A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2018-04-16 às 06h00
Uma sondagem da Datafolha, divulgada ontem, revela que Lula da Silva continua a ser o candidato preferido dos brasileiros para a Presidência, embora a tendência de voto registe uma ligeira quebra. Preso a 7 de Abril, o candidato do Partido dos Trabalhadores soma 31% das intenções de voto, seguido do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro, com 15%. Este quadro reflete um Brasil à deriva. Conseguirá encontrar um rumo?
São menos seis pontos do que conseguia alcançar em final de janeiro, mas mesmo assim o candidato do PT reúne agora 31 por cento das intenções de voto da população brasileira. É uma percentagem elevada. Lula da Silva não apresentou formalmente a sua candidatura, foi condenado em segunda instância, o Supremo Tribunal Federal recusou à defesa o pedido de habeas corpus preventivo e o juiz Sérgio Moro decretou a sua prisão. Que se tornou efetiva há já alguns dias. Neste contexto, poder-se-ia pensar que o Brasil se afastaria de um candidato que dificilmente conseguirá chegar às urnas. Não parece ser o caso. No entanto, as alternativas não permitem um grande optimismo.
Tomando o poder sem passar pela legitimidade do voto do povo brasileiro, Michel Temer substituiu Dilma Rousseff garantindo que o seu trabalho terminaria com o fim deste mandato. Há três semanas, decidiu anunciar a sua candidatura numa longa entrevista à revista Isto é. Argumentava que não havia nenhum candidato para defender o seu Governo que, na sua opinião, tem muito para mostrar. E Temer não vai inibir-se de exibir isso. Porque, como avisa, esses limites só existem em período de campanha eleitoral. Que ainda está longe. Na passada quinta-feira, o jornal A Folha de São Paulo escrevia em manchete que uma obra para filha de Temer foi paga por mulher de coronel (em dinheiro vivo). No dia seguinte, o presidente do Brasil reuniu-se em S. Paulo com alguns advogados. E isso não constou na sua agenda oficial.
Não se pense que os problemas se circunscrevem a dois candidatos. Na passada semana, os media brasileiros destacaram amplamente o pré-candidato do PSDB Geraldo Alckmin envolvido em suspeitas de corrupção. O seu processo será agora enviado para a Justiça Eleitoral a fim de se avaliar a possibilidade de entrar na corrida presidencial.
O Brasil enfrenta uma das maiores crises políticas. O atual Presidente da República apresenta baixíssimos índices de popularidade. De quando em vez vê-se envolvido em suspeições de corrupção que se estendem aos membros do próprio governo. Na verdade o processo Lava Jato parece varrer quase a totalidade dos partidos brasileiros, o que torna dedálica a tarefa de encontrar candidatos com a ficha limpa.
Durante anos, a política brasileira declinou-se através de conivências que dificilmente deixavam imunes aqueles que se aventuravam em cargos políticos. Sendo agentes ativos ou meros observadores de atos fraudulentos, os políticos lá foram perdendo a sua reputação num labirinto de favores que cruzam diferentes forças políticas e órgãos de soberania. Também é um facto que os partidos nunca se esforçaram em renovar os seus quadros. Porque os mais velhos não cedem com facilidade os seus lugares quando estes representam uma profissão que não conseguem encontrar em mais lado nenhum e, em muitos casos, a garantia de uma imunidade que os pode poupar a uma condenação.
Ninguém pode arriscar traçar cenários quanto ao Brasil político que as eleições presidenciais irão devolver a todos nós. Porque do outro lado do Atlântico as teses que se constroem rapidamente se transformam em antíteses. No entanto, nos próximos meses joga-se muito daquilo que será este país no futuro. Seria bom para todos que do xadrez político emergisse um Presidente que assumisse um corte radical com os partidos tradicionais. A decisão de salvar o Brasil está nas mãos dos brasileiros. Seria hora de se ouvir um grito contra a corrupção. Forte e inequívoco.
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