Entre a vergonha e o medo
Ideias
2013-02-13 às 06h00
Estamos a mudar. A sociedade encontra-se em mutação constante e muitas vezes só nos apercebemos desse fato quando nos deparamos com o passar do tempo ou ficamos espantados com as reações que esperávamos do Outro, pois essas também mudaram. Afinal, o que é que aceitamos e tomamos como nosso? O que consideramos como os nossos valores e princípios, que por vezes tornam-se tão difíceis de encontrar nos diferentes contextos em que nos encontramos?
Aquilo em que acreditamos, e que nos molda, influencia igualmente a forma como vivemos a nossa saúde e como resistimos às diferentes situações de doença. Ademais, o que é para mim a saúde poderá não ser igual para o Outro, e a forma como a promovo e cuido dela também não o é. Estas vivências de cuidado/não-cuidado são altamente influenciadas pelas nossas histórias pessoais, familiares e de comunidade, e poderão determinar a forma como vivemos o futuro.
Sempre considerei interessante o fato de que a forma como agimos no aqui e agora pode influenciar a forma de estar no amanhã e depois - possuirmos interação direta entre o passado e o futuro, e ainda assim o preceito de viver o dia-a-dia. Porque afinal, como alguém bastante próximo e sábio me dizia há uns tempos atrás, “deves aproveitar ao máximo o de hoje, com coerência e respeito, porque não sabes como será amanhã”. Este é um lugar-comum, porém também isto se aplica à nossa vivência de saúde e reação à doença.
Sendo a saúde considerada como um projeto individual, ou seja, cabendo a cada um de nós saber vivê-la e preservá-la da melhor forma e com os recursos a que temos acesso, é da nossa responsabilidade (enquanto cidadãos) saber incluí-la nos projetos da sociedade e quiçá, zelar para que a saúde comunitária também seja promovida. Esta responsabilidade, não solicitada pela maior parte de nós e rejeitada por alguns, pede nos dias de hoje para ser cumprida, tanto a nível de resiliência social como a nível de preservação individual.
Para o cumprimento desta responsabilidade aos níveis referidos é necessário o acesso aos meios corretos de intervenção. Estes meios provêm, de entre outras origens, da informação disponível, da vontade interna e individual de os aproveitar e da cooperação entre Nós e os Outros. Porque apenas com a ajuda dos Outros é possível a melhor realização possível dos nossos projetos de saúde. Sendo nossos, são refletidos nos Outros, que porventura os poderão ver como modelo (positivo ou negativo) a ter em conta.
Há que ter em conta, neste cumprimento e compromisso da responsabilidade sobre e para a nossa saúde, as referidas mudanças. Estas pequenas transformações, consequências típicas da nossa época (a considerar quase como históricas e distintivas para as populações), são fatores influenciadores das nossas marcas culturais, das nossas histórias de desenvolvimento de pensamento e ações.
Tudo isto que é influenciado encontra-se altamente relacionado com o que consideramos importante e vai afetar, de forma quase impercetível, a forma como nos adequamos às novas situações de saúde (ou não-saúde) que estamos a viver. Porque são mudanças que existem, por exemplo, ao nível da idade das populações, das novas tecnologias de prolongamento de vida e consequente reabilitação física e psicossocial, das emergentes reinserções na comunidade, ou seja, das novas realidades que se vivem nesta área, que é comum a todos nós.
Convém igualmente saber até que ponto conseguimos aceitar estas novas mudanças, considerando-as como algo bom ou não. Resta, a cada de um de nós, saber vivê-las da melhor forma, por vezes até “encaixá-las” dentro dos nossos caminhos. Não falo de resignação (pois esse é um trajeto com o qual não me identifico), mas sim de novas adaptações e novas formas de conhecimento. Há que ter equilíbrio em saber aceitar o que existe novo, mas num espírito de transição - não esquecendo algumas lições do passado. As sociedades a isso nos estimulam, e como tal, também incitam a que a responsabilidade pela própria saúde seja vista de forma diferente.
E como esta responsabilidade existe, igualmente temos o dever de exigir serviços de saúde com qualidade. Provavelmente a maioria dos cidadãos não imagina que esta exigência passa por eles, no sentido de construção de uma maior promoção da saúde e manutenção da mesma. E esta construção surge, não só de ótimas formas de gestão de administração de recursos, porém igualmente do incentivo que os profissionais da área poderão dar às próprias pessoas. E despertando nelas a responsabilidade de “tomar conta” de algo que é seu - sem grandes tumultos ou pressas, porque afinal, as mudanças custam a todos.
Continuo sem grandes respostas às perguntas inicialmente formuladas, pois vivemos numa comunidade tão heterogénea que seria um pouco complicada uma explicação que servisse, de forma total, a todos nós. Sei que essa diversidade poderá ajudar à construção e ao estímulo das novas responsabilidades, sendo o trajeto de apoio nos e com os Outros o início para enfrentar as novas mudanças. Com uma melhor saúde e projeção desta a nível das inter-relações sociais e comunitárias.
13 Junho 2025
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