Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2017-01-17 às 06h00
Investir na promoção da saúde, disponível para a população e com um raio de ação elevado, deveria ser a base do serviço nacional de saúde. A literacia em saúde, considerada como um determinante em saúde e assumida como um compromisso por todos os subscritores da Declaração de Shangai, celebrada em novembro de 2016, capacita os cidadãos para assuntos relacionados com saúde e contribui para ganhos em saúde. A escolaridade obrigatória apresenta um conjunto de conteúdos programáticos bem definidos e, interrogamo-nos se, em matéria de saúde, não poderia ser criado um plano de ação essencial. Algo que pudesse proteger, educar e preparar os jovens para o presente e para o futuro. Tal como se ouve na cultura popular “de pequenino se faz caminho” e, por isso, a sua implementação poderia ocorrer desde o início da idade escolar.
Em Portugal, a saúde escolar resulta da articulação das unidades de cuidados na comunidade com os agrupamentos escolares. Esta parceria, por vezes escassa em apoios devido aos contextos nacionais, centra-se na capacitação dos alunos e comunidade educativa a diversos níveis, desde questões de saúde mental, sono, educação postural, entre outros. Envolve também o ambiente escolar e saúde, condições de saúde da comunidade educativa, qualidade e inovação, formação e investigação em saúde escolar e as parcerias. Como é possível constatar, para ser possível abordar todos estes eixos e para os resultados serem satisfatórios, os profissionais de saúde precisam de estar mais horas nas escolas.
Existem inúmeros desafios societais na atualidade, muito diferentes de há dez anos atrás. O crescente aumento do excesso de peso e obesidade infantil, consumo de tabaco na adolescência e gravidez na adolescência, a serem sempre falados nos media, são apenas alguns exemplos. Será que transmitir (apenas) informações sobre saúde a crianças e adolescentes - por vezes por profissionais com poucos conhecimentos científicos nesta área - aumenta o nível de literacia em saúde das crianças e jovens? Fará falta um profissional de saúde, nomeadamente um enfermeiro, em meio escolar?
Estamos certos que ninguém se encontra alheio a estas questões. Tal como outros temas de elevado interesse nacional, também deveríamos ser mais rigorosos no que diz respeito à saúde. Será que os professores e pais dos alunos se interrogam com o que existe na atualidade nas escolas e sobre o que poderia existir? Deixem-nos partilhar convosco a realidade dos Estados Unidos da América. Desde 1902 que existem enfermeiros de saúde escolar nas escolas americanas. Nessa altura, verificou-se que a presença do enfermeiro na escola contribuía para um menor número de faltas dos alunos (e consequentemente dos familiares nos seus locais de trabalho) por motivos de doença, sendo que, quando os alunos faltavam também o faziam por menos tempo comparativamente com outras escolas sem enfermeiro. O acompanhamento em casos de doença crónica, como por exemplo nas crianças com asma, diminuía o seu agravamento e o número de internamentos. Ainda na atualidade deste país a presença do enfermeiro na escola é uma realidade.
Os enfermeiros durante a sua formação académica estudam e investigam, aprofundadamente, o desenvolvimento e crescimento da criança, os determinantes da saúde, a prevenção de doenças crónicas, a promoção e educação para a saúde, a comunicação, entre outras áreas e temáticas. Não temos dúvidas que são profissionais importantes no contexto escolar, podendo marcar a diferença e contribuir para a saúde e bem-estar do aluno e família. São diversas as investigações que tratam as implicações do envolvimento do enfermeiro na escola e sabe-se que os alunos apresentam, além das vantagens enunciadas anteriormente, melhores resultados escolares.
A própria presença do enfermeiro é por si só uma vantagem, pois a sua intervenção, além de incidir na capacitação, ambiente, condição de saúde e qualidade, também permite diminuir o número de deslocações para os hospitais por lesão da criança nas aulas ou nos momentos de convívio e lazer.
Perante esta situação, resta-nos avaliar a viabilidade económica da presença permanente do enfermeiro na escola, visto que, se esta não for realizada, dificilmente poderá ser colocado em prática tendo em conta o estado geral do país. Não é necessário ter uma visão minuciosa de um economista ou gestor sobre o assunto para perceber que a presença de um enfermeiro na escola é viável sob o ponto de vista financeiro.
Um estudo desenvolvido pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) evidenciou que cada euro gasto com a permanência de um enfermeiro na escola tinha um retorno de dois euros, verificado na assiduidade dos pais ao trabalho, tempo de trabalho dos professores e nos procedimentos efetuados na escola em detrimento de um centro hospitalar onde os gastos são mais elevados.
O facto de haver um acompanhamento profissional na escola permite uma maior flexibilidade dos pais quando os filhos estão doentes. Hoje em dia, num contexto socioeconómico complicado e lesivo para as famílias, a presença de um enfermeiro na escola pode ser encarada como uma oportunidade para todos nós.
Finalizando a nossa intervenção perguntamos: enfermeiros nas escolas portuguesas, para quando?
1 Francisco Oliveira - Estudante do Curso de Licenciatura em Enfermagem (3.º ano) da Escola Superior de Enfermagem da UM;
2 Rafaela Rosário - Escola Superior de Enfermagem da UM
15 Junho 2025
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