagem lerda que querem fazer passar, nem Donald é um pau-mandado que Putin tenha preso pelo rabo. Do que julgo, Trump entrou na política para ganhar ainda mais dinheiro e, se a família Biden tinha interesses na Ucrânia, por nenhuma moral restritiva está o candidato de palavra torpe impedido de acrescentar vantagem patrimonial, descontada de triste passada e fracas sortes de quem apostou em melindrosa aproximação à UE e à NATO.
Com tudo à vista, estranho se me faz que insistamos em ter por anjo guardião quem não cuida senão de prioridades próprias, que nem são as do povo norte-americano no seu todo, porque se em menos de 20 anos descemos uma vintena de pontos em termos de paridade económica – nós, europeus, por comparação com os norte-americanos – menos verdade não é que, paralelamente, não se tenha constatado uma falência de sectores da classe média até entre eles, vendo-se obrigado a recorrer a esquemas de assistência quem antes se bastava.
Assim, se não é crível que Kamala Harris inverta o rumo da política externa americana, quando Donald Trump pareça estar-se nas tintas para o que o Kremlin aponta em agenda, no que ao quintal dos fundos respeita, venha lá o mais fino dos equilibristas políticos bater trunfos com o baralho viciado da democracia liberal, que só é pulcra porque nós o decidamos em parcialíssimo proveito.
A guerra russo-ucraniana é um assunto americano-europeu na medida em que é um assunto da grande economia, na medida em que encerra uma perda visível de qualidade de vida, a par do que faz explodir em alta os grandes negócios do armamento e da energia. Nem é preciso um desenho aturado: se os salários não acompanham a inflação, bom é de ver quem fica ao dependuro. Assim, no que a este escrutínio respeita, vota-se na América em Trump de bolsos de fora, vota-se em Harris de cartilha de boas-maneiras em mão. Mais coisa, menos coisa, seis meses atrás votou-se de modo similar em França.
Realidades que ultrapassam esboço simplista e repetições estafadas, de comunista para ela, de fascista para ele. Etiquetas que nada valem! Decididamente, quando é que nos daremos ao trabalho de reclamar obra, pragmatismo, de tal sorte que a Economia, o Estado, os Grandes Valores, não possam encontrar-se em alta se o comum cidadão não está capaz de o dizer de si, da sua despensa, do seu conforto, do seu lazer?
Os fogos florestais, as secas, os dilúvios, os degelos acentuados e o nível dos mares, não serão acima de tudo reflexo de más decisões reiteradas? Se não somos capazes de inverter o rumo dos acontecimentos e emendar o que temos à porta de casa, com que grandiosidade de discurso soamos credíveis a nós próprios?
E, acima de tudo, porque infantilismo, porque atavismo, pensamos a América?

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