Liberdade para transformar Braga
Escreve quem sabe
2025-06-03 às 06h00
Durante décadas, a sociedade associou a profissão de enfermagem à figura feminina. A ideia de que cuidar, tratar e acolher são qualidades «naturais» das mulheres, perpetuou um estereótipo que ainda hoje limita não só a perceção da profissão, contudo também o papel dos homens no seu âmbito. Mas será que a enfermagem é, de facto, uma profissão exclusivamente feminina? E que impacto poderá ter esta visão, quiçá redutora? Não são os homens também capazes de cuidar, tratar e acolher?
Historicamente, a imagem dos enfermeiros – quase sempre uma imagem difundida numa mulher, de bata branca e sorriso acolhedor – foi moldada por figuras como Florence Nightingale, símbolo da enfermagem profissional.
Esta construção social da mulher enquanto cuidadora e protetora, reforçada culturalmente durante séculos, levou à influência da feminização da profissão e, consequentemente, à sua subvalorização. Profissões dominadas por mulheres continuam, infelizmente, a ser vistas habitualmente como menos prestigiadas ou menos exigentes, o que me parece profun- damente injusto e pouco adequado. Parece que essa tal imagem foi também sustentada no tempo pela própria sociedade, que se compõe de mulheres e de homens, não sendo espelho daquilo que é a heterogeneidade que embeleza o mundo em que vivemos.
Hoje, apesar de todos os avanços na igualdade de género, os números continuam a refletir esse desequilíbrio: a grande parte do corpo de enfermeiros em Portugal ainda é composta por mulheres. Quando um homem opta por seguir esta profissão é muitas vezes confrontado com olhares de desconfiança, comentários depreciativos ou suposições enviesadas. Frases como «Porque não escolheste medicina?» ou «Enfermeiro? Isso não é profissão de homem…» continuam a ecoar nos momentos em que os jovens decidem o seu futuro, sendo, infelizmente, prolongadas também nos espaços onde é desenvolvido o apoio à saúde.
Um jovem, quando decide ser enfermeiro, muitas vezes tem de lidar com o estigma associado à profissão e com o descrédito ainda existente de ser um homem numa profissão que é considerada de mulheres – quantos jovens não existirão que tenham desistido de seguir enfermagem por causa disso.
Estes estereótipos não são apenas ofensivos – são prejudiciais. Limitam a liberdade de escolha profissional, afastam potenciais talentos e alimentam preconcei- tos dentro e fora das unidades de saúde. Além disso, eternizam a ideia (errada) de que cuidar é uma tarefa menor, quando, na verdade, exige competências científicas, técnicas, inteligência emocional e um profundo sentido ético. É fundamental desmistificar a ideia de que os homens são menos capazes de cuidar. Existem, felizmente, muitos enfermeiros homens que desempenham funções com excelência, em todas as áreas do cuidado em saúde. Mais, a diversidade nas equipas de enfermagem traz riqueza, equilíbrio e múltiplas perspetivas no cuidado.
Quebrar estes estereótipos pode começar na educação. É necessário mostrar, desde cedo, que todas as profissões estão abertas a todos, independentemente do género. Por exemplo, campanhas e programas de valorização da enfermagem devem incluir rostos masculinos e femininos, de todas as idades e feitios. E, sobretudo, é urgente reformular a linguagem, os preconceitos e a forma como se olha para quem cuida.
A enfermagem não é uma «coisa de mulheres». É uma profissão de conhecimento, coragem e humanidade – e deve estar acessível a todos aqueles que a escolhem com sentido de responsabilidade e empenho, porque cuidar não tem género. Cuidar é, acima de tudo, um ato profundamente humano.
15 Junho 2025
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