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Ecológicos

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Ecológicos

Ideias

2019-05-14 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

Nunca o Mundo assistiu a um desenvolvimento global tão grande e rápido como os vividos nos últimos 70 anos, alavancadas pelas oportunidades geradas pela reabilitação e recuperação do que havia sido destruído pela 2.ª guerra. No entanto, este desenvolvimento económico tem inicio muito mais cedo, quando ocorre a grande alteração da forma de produzir riqueza, passando de uma economia suportada na agricultura para uma economia de base industrial.
A produção em série revolucionou o mundo, dando um novo rosto ao Capitalismo, dali surgindo o assalariado como consumidor. Com a industrialização e a criação de emprego, é criado um ciclo económico quase perfeito.

Teoricamente todos seriam beneficiados; quando mais se produzisse maior seria o número de produtores/empregadores, maior o número de empregados, maior número de compradores, tudo isso equilibrado pelas regras da livre concorrência de mercado que assim incentivava o empreendorismo, a criatividade, a inovação técnica, o aperfeiçoamento de modelos gestão económico-financeiros. Ou seja, criar-se-ia progressivamente mais riqueza para todos.
O Capitalismo tinha encontrado no consumo a chave do crescimento permanente que alimentaria eternamente as necessidades de produção e consequentemente o emprego e com ele a melhoria e alargamento da capacidade da qualidade de vida e do prazer do viver para além da satisfação das necessidades básicas. O Mercado da oferta adapta-se, e o produto produzido em massa para muitos vai sendo substituído por lotes em menor quantidade, dirigido a públicos-alvo, diferenciados por pormenores que vão desde o design à forma como são individualmente embalagem e publicitados, todos eles com prazos de vida curtos, criados para rapidamente serem substituídos por outros mais atraentes.

Este sucesso é possível porque se passa a utilizar intensivamente uma matéria-prima milagrosa. O petróleo. Um hidrocarboneto originado pela decomposição natural da matéria orgânica durante milhões de anos.
O petróleo funciona como principal fonte de energia e como material base para uma enorme quantidade de produtos que hoje fazem parte indispensável do nosso quotidiano, como os plásticos, borrachas, fibras têxteis, produtos químicos, etc., etc. Todos eles tem porém uma particularidade cruel para a natureza. Não se degradam facilmente, acumulando-se como matéria quase indestrutível, poluindo o Mundo, não só como lixo que se deposita e esconde em aterros ou simplesmente abandonados, mas sobretudo como gás tóxico advindo do seu processo de transformação ou uso possível através da sua incineração.

A fórmula do crescimento da produção é a mesma do aumento da poluição. É o sucesso do crescimento da riqueza, que sustenta a melhoria da nossa qualidade de vida moderna, que nos pode vir a matar. As alterações climáticas surgem como aviso. O desaparecimento de milhares de espécies de vida como uma perda irrecuperável. Os cientistas tornam credíveis as ameaças para a vida destes comportamentos e sentimos receio pelo futuro.
Temos que mudar esta forma de vida. Tomamos consciência dos perigos da sobreprodução sustentada em matérias que se transformam em veneno. Passamos a ter uma consciência ecológica. O apelo à mudança de hábitos alarga-se ao mundo e a maioria aceita essa verdade. Começamos a alterar os hábitos mais fáceis de cumprir, os que não nos obrigam ao sacrifício do prazer do consumo, como a separação dos lixos, o seu tratamento como lixo e a sua reciclagem. Proibimos a utilização intensiva de materiais perigosos para a saúde, sobretudo os químicos usados na agricultara. Amenizamos consciências, mas não chega.

Continuamos na generalidade a manter os mesmos hábitos de consumo enraizados como cultura de bem-estar. Não aceitamos ainda a imposição de limites ao consumo energético a que nos habituamos, seja por justificação de mobilidade de pessoas e bens (veja-se o que aconteceu com a greve no transporte de produtos petrolíferos), seja por necessidades de aquecimento, ou porque são insubstituíveis os múltiplos usos industriais necessários a produção dos bens e equipamentos indispensáveis ao modo de vida atual.
Temos consciência ecológica mas continuamos a adquirir produtos individuais embalados. Não optamos por produtos de qualidade e vida duradoira, antes pelo barato e rapidamente descartável. Compramos por simpatia não resistindo ao apelo do consumo que nos entra por todo o lado, seja na TV, telemóvel, internet, revistas, etc. Queremos distinguir a nossa individualidade e gastamos mais em produtos exclusivos, mas supérfluos. Adquirimos hábitos alimentares baseados no consumo excessivo de carne, cuja produção polui tanto como a do consumo de combustíveis.

Somos parte de um mundo sustentado no modelo da sobreprodução com origem na fonte de energia fóssil, mantendo todos os objetivos sustentados no crescimento contínuo, sem nos preocuparmos muito com os limites dos recursos do planeta Terra. Não estamos preparados para formas alternativas de vida.
Será que será necessário uma nova catástrofe civilizacional, uma nova guerra, que proporcione novas oportunidades de mudarão o modelo de sustentabilidade económica?
Não sei. Espero que não, pois acredito na capacidade de adaptação do Homem como ser que sabe encontrar sucesso para a sua própria sobrevivência.
Estamos no início de um processo, com bons exemplos como o da separação de lixos, facilitando a reciclagem. Compramos cada vez mais produtos biologicamente produzidos. Temos comportamentos de alimentação mais verdes e saudáveis. Recebemos bem fontes o aparecimento de meios de produção de energia não poluentes. Queremos dar privilégio à aquisição de produtos, bens e equipamentos que usam fontes de energia não poluente. Estamos no bom caminho, mas é preciso muitíssimo mais. Temos que alterar profundamente hábitos de consumo. Quantos de nós aceitamos fazer isso? Pensem nisso e ajudem a melhorar o Mundo.

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