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E se namorássemos mais um pouco com os livros?

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E se namorássemos mais um pouco com os livros?

Voz às Bibliotecas

2025-01-23 às 06h00

Aida Alves Aida Alves

Está a aproximar-se o mês de fevereiro e o dia de São Valentim, a 14 de fevereiro. Durante este mês é prática em muitas escolas do Ensino Básico trabalhar várias dimensões do tema dos “Afetos”. Celebra-se o amor e os afetos, entre crianças e professores, entre amigos e colegas, também entre casais, e o mote apela à criação de conteúdos e formatos diferenciados, produzidos com emoção e alguma criatividade. Estes trabalhos resultam da produção de textos, de imagens, de postais, de cartas a amigos secretos, ainda pela troca mútua de atenções e mimos, uns mais singelos, outros por vezes mais ostentosos. Cabe a cada um definir as práticas e as demonstrações de afeto.
Relacionar esta celebração com bibliotecas e livros, pode parecer um pensamento forçado e algo desconexo, mas não o é. É importante pensarmos nos livros como objetos de proximidade com os quais estabelecemos laços afetivos e emocionais. Desde logo, porque há uma relação quase física de enamoramento e uma ligação sentimental, amor-literatura. Sabemos que existe uma produção imensa de materiais literários, quer em prosa, quer, sobretudo, em poesia. A poesia absorve muito extensivamente do amor romântico, na sua forma serena e feliz, na sua forma carnal, mas também na sua antítese, o desamor, o sofrimento amoroso (Amor é um fogo que arde sem se ver, do nosso poeta Luís Vaz de Camões, autor que nos merece destaque pela comemoração dos seus 500 Anos), o amor não correspondido, a traição, o ciúme, as zangas e reconciliações.
Nas bibliotecas também se costumam dar destaque a exposições bibliográficas, palestras e debates relacionados com o tema do amor, enamoramento, e, por vezes, as suas facetas mais sombrias, como a violência no namoro, violência doméstica, temas que apesar de ser antagónicos, podem constituir-se de maior sensibilização para redução de comportamentos mais desviantes. Uma iniciativa original que destacamos e que acontece em fevereiro nas bibliotecas de leitura pública da CIM Cávado é a iniciativa “Encontro às cegas com um livro – infância, juventude e adultos”. Livros esteticamente embrulhados, com um pequeno mimo degustativo acoplado, com palavras chave no papel de embrulho, expostos ao leitor para requisição às cegas, a fim de causarem alguma surpresa aquando da abertura e leitura. Uma experiência diferente que convidamos todos os leitores das bibliotecas a apreciar. Outra prática comum é oferecer um bonito poema de amor, quer de um autor preferido, quer de produção própria. É sempre um gesto de elevado e apreciado valor. Oferecer um poema ou entregar um livro é uma boa opção. E esta tanto é válida caso o livro se adeque a amorosas intenções.
Por outro lado, pode relacionar-se o tema dos afetos ou o dia de S. Valentim com a relação que alguns leitores mais fiéis habitualmente têm com os livros. Muitos destes leitores, quando questionados se preferem ler livros no formato digital ou papel, referem que não há comparação possível entre os dois, e que a leitura de um bom livro, em suporte papel, nunca será substituída pela versão digital. “O toque e o cheiro”, são os argumentos mais ouvidos. As razões para tal escolha são quase do foro amoroso ou mesmo sensitivo, como se de um enamoramento de tratasse. Referem o toque, o cheiro, a sensação de plenitude que sentem quando têm, nas mãos, um livro aberto, poderem passear com ele. Poder folhear o livro, senti-lo, progredir ou recuar nas suas páginas a seu bel-prazer, são sensações únicas que a leitura da cópia digital não proporciona. Se atentarmos bem nas razões enunciadas, podemos perceber que, quer a cópia em papel, quer a cópia digital, porporcionam o mesmo tipo de informação – as páginas, linhas, palavras, letras, espaços estão lá igualmente da mesma forma. O que difere são as sensações percebidas pelos sentidos, a interação (tato e o cheiro especialmente) e isto articula diretamente com o amor sensual que vive exatamente do toque, dos cheiros e dos olhares. Assim, ler um livro, ultrapassa a mera questão intelectual de absorção da informação, e é também uma questão sensorial que proporciona um tipo especial de prazer e que apela mesmo ao nosso lado afetivo. Quantas vezes nos embrenhamos de forma tão apaixonada e completa na leitura de um livro nas duas vertentes, a intelectual e a sensorial, e nos deixamos arrebatar de tal forma pela leitura, deixando divagar a nossa imaginação, que sentimos uma perda verdadeira quando verificamos que se aproxima a última página. É como se perdêssemos uma muito boa companhia, um amigo, ou um amor recente. O verdadeiro deleite é começar a ler as primeiras páginas e apreciar a aventura, estabelecer o laço de intimidade que a leitura nos provoca. Porque ao namorarmos com os livros despertamos dentro de nós a maior autenticidade e verdade. E se namorássemos mais um pouco com os livros?

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