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Elogio à consciência tranquila

Da Importância das Organizações Profissionais em Enfermagem

Elogio à consciência tranquila

Ideias

2023-11-12 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Os políticos de consciência tranquila suscitam-me especial ternura. Todos, sem desconto.
Rompo em admiração por ministros a quem nada pesa na consciência. Vou ao ponto de afirmar que os contemplo com os êxtases de agraciado por auroras boreais, com os delíquios de quem se banhe em mar turquesa nos confins do Pacífico. Não que alguma vez me tenha levado tão a norte ou tão a sul, mas sei, que se um dia por tais paragens me encontrar, então, com arrebatamento direi: isto é como ser chutado do governo de consciência imaculada!

Inclino-me de joelho ao chão diante de político virgíneo, como cristão pio à passagem da Sagrada Custódia no remate de procissão soleníssima. Inclino-me e esmaeço de dores, senão de inveja, por na minha insignificância não ser digno sequer de puxar ao pálio. Que graça! Mas não! Consciência a minha, que de negra, de sombria, equivale mar pastoso, coberto de ramas de crude.
E fere-me este abismo insuperável, este naufrágio nos vazios do não-Ser, como se de outra espécie eu fora, como se de geração de deuses eles fossem, e eu – e nós, enfim, os outros – fôssemos infestantes de utilidade duvidosa, isto para colocar tão rasteiro estatuto sob a melhor das luzes.

Ansiei ouvir o enfant terrible, esse ícone da maioria que em triunfos terminara a semana anterior: que fulgor no palanque parlamentar! Quis ouvir o filho muito amado, ou pai-Costa não tivesse nele deposto todo o seu enleio. Que conforto de alma não atingiria a gregoriano com antífona expiatória: «Lutarei, por aquilo que julgo ser a minha verdade!» Ou que o próprio patrono o entoasse à capela, porque tão bem lhe saiu a estreia no coreto de Évora.
Porque não o ouviram, para que nos chegasse clamor lancinante e, contagiados, cerrássemos frente em resgate de supliciado? Porque de César lutuoso nos serviram? Por factos tomarão conspirações? Por pecados tomarão calúnias. Onde se viu, que um amigo não possa pedir por um amigo, a outro que acabe amigo de ambos? E se a gratidão não tem preço, não é irrisório o que pingue no covo da mão? Pior: não somos todos irmãos? Oh! Pelo irmão que me descubro sofro por Costa, que longe de glórias não chegue aos fartos de Bruxelas! Pelo irmão que me descubro, sofro por abatido ministro de muita estrutura, de muita energia limpa, de asa bastante para radioso voo. Mas é Portugal que perde, e essa ninguém me tira.

Sátira que passo do palco para o público. Mundo fora, tanto povo se conjuga para futuro melhor e nós, com 50 anos de juízo, a marcarmos passo desconexo, como recruta com duas botas canhotas! E isto sem que ninguém nos oprima, sem que potência malévola nos corte as vazas. Bem sei que há quem clame que a culpa seja nossa, porque não saibamos escolher quem governe em termos. Eu sei que, sacudindo culpas, diga o povo que melhor não pinte, do que os artistas que acabam com as rédeas na mão, levando a carroça para onde lhes convém.

Acertem uns na doença, outros na cura, mas que o calvário finde. Para já parece-me fino que o PS não concorra às próximas eleições, por higiene auto-imposta, porque se tanto comandaram, boa meada de misérias têm em carteira. É que aos próprios vai em vergonha: o Guterres deu à sola, o Sócrates pôs o País a pedir, quanto por outra se acautelava. O Costa, que por vesgueira, nem de maioria conseguiu dar rumo airoso a vaca voadora. Tudo levaria solução, se fôssemos todos seus amigos, mas deu-lhe para ser somítico nos afectos.
Põem-se eles de fora para nos responsabilizar: correndo mal, saem resgatados. Correndo bem? Bom, quem é que irá lembrar pecados velhos?

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