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Ideias
2025-05-17 às 06h00
No mês passado, a Presidente da Comissão Europeia (Úrsula Von der Leyen) disse, numa entrevista ao semanário alemão Zeit, que “o ocidente, tal como o conhecíamos, já não existe”. Acrescentou, no entanto, que “a Europa continua a ser um projeto de paz. Não temos amigos ou oligarcas a ditar as regras. Não invadimos os nossos vizinhos e não os castigamos".
Mas o que é o “Ocidente”? Não se trata de um conceito geográfico. É um “espaço” civilizacional e cultural. É, sobretudo, uma forma de organização social e política, alcançada com a institucionalização de um tipo de Estado e de exercício do poder, democráticos e humanistas. É um modelo de organização política e social que se guia, no fundo, pelos valores proclamados no artigo 2º, do Tratado da União Europeia. Valores que orientam e fundamentam a própria integração: dignidade humana, liberdade, democracia, igualdade, respeito pelos Direitos fundamentais e – muitíssimo importante! – o “Estado de Direito”. No entanto, Van der Leyen não estaria a pensar somente nessa forma de organização política e social, herdeira do Iluminismo europeu. Referia-se, também (quiçá, sobretudo?), a um “modo de vida” comum aos povos, países e Estados, refletindo uma identidade comum Iluminista, moderna e democrática. Países, povos e Estados que, revendo-se mutuamente naqueles valores, relacionam-se, entre si, com igual respeito e sentindo uma certa afinidade de vida. Considerando sempre, em qualquer circunstância que, imparcialmente, é a Lei que se deve impor a todos (o respeito pelo “Estado de Direito”), protegendo-nos, quer individualmente, quer coletivamente. É o “velho” bloco transatlântico “Estados-Unidos – Europa”. Com a América do Sul, a Austrália, a Coreia do Sul e o Japão. O mundo que respeitava o Direito internacional, erigido a partir dos escombros da IIª Guerra (tal como a integração europeia) e no qual os Estado-Unidos tiveram um papel fulcral de construtores e de garantes desse mesmo mundo. Uma comunidade internacional em que o respeito pelas fronteiras estabelecidas era um princípio “sacrossanto”, garantindo a coexistência em paz. Coincidentemente, esse ocidente era, também, o mundo do desenvolvimento económico mais acelerado; mais rico. No fundo, a Presidente da Comissão dizia que o “bloco” geopolítico dito ocidental, já não era o que tinha sido – nomeadamente, durante grande parte do século XX.
É claro que, em parte muito significativa, foi a ação errática e aparentemente anti tradição do próprio papel dos Estados Unidos no ocidente, que motivou a declaração de Von der Leyen. Trump, nesta sua versão 2.0, aparece, sobretudo, como uma espécie de negacionista da História recente norte-americana. Troca, aparentemente, a posição de potência global geopolítica, pela de negociante internacional. E, principalmente, pela imagem de “vencedor” comercial, a bem ou a mal… pelo menos para “consumo interno”. Prescinde da ordem que foi sendo construída pelos pelos Estados-Unidos (da “sua” ordem), por aparentes vantagens económicas. Vulgarizou-se a expressão “transacional” (Trump é um Presidente transacional), escondendo a realidade: não existe estratégia a médio prazo, sendo que liderança e influência geopolíticas serão irrelevantes, se não forem, para Trump, um instrumento de negócio. Pelo que até são possíveis relacionamentos diplomáticos com regimes antidemocráticos e - pasme-se! - antiamericanos. Tudo é relativo porque tudo é transacionável. Para a administração de Trump, é indiferente apoiar e/ou acordar com Putin ou com o Santo Padre, desde que tal signifique um aparente ganho dito transacional. Se é certo que as relações internacionais movem-se por interesses, há, no entanto, interesses que são mais sólidos e confiáveis do que outros. E quem só age por interesses ditos transacionais (dinheiro), não é confiável. Ou seja, não poderá geopoliticamente liderar ou ser uma referência!
Mas, em rigor, Trump aparece na sequência de outras manifestações visíveis de que o “ocidente já não é o que era”. Putin, desde fevereiro de 2022, mostrou-o claramente. Tal como Biden que, logo em início de mandato, permitiu a saída das tropas norte-americanas, apressada e atabalhoadamente, do Afeganistão. A emergência de um eixo dito do “Sul Global”, assumindo-se, sem preocupações, como defensor de uma nova ordem internacional, também ilustra as movimentações geopolíticas globais que diluem o “antigo ocidente” e o seu papel de referência. Realmente, o cunho genético daquele ocidente era europeu. A sua “musculação” tinha sido norte-americana. Mas, voltando ao “Sul Global”, excluindo o Brasil, o que há de comum entre todos os intervenientes desse eixo, talvez seja mesmo uma convivência complicada (senão mesmo, inexistente!) com a democracia e o “Estado de Direito”. O interesse comum é a substituição do papel/poder do ocidente, no areópago internacional. Com as devidas consequências e benefícios também eles “transacionais” - leia-se: poder comercial e económico da China.
Poderá o dito ocidente, então, reencontrar-se? Sim, embora nunca tentando mimetizar o tipo de influência que deteve no passado, num mundo, então, sem concorrência. Ou seja, o dito ocidente só pode e deve potenciar as suas vantagens competitivas e características, para reganhar a sua capacidade de atratividade e de influência (poder) geopolítico. O pluralismo em tolerância e com capacidade de inclusão, criatividade suportada pela sua História e civilização de cunho iluminista e, ainda, mantendo um forte sentido democrático e de liberdade. Ou seja, nunca trocando os cidadãos e a democracia (o enunciado do artigo 2º, do Tratado da União Europeia), por alegadas vantagens “transacionais”!
18 Junho 2025
18 Junho 2025
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