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Eleições, Programas & Saúde

Entre a vergonha e o medo

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Eleições, Programas & Saúde

Escreve quem sabe

2024-03-12 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Difícil será, nos próximos dias, escrever crónicas ou artigos de opinião que não abordem as eleições que decorreram no passado Domingo. Aliás, difícil foi o final desse dia, que se prolongou pela noite fora e que tomou a atenção do povo português. Um comentador político, Sebastião Bugalho, dizia que a noite estava a ser «imprópria para cardíacos» e, na verdade, as emoções que se viveram a partir das 19 horas do dia 10 de Março foram levadas ao extremo.
De grande destaque foi a participação dos portugueses nestas eleições, visto que a abstenção foi a mais baixa desde 1995. Foi efetuada uma contínua chamada ao voto, que deve ser realizado de forma consciente, mas segura – e os portugueses ouviram. O voto é uma expressão individual, porém passa por ser um contributo fundamental para a construção da sociedade. Feliz daquele que vota, podendo esta expressão individual ser um sinal de efetivação da democracia e de liberdade. Mais, é urgente que se eduquem as novas gerações no sentido do compromisso para com o voto, só assim será possível ajudar a construir um futuro mais refletido.
A Aliança Democrática (AD) apresenta uma grande responsabilidade nos próximos tempos. Circundada por uma oposição socialista, que se prevê severa, e por uma direita mais à direita, a AD não terá tempos fáceis de governação. Certo é que encontra outras simpatias na própria direita, como as do Iniciativa Liberal, mas, ainda assim, a AD encontra-se num palco com atores difíceis de gerir. Os próximos dias serão importantes para perceber conexões e posições, pois existem determinados pormenores que ainda se encontram a ser aferidos, como por exemplo a expressão de voto dos portugueses emigrados ou a possibilidade de formar governos conjuntos.
Em relação à saúde, que aqui é o que interessa, a AD apresenta um programa centrado na comunidade e na aproximação, com reforço dos Planos Municipais de Saúde e otimização dos serviços de urgência do país. Para combater a desigualdade no acesso à saúde, a AD, no seu programa, propõe a realização de um Plano de Emergência SNS 2024-2025 nos primeiros 60 dias de novo governo. Ora, estes 60 dias correspondem, de grosso modo, a dois meses, o que me parece um pouco arrojado de concretizar tendo em conta o panorama dos grupos parlamentares mais recentes. E mesmo que a AD já tivesse um plano destes desenhado, ou pelo menos alinhavado, a verdade é que a implementação deste plano terá de passar por uma aprovação orçamental de execução, e tenho dúvidas que isso se consiga realizar nos tais 60 dias.
Ainda no seu programa, a AD refere a possibilidade de se voltarem a concretizar parcerias público privadas (PPP) no setor da saúde. Na verdade, o Sistema Nacional de Saúde sofreu, nos últimos meses, alterações na sua gestão administrativa, com as recém-criadas Unidades Locais de Saúde. Pensar em PPP nesta fase significa uma nova alteração, e não sei até que ponto será exequível a gestão de uma PPP no âmbito da promoção da saúde comunitária e pública. Aliás, todos temos visto, ao longo dos anos, as consequências que as PPP trouxeram para a saúde, em particular ao nível da motivação dos seus profissionais. Mais, em relação à saúde mental, esta aparece sete vezes no programa, mas não de forma autónoma ou evidenciada, sendo associada a outras áreas da saúde – de forma mais autónoma, é abordado um Programa de Saúde Mental Comunitário, sendo este um dos únicos pontos fortes do programa para a saúde, na minha perspetiva. É necessário mudar os serviços de saúde mental e psiquiatria em Portugal, e a mudança deve começar pela construção efetiva de uma visão que se tem vindo, há demasiado tempo, a adiar.
O país parou no último Domingo para ver os resultados da sua escolha. No entanto, o país não pode parar, é urgente que se mantenha um certo ritmo de atuação e, acima de tudo, de respeito para com os portugueses.
Se as ameaças que vêm da direita das direitas podem ser um obstáculo ao novo governo, a oposição da esquerda terá, antes de tomar decisões, de olhar para a qualidade de vida e bem-estar dos portugueses, e talvez muitas vezes alinhar em certas tomadas de decisão que visem exatamente isso. Ainda que muito dividido, o povo português escolheu – resta é saber por quanto tempo será mantida esta decisão.

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