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Emigração e imigração

De Auschwitz a Gaza

Emigração e imigração

Ideias

2025-06-20 às 06h00

Pedro Tinoco Fraga Pedro Tinoco Fraga

Mal comparando, a conversa da emigração/imigração lembra-me um pouco as loas que se tecem à final da taça de Portugal em futebol no estádio do Jamor !!! Costumo dizer que a esmagadora maioria das pessoas que diz que esse jogo é uma extraordinária festa nunca lá pôs os pés ou então entrou sempre para a Tribuna, pois se já tivesse andado no meio de um lixo enorme, WCs imundos, ausência de comida, cadeiras que não devem ser limpas desde a sua colocação há dezenas de anos, etc, etc, não classificaria “aquele espectáculo degradante” como uma festa. Na questão da imigração a esmagadora maioria das pessoas que opina, incluindo organizações partidárias, têm do fenómeno uma vaga ideia e limitam-se a seguir a onda da opinião mais orelhuda no momento ou seja, sem qualquer conhecimento de causa, a partir de um qualquer teclado em Avintes ou Odivelas.

Escrevo esta pequena reflexão a partir da extraordinária cidade de Maputo, onde convivo com centenas de moçambicanos e portugueses que aqui vivem e trabalham visando um futuro risonho. Esses portugueses que aqui vivem, na sua maioria jovens entre os 30 e os 50 anos, não pertencem já à geração de portugueses que esteve nestas paragens no período colonial e, mais do que isso, muitos deles não têm qualquer relação familiar com portugueses que aqui estiveram; pura e simplesmente escolheram este país à procura de melhorar a sua carreira profissional. Quando estou tanto em Angola e Moçambique, países onde possuo empresas, a minha sensação é a mesma... estamos aqui como investidores a criar riqueza para os países onde investimos e os portugueses que aqui trabalham têm esse objectivo bem como o de melhorar a vida das suas famílias. Algo perfeitamente legitimo e com certeza que nesses milhares de portugueses há pessoas honestas e desonestas, há pessoas trabalhadoras e menos trabalhadoras, há pessoas com formação académica de topo e outras com a “4.ª classe mal tirada” etc, etc.
Estive recentemente na França onde contactei com vários cidadãos portugueses aí residentes e mais uma vez percebi que estavam ali pois são úteis para esses países e a sua presença visa melhorar a vida das suas famílias. Muitos chegaram lá com pouco mais do que a roupa que traziam no corpo e... trabalharam e prosperaram sendo hoje cidadãos perfeitamente integrados nas suas comunidades.

Nestas geografias não encontrei um único português que não se lembrasse diariamente do seu país e muito poucos encontrei que não preferissem ter ficado em Portugal. Estão nesses países por uma opção de vida, por uma necessidade surgida num dado momento, de sair do rectângulo luso e buscar uma vida melhor.
É esta a razão principal da emigração/ imigração e não, ao contrário da ideia que parece fazer caminho, em que temos um cidadão que está algures por esse mundo e diz... bem, não me apetece trabalhar, vou é viver para Portugal pois como é um país tão rico como a Noruega lá serei um nababo que não precisa de fazer nada e tenho tudo pago pelo estado pois os impostos dos portugueses vão servir para me sustentar. Só a mais atroz ignorância e/ou a mais requintada desfaçatez intelectual é que associa a imigração para Portugal a qualquer factor menos claro que não pessoas que estão à procura de melhores condições de vida para si e para as suas famílias e que chegam a Portugal dispostos a suprir as necessidades de trabalho que as nossas empresas têm.

Assim como “os nossos” saíram e saem de Portugal à procura de melhores condições de vida, há outros que entram em Portugal à procura dessa mesma melhoria de vida e isto é um ciclo natural que apenas choca quem tem do mundo a visão de 24 de Abril de 1974, de um país isolado e isolacionista, de um país da minha alegre casinha tão modesta quanto eu e do Deus, Pátria e família dessa figura absolutamente ridícula que era o ditador Oliveira Salazar, essa personagem sinistra que provocou um atraso de décadas no nosso país, com a sua visão limitada, do português pobrezinho a trabalhar no campo e a portuguesa em casa agarrada aos tachos pronta para o desígnio da procriação.

O mundo felizmente mudou, a entrada na União Europeia mudou-nos como país e transformou-nos num país moderno que …. não precisa de ser salvo por vendedores de banha da cobra/ex-opinadores do chuto na bola que nunca lideraram absolutamente nada na vida quanto mais um país! Quem nunca liderou nada, quem nunca teve responsabilidade de tomar decisões numa empresa, num governo, quem nunca teve responsabilidades de pagar salários no final de cada um dos 14 meses... pode facilmente bolsar as opiniões mais ridículas e prometer amanhãs que cantam pedindo oportunidades para fazer algo para o qual a sua impreparação é total e absoluta.

Portugal precisa de estabilidade, as empresas precisam de estabilidade mas não podemos confundir estabilidade com modorra intelectual, com crescimento de pensamentos absolutamente primários verberando imigrantes num país de emigrantes e negando às empresas aquilo que elas mais precisam... pessoas. Durante anos era comum dizer-se que nas empresas precisamos é de clientes... hoje em dia, além dos clientes (que são a razão de viver de uma empresa) precisamos de pessoas para trabalhar e num país que se fecha não há pessoas, num país que permite que se vocifere contra quem chega de fora para trabalhar não há pessoas e é para mim estranho que haja cada vez mais gente que não percebe que o país só continua a crescer se tivermos pessoas para trabalhar e essas não surgem por geração espontânea pois a taxa de natalidade em Portugal é a que é!

Por isso este mundo que me é dado pelo facto de vir a África (onde tenho investimentos) e ao mesmo tempo viajar por vários países da Europa, América e Ásia onde há milhares de portugueses, permite-me ter uma visão informada (boa ou má) da vida de emigrante/imigrante e obriga-me a respeitar profundamente todos os imigrantes que entram em Portugal, esperando que todos os milhões de emigrantes portugueses pelo mundo sejam igualmente respeitados. E aqui a partir de África, pergunto-me se a reacção cada vez mais negativa que sinto no meu país em relação a imigrantes aconteceria se ao invés de muitos deles serem ainda mais morenos do que eu tivessem 1,90m de altura e viessem da Alemanha, Suécia e Noruega ou fossem polacos profundamente católicos ou islandeses tão educados que enchem um restaurante como clientes e o silêncio permanece quase total?

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