Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2022-06-07 às 06h00
A saúde é o bem mais precioso que cada ser humano tem. As pessoas que trabalham no âmbito da gestão poderão chamar-lhe ativo, indicador, valor, etc., mas a saúde vai muito para além daquilo que é o seu significado social e concetual, integrando o significado pessoal que cada pessoa lhe confere. Logo por aí, existe uma panóplia e imensidão de significados a descobrir, sendo a responsabilidade e as tarefas dos profissionais de saúde dificultadas por esta vastidão.
De facto, os cuidados de saúde têm vindo a ser transformados e remodelados de forma enérgica nos últimos cinquenta anos. Se bem que os cidadãos se têm tornado mais exigentes e mais atentos, o que pode alavancar o desenvolvimento científico da saúde, também é verdade que a formação dos profissionais de saúde tem melhorado, procurando os mesmos dar respostas cada vez mais eficientes e eficazes no âmbito da sua missão laboral. Aliás, na verdade, ainda que não se aprecie muito este facto, de cada vez que existe uma catástrofe ou uma tragédia, como exemplo uma pandemia, a saúde avança naquilo que é a sua matriz científica, obrigando aqueles que a investigam a dar respostas atempadas ao que o mundo necessita.
Porém o avanço da saúde não se realiza apenas à conta de experiências e laboratórios, e sim também daquilo que é a riqueza e a abundância das relações humanas. Sim, porque para se fazer saúde é necessário estabelecer uma relação com aquele Outro, que tantas vezes precisa de ajuda ou amparo nas situações mais difíceis. O profissional de saúde não existe sem relação, sem o estabelecimento de laços e vínculos, sem a identificação daquilo que é a própria fragilidade e vulnerabilidade desse Outro.
A saúde é feita de empatia, aquela «coisa» difícil, mas praticável e muito bela de se realizar. Empatia, essa habilidade para tentar alcançar, o melhor possível, aquilo que o Outro está a passar, a sentir, a experienciar. Empatia, essa espécie de capacidade que pode ajudar os profissionais de saúde a ser melhores pessoas e a entender aquilo que é necessário cumprir. De facto, a empatia é imprescindível para os cuidados de saúde, visto que pode funcionar como uma ferramenta para a melhoria e qualidade dos mesmos.
E se esta ferramenta é importante para os cuidados de saúde em fase aguda de doença, de igual forma é essencial para assistir e cuidar daqueles que padecem de problemas crónicos. E cronicidade é uma das consequências da situação pandémica que todos atravessámos, sendo os efeitos adversos da Covid um dos resultados perversos desta doença. Neste momento a ciência já se encontra a estudar aquilo que habitualmente é denominado de Long Covid, ou, talvez mais familiarmente em português, condição pós-Covid ou síndrome pós-Covid, e aquilo que se tem encontrado tem deixado os profissionais de saúde algo apreensivos.
Enquanto que a maioria das pessoas tem vindo a recuperar da Covid - de forma mais rápida ou mais lenta - existe uma pequena franja daqueles que ficaram infetados que tem apresentado sintomas a longo prazo. Estes sintomas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, passam por fadiga, falta de ar ou alguma dificuldade respiratória, alterações ao nível da memória, concentração e sono, «névoa» mental, tosse, dor no peito, dores musculares, anosmia, ageusia, alterações do humor, ansiedade ou até febre. Para ser confirmado o diagnóstico desta problemática é necessário que os sintomas perdurem durante pelo menos 2 meses após a infeção e que não exista qualquer problema de saúde prévio ou recente que os consiga explicar.
Não, a Covid não passa por todos da mesma forma, nem pode consistir apenas numa espécie de gripe. Como somos todos diferentes, também esta doença se manifesta em nós de acordo com a nossa condição de saúde e, por isso, talvez o acompanhamento de pessoas com Covid seja tão complexo e desafiador. Também para este problema é necessária a empatia por parte dos profissionais de saúde, especialmente para com aquelas pessoas que apresentam sintomas de Covid a longo prazo, que as podem condicionar até na vivência do quotidiano e na realização das tarefas diárias. Não, a Covid não irá desaparecer assim, sem mais nem menos, e é necessária uma insistência grande por parte da ciência, e por parte dos profissionais de saúde, para a compreender.
Todavia, não é apenas aos profissionais de saúde que deve ser exigida empatia, em particular naquilo que é agora a Long Covid, mas a todos nós, que vivemos em sociedade e lidamos uns com os outros. Há que ajudar e entender, há que compreender e promover o bem-estar: deve existir, entre todos, presencialidade e compromisso, auxílio e intenção de participar. Se somos todos diferentes, e um bem-haja por isso, então somos igualmente essenciais para os círculos onde nos inserimos, visto que todos podemos contribuir de forma muito própria e especial. Cabe a cada um de nós empenhar-se em fazer o melhor possível, pois, afinal, quiçá poderá ser connosco que irá surgir algum problema ou situação mais delicada - e aí também necessitaremos de ajuda.
15 Junho 2025
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